retorno

(gr. epistrophe; lat. conversia; in. Return; fr. Retour; al. Rückgang).

1. No neoplatonismo antigo, o movimento graças ao qual a alma percorre de volta o processo de emanação, reintegrando-se na sua origem (bem, causa, Deus, unidade) através da contemplação. Plotino dizia: “A purificação é necessária à união: a alma une-se ao Bem, voltando para ele. Mas então à conversão segue-se a purificação? Exatamente: o retorno acontece depois da purificação. O retorno, então, é a virtude da alma? Sim, é a virtude que do retorno resulta e deriva para a alma. E o que é o retorno? É a contemplação e a impressão que os objetos inteligíveis produzem na alma, do mesmo modo como a visão é produzida pelos objetos visíveis” (Enn., I, 2, 4). Proclos generalizava o conceito de retorno, atribuindo-o a todas as manifestações do ser, cada uma das quais efetuaria o retorno a seu modo. “Cada ser realiza seu retorno apenas em relação à substância ou também em relação à vida e ao conhecimento, visto que, ou recebeu da Causa apenas o ser, ou recebeu também a vida, ou recebeu também a faculdade cognitiva. Se é apenas, realiza um retorno à Substância; se vive, retoma à vida; se conhece, retorna ao Conhecimento. Com efeito, do mesmo modo como procedeu da Causa primeira, assim retorna para ela; e as medidas do retorno são determinadas pelas medidas da processão” (Jnst. theol., 39).

2. O Renascimento, ao retomar esta concepção generalizada de Proclos, considerou o retorno aos princípios como a única via de renovação radical da vida pessoal e social do homem. Pico della Mirandola unia o antigo conceito neoplatônico de retorno aos princípios com o novo princípio de via de renovação (De ente et uno, VII, Proem.). Maquiavel considerava a “redução aos princípios” a única via de renovação das comunidades humanas, evitando-se a decadência e a derrocada, porquanto todos os princípios contêm em si algo de bom, de que as coisas podem retirar vitalidade e força primitiva (Discursos, III, 1). E Campanella via o caminho da renovação religiosa no princípio que ele julgava estar expresso no salmo XXII: Quod reminiscentur et convertentur ad Dominum universifines terrae, cujas primeiras duas palavras ele usava como título do texto em que anunciava a renovação religiosa (Quod reminiscentur, 1615). Outrossim, a própria Reforma protestante obedecia à exigência de voltar aos princípios, remontando diretamente à fonte primitiva da religiosidade cristã, a Bíblia; por outro lado, a Contra-Reforma pretendeu reconduzir a Igreja à força expansionista que ela possuía em suas origens. Outra forma do mesmo princípio é a do retorno à natureza, considerada na maioria das vezes como princípio ou origem dos seres. Nesta forma, o retorno aos princípios é uma exigência frequente no pensamento dos séc. XVII e XVIII. [Abbagnano]