neoplatonismo

O sistema filosófico que nasceu em Alexandria no século III d. C. e foi ensinado em diversas escolas até o século VI. “-— Provém de uma junção das influências racionais da Grécia (pitagóricos, Platão) e das influências místicas de origem hindu e judaica. Seu fundador é Ammonios Saccas; seu principal representante é Plotino: sua doutrina é uma teoria da “emanação” que inspirou profundamente a patrística cristã (doutrina dos Papas do século I ao V), o pensamento medieval e a cabala. As teorias do Verbo divino, da compreensão espiritual, que requerem não apenas inteligência mas também a participação da alma, a da vontade humana como desejo do bem e sobretudo a de “Um além do ser” (e não somente um além do conhecimento), fazem dessa doutrina um espiritualismo muito profundo, que inspiraria Santo Agostinho e marcaria toda a filosofia ocidental (dela procede, por exemplo, a concepção do espírito como “atividade”, que é fundamental em Kant, Fichte e em toda a filosofia reflexiva). [Larousse]


O neoplatonismo não é só como o nome indica, uma renovação da filosofia de Platão, mas é um sistema que, além do pensamento platônico, recolhe com grande vigor especulativo as restantes direções fundamentais da filosofia antiga (com exceção do epicurismo), bem como as ideias religiosas e místicas, incluindo as orientais. — Fundado por Amonio Saccas, o neoplatonismo foi pela primeira vez exposto por Platino. No cimo do seu sistema coloca Plotino o Uno, que se ergue por sobre todos os contrários. Uma vez que o ente existe só por sua unidade, o Uno é anterior ao ente. A própria denominação “o Uno” deve entender se de forma puramente negativa. Em face de toda a multiplicidade, o Uno é o ser primitivo, a perfeição suprema que, ao produzir aquela, não muda nem perde nada de sua plenitude. A produção do múltiplo a partir do Primeiro realiza-se mediante uma “progressão” (ou “processão”) de seres. Estes são: a Mente ou mundo inteligível, a Alma do mundo e a matéria. Como esta série é intemporal, o mundo, considerado como um todo, é eterno. O movimento descendente do universo, que procede do superior ao imperfeito, é ateleológico, ao passo que a tendência regressiva para o Primeiro é dominada por uma finalidade que cresce progressivamente, em conformidade cora a categoria ontológica.

A unidade do pensar e do ser constitui a essência da mente (noûs). Esta está voltada para o Uno que a produziu. Dele tem seu conteúdo, a saber: as ideias que, não obstante, formam na mente uma multiplicidade, um sistema. Sua elaboração leva às categorias e números e também à matéria inteligível como substrato de todas as ideias (formas). — Assim como o Uno produz o noûs, assim este produz a alma, como sua imagem imperfeita. Indivisível em si, pode, entanto, a alma penetrar no mundo tópico-temporal (por ela criado) e animá-lo, sem que todavia se divida a si mesma, senão dividindo apenas sua ação. Compete à sua natureza dar origem à matéria sensível. Esta não possui nada da natureza do Uno nem do Bem, não sendo portanto capaz de produzir qualquer coisa ulterior. Ela é trevas, sem ordem nem forma; é o princípio do mal. A alma, a que aludimos, é a alma do universo ou natureza. As almas individuais estão contidas nela e identificam-se com as ideias que a alma do universo recebe do noûs.

O destino da alma consiste em desviar-se do sensível e em voltar-se para o noûs e, por este, regressar ao Uno. Na vida presente isto só raras vezes é possível e por breves momentos. Todavia a alma já aqui deve pensar em tal retorno, pois que, do contrário, nem quando a morte chegar, estará em condições de o fazer, senão que deverá novamente unir-se a um corpo. — Visto a missão do homem consistir em tornar-se semelhante a Deus, as virtudes da vida social não bastam. Antes, trata-se de desligar a alma da união maculante com o corpo, mediante a purificação (katharsis) e de, pela vida no noûs (a theoria = conhecimento contemplativo), prepará-la para a união com o Uno no êxtase.

A doutrina de Plotino é panenteísmo. Mas em seu sistema há também lugar para o politeísmo, aspecto este que Porfírio e Jâmblico acentuaram mais ainda. Este ampliou o sistema plotiniano da tríplice “progressão” (ou “processão”), introduzindo ulteriores tríadas. De modo idêntico ao Jâmblico procede Proclo, que deu a última forma sistemática ao neoplatonismo. Segundo ele, o homem possui, como base para a união extática, uma potência anímica superior à razão: o “uno”. Juntamente com outros pensadores, atribui ele à alma, além do corpo material, um corpo etéreo ou luminoso incorruptível. — O neoplatonismo foi o último grande sistema da filosofia antiga. Influiu grandemente na filosofia patrística ( filosofia patrística ) e na mística cristã, persistindo seu influxo até na escolástica. — Brugger.


(in. Neo-Platonism; fr. Néo-platonisme; al. Neuplatonismus; it. Neoplatonismó).

Escola filosófica fundada em Alexandria por Amônio Saccas no séc. II d.C., cujos maiores representantes são Plotino, Jâmblico e Proclos. O neoplatonismo é uma escolástica, ou seja, a utilização da filosofia platônica (filtrada através do neopitagorismo, do platonismo médio e de Fílon) para a defesa de verdades religiosas reveladas ao homem ab antiquo e que podiam ser redescobertas na intimidade da consciência. Os fundamentos do neoplatonismo são os seguintes:

1) caráter de revelação da verdade, que, portanto, é de natureza religiosa e se manifesta nas instituições religiosas existentes e na reflexão do homem sobre si próprio;

2) caráter absoluto da transcendência divina: Deus, visto como o Bem, está além de qualquer determinação cognoscível e é julgado inefável;

3) teoria da emanação, ou seja, todas as coisas existentes derivam necessariamente de Deus e vão-se tornando cada vez menos perfeitas à medida que se afastam d’Ele; consequentemente o mundo inteligível (Deus, Intelecto e Alma do mundo) é distinto do mundo sensível (ou material), que é uma imagem ou manifestação do outro;

4) retorno do mundo a Deus através do homem e de sua progressiva interiorização, até o ponto do êxtase, que é a união com Deus.

No neoplatonismo costumam ser distinguidas as seguintes escolas: Siríaca, fundada por Jâmblico; de Pérgamo, à qual pertencem, entre outros, o imperador Juliano, chamado o Apóstata; de Atenas, cujo maior representante foi Proclos. Mas a influência das doutrinas fundamentais do neoplatonismo sobre muitas correntes do pensamento filosófico foram e continuam sendo profundas.

O “platonismo” do Renascimento na realidade é um neoplatonismo que repete, com algumas variações, as teses acima expostas. As variações que caracterizam o neoplatonismo renascentista (de Cusa, Pico della Mirandola e Ficino) são relativas à maior importância atribuída ao homem e à sua função no mundo, de acordo com o espírito geral do Renascimento . O neoplatonismo inglês, ao contrário, é uma forma de racionalismo religioso que floresceu na escola de Cambridge no séc. XVII (Cudworth, Moore, Whichcote, Smith, Culverwel): por um lado, opõe-se ao materialismo de Hobbes e, por outro, sustenta que as ideias fundamentais da religião foram impressas diretamente por Deus na razão e no intelecto do homem, e por isso precedem o conhecimento empírico das coisas naturais. Mas mesmo no neoplatonismo inglês são muitos os temas do Renascimento, especialmente de Ficino. [Abbagnano]