Plotino (205-270) – nosso site de Filosofia
Plotino (204-270 d. C, natural de Licópolis, Egito). Em Roma, Plotino fundou sua escola, na qual professou até o fim da vida.
Teve, como discípulos, além de Porfírio, que recompilou sua filosofia, em seis Enéadas, divididas em nove tratados cada uma, Amélio de Etrúria, o médico alexandrino Eustóquio, o poeta Zótico e alguns senadores e pessoas influentes na casa imperial romana.
Estudemos os temas principais da doutrina de Plotino:
a) com Plotino, e também com Proclo, o neoplatonismo empreende uma grande especulação final religiosa. Tudo vem de Deus por graus e tudo volve, por graus, a Ele. A unidade universal se estabelece na continuidade do círculo, que une o término com o princípio.
b) O princípio é Deus. Aceita Plotino sua transcendência. Deus é incognoscível e inefável para os homens, e coloca-O acima de todas as determinações que possamos conceber do ser, da essência, do pensamento, da vontade, etc. Podemos, de Deus, dizer o que não é, nunca o que é. Para falarmos de Deus, temos que usar nossos termos inferiores e compará-lo ao inferior, chamando-O o Um, Bem, Ato Puro, etc. Com isso não expressamos a Deus, mas a necessidade e a aspiração das coisas inferiores, que só podem subsistir pelo apoio da Unidade, do Bem, do Ato Puro. Deus coloca-se, assim, além de qualquer determinação.
c) É Deus a fonte de todos os seres. Embora não tenha necessidade de movimento e câmbio, emana o descender de uma série de outros seres numa procissão descendente. A emanação deriva desde a essência de Deus, enquanto ele permanece, em si, no ato de sua essência. Assim, o fogo que permanece, em si, fogo, emana o calor, ou o sol, que, permanecendo sol, em si, emana sua luz em todas as direções. Todas as coisas procedem de Deus, e sem Ele não se manteriam, mas Deus transcende a todas as coisas. É progressiva a descida dos seres. Assim como a luz vai se debilitando e obscurecendo, quanto mais se afasta de sua fonte, assim, afastando-se da fonte da Unidade e da Perfeição os seres vão aumentando em multiplicidade.
Três graus tem esse descer do Um: 1) Intelecto (vide noûs); 2) Alma universal; 3) Mundo corpóreo.
Os dois primeiros formam com o Um a Trindade divina das substâncias ou hipóstases, o terceiro é o último dos entes, fora do mundo inteligível e em contato com a matéria, que não é corporeidade, mas absoluto não–ser, e, por isso, mal absoluto.
d) O Intelecto é filho e Verbo do Um (Pai). O filho é, imagem do pai, porque este é inteligível puro, e o filho é, ao mesmo tempo, inteligível e intelecto, ser e pensamento, objeto e sujeito. Todos os inteligíveis estão reduzidos à unidade e compenetrados nela.
Como unidade, o Intelecto é imagem do Pai; como totalidade, é exemplar da terceira hipóstase divina, Alma do Mundo, no qual a totalidade, embora sem dividir-se em si, se distribui na multiplicidade.
e) O mundo corpóreo, último degrau da descida do ser, está possuído pela alma que não a possui como coisa sua. Todas as coisas de que se compõe o mundo derivam da unidade da Alma, unidade vivente. Da matéria provém a divisão, a discórdia, porque a matéria é o absoluto mal e não–ser, degrau último de todas as coisas, limite final da descida. Mas é, na matéria, que se inicia o retorno, porque o mundo corpóreo é vivente, e o verdadeiro ser do vivente é a alma. Se a alma perde a consciência da unidade universal nos seres individuais, cai no pecado do orgulho da individualidade, convertendo-se em prisioneira da matéria, que é a negação da unidade, condenando-se, assim, à série das transmigrações dos corpos. Mas, na expiação do pecado, a alma é purificada. Reconhecendo a vaidade da vida terrena, volve a penetrar em si mesma, e sente a exigência íntima da natureza divina. Assim, a passagem do pecado à virtude é a purificação, enquanto liberação da espiritualidade de qualquer sujeição do corpo. Com essa purificação, a alma inicia sua conversão a Deus, que se realiza por três caminhos ascendentes: contemplação da harmonia (música), da beleza espiritual (amor), da virtude inteligível (filosofia).
Mas acima desses três caminhos, há, ainda, outro superior, a suprema conversão, a união com Deus, a imanência da alma em Deus, que se processa pelo êxtase. Com esse retorno é fechado o círculo. [MFS]