(gr. pyr; lat. ignis; in. Fire; fr. Feu, al. Fuer; it. Fuocó).
Substância que compõe o mundo, segundo Heráclito. Este considerava o fogo dotado de inteligência e causa primeira do governo do universo (Fr. 65, Diels). Parmênides, nos discursos “segundo a opinião”, assumia a dualidade fogo-trevas (equivalente à dualidade quente-frio) como princípio de explicação da aparência sensível (Fr. 8, Diels). Os estoicos identificaram o fogo, situado na extremidade do universo, com o éter, que constitui a primeira esfera imóvel e as esferas móveis dos céus (Diógenes Laércio, VII, 137). (Abbagnano)
CINCO ELEMENTOS — FOGO
Simbolismo
Mário Ferreira dos Santos: FOGO, ENQUANTO SÍMBOLO RELIGIOSO
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Jerônimo: DEUS É FOGO ABRASADOR
Les symboles bibliques : Lexique théologique — Léxico teológico de Maurice Cocagnac — FOGO NA BÍBLIA
René Guénon: O ELEMENTO FOGO
Ananda Coomaraswamy: FOGO E REENCARNAÇÃO; FOGO
François Chenique: O ELEMENTO FOGO
Pierre Gordon: A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE
Nos livros sagrados do Irã (especialmente no Bundahishn), a «luz soberana», Kavaem Qareno, constitui a substância sobrenatural e imortal das coisas. Temos aí uma perfeita definição do fogo transcendente, do tão puro Agni, cuja claridade dos astros e as chamas dos sacrifícios eram tidas como a condensação visível. É graças a este fogo divino que se estabeleceu a comunicação entre o universo espaço–temporal e o universo dinâmico. É neste fogo sacrossanto, de onde todo o cosmo procede, que a matéria vista como opaca e mecanizada deve finalmente se reabsorver: o que marcará a cessação do mundo, ou seja, o retorno ao pensamento puro, cuja matéria radiante forma o revestimento. — insistimos em várias ocasiões sobre estas noções essenciais.
A água deve, além do mais, sua virtude divinizante à presença, em seu seio, do fogo transcendente.
A criação do cosmo fenomenal graças ao fogo se encontra vigorosamente em relevo nas tradições nórdicas da jovem Edda (aquela do escaldo — bardo escandinavo — Snorre Sturlason); segundo estes surpreendentes relatos, são com efeito as centelhas sagradas partidas de Muspellsheim, outro nome da morada eterna da radiância, que vivificam o nada congelado de Niflheim; esta vivificação se opera no luz do ser e o nada; uma ilha surgiu deste buraco, e assim nasceu o gigante Ymir, em outros termos o primeiro Rei do Mundo. — No final do tempo humano, o Senhor do fogo (o super-homem) virá de Muspellsheim, e tudo se abrasará; tudo retornará ao estado radiante.
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 10
O fogo e a nuvem são, segundo o relato que proporciona o Êxodo, as duas luminárias que desde o firmamento celeste acompanharam aos israelitas quando saíram do Egito e empreenderam sua quarentena desértica com YHWH posto à frente: de “dia em coluna de nuvem para guiá-los e de noite em coluna de fogo para iluminá-los”. Isto quer dizer na fechada linguagem alegórica da antiga Escritura que o homem que vive em trevas de Deus — de noite — pode despertar-se a seu Deus graças à luz que o proporciona o resplendor de seu fogo que “nele mora”, o qual é conhecimento e espírito de verdade, e que sempre acompanha e ilumina quando o busca quem vê nele seu “tesouro” único. Depois, para quem já “vive de Dia” sobrevém a nuvem na qual há “que entrar”, habitar em sua sombre. De fato, o fogo e a nuvem são sempre os protagonistas do caminho do conhecimento e da unidade, em representação de Deus, em qualquer processo de teofania; mas o fogo do conhecimento de Deus é o mensageiro adiantado. Por isso diz o saltério que “Diante dele avança o fogo” (Sl 97,3) e agrega que (Deus) toma “às chamas por ministros” (Sl 104,4). Na primeira teofania de Moisés, no monte Sinai, “YHWH desceu sobre ele em forma de fogo” (Ex 19,8).
A identidade fogo = conhecimento fica bem esclarecida no primeiro Discurso que Moisés dirige a Israel. O povo, colocado ao pé da montanha enquanto esta ardia em chamas, ouviu durante a teofania o “rumor” das palavras de “YHWH”, o qual falava “em meio” do fogo. A aliança teofânica consistiu para eles no trabalho inicial de pôr em prática as dez Palavras escritas nas Tábuas de pedra; mas a Moisés, situado no alto do monte e adentrado na nuvem, se o permitiu perceber não só a voz, senão “algo mais” (Dt 1-4, especialmente Dt 4,9-14).
A voz de YHWH, segundo o salmista, “perfila labaredas” (Sl 29,7), para ferir a seus adversários, os quais são, já o sabemos, aqueles aos quais a Escritura chama os inimigos da alma. Por isso se atribui a esse fogo que Jesus traz sobre o mundo uma ação “devoradora” de tais inimigos[[Esta é a significação da condenação dos filhos de Arão (Lv 10,12).]] e por isso se diz: “Teu Deus é um fogo devorador” (Dt 4,24; Is 29,6). A “terra”, significa nesta passagem o hílico, a palha que deve ser devorada, arrasada, para remate de sua purificação, em oposição ao celeste, o grão, o homem pneumático que assim fica liberado de toda aderência impura. Dentro da mesma ideia se expressa o profeta Sofonias: “Pelo fogo de teu zelo a terra inteira será devorada” (Sof 1,18). Do que se fala em definitivo é da culminação do batismo que começa com a água de purgação e conclui com a consumação de todas as impurezas pelo fogo. Quanto ao que é puro como o grão desnudo de palha o assegura YHWH sua imunidade, segundo Isaías: “Se andas pelo fogo, não te queimarás” (Is 43,2).
René Guénon — A TEORIA HINDU DOS CINCO ELEMENTOS
ELEMENTOS — FOGO
El tercer elemento es têjas o el fuego, que se manifiesta a nuestros sentidos bajo dos aspectos principales, como luz y como calor; la cualidad que le pertenece en propiedad, como ya lo hemos dicho, es la visibilidad (manifestada en el color), y, a este respecto, es bajo su aspecto luminoso como el fuego debe ser considerado; esto es demasiado claro para que haya necesidad de más explicación, ya que es evidentemente por la luz sola que los cuerpos son vueltos visibles. Según Kânada, «la luz es coloreada, y es el principio de la coloración de los cuerpos»; el color es pues una propiedad característica de la luz: En la luz en ella misma, el color en cuestión es blanco y resplandeciente; en los diversos cuerpos, es variable, y uno puede distinguir entre sus modificaciones colores simples y colores mixtos o mezclados. Haremos notar que los pitagóricos, al decir de Plutarco, afirmaban igualmente que «los colores no son otra cosa que una reflexión de la luz, modificada de diferentes maneras»; es así que se estaría en un gran error si se quisiera ver en esto todavía un descubrimiento de la ciencia moderna. Por otra parte, bajo su aspecto calórico, el fuego es sensible al tacto, en el cual produce la impresión de la temperatura; el aire es neutro bajo este aspecto, pues que es anterior al fuego y ya que el calor es un aspecto de este; y, en cuanto al frío, es mirado como una propiedad característica del agua. Es así, que al respecto de la temperatura como en lo que concierne a la acción de las dos tendencias ascendente y descendente que ya hemos definido precedentemente, el fuego y el agua se oponen uno al otro, mientras que el aire se encuentra en un estado de equilibrio entre ambos elementos. Por lo demás, si uno considera que el frío aumenta la densidad de los cuerpos contrayéndolos, cuando es que el calor los dilata y los sutiliza, se comprenderá sin esfuerzo que la correlación del calor y del frío, con la del fuego y del agua respectivamente, se encuentra comprendida, a título de aplicación particular y de simple consecuencia, en la teoría general de los tres gunas y de su repartición en el conjunto del dominio elemental.