phronesis

φρόνησις: sabedoria, sabedoria prática, prudência, consciência situacional, circunvisão

1. Acreditou-se sempre que havia uma certa espécie de domínio intelectual na virtude, testemunha-o o comentário do cínico Antístenes (D. L. VI, 13) e de Platão, Republica VI, 505b onde provavelmente se referem os cínicos identificando o bem com a phronesis. Para Sócrates esta intuição intelectual dos valores éticos transcendentes torna-se sinônimo de virtude (arete), ver Xenofonte, Mem. III, 9, 4; Platão, Górg. 460b; Ménon 88a-89a (mas confrontar o Fédon 69a-b, onde é apenas um ingrediente da verdadeira arete); Aristóteles, Ethica Nichomacos 1144b.

2. Com as preocupações mais metafísicas de Platão a phronesis começa a perder o seu colorido prático e ético até significar a contemplação intelectual dos eide (ver Republica 505a ss.), e no Filebo A. vulgarmente usada como sinônimo de noûs como o tipo mais elevado de conhecimento (22a, 22d, 66b; ver hedone), uso bastante comum entre os pré-socráticos nas suas discussões das semelhanças e diferenças entre o conhecimento sensível e o pensamento (ver aisthesis, noesis). Inicialmente no Protrepticus (frg. 52) Aristóteles ainda sustenta a posição platônica, mas na Ethica Nichomacos VI, 1140a-b a phronesis é mais uma vez restringida à esfera moral, enquanto a face da theoria da phronesis platônica é tratada como (teorética) sabedoria (sophia), ver ibid. 1143b-1145a. Apesar do seu hedonismo a phronesis ainda desempenha um papel central em Epicuro (D. L. X, 131), bem como no estoicismo (Plutarco, De vit. mor. 2; SVF III, 256), e em Plotino (Eneadas I, 2, 7; 1,6,6).

Sobre a localização da phronesis, ver kardia. (FEPeters)


phrónesis (he): inteligência.

Palavra de diversos sentidos: sabedoria, em Bias (D.L., I, 88) e em Cleóbulo (Sentenças, 21); pensamento em Heráclito (fr. 2); inteligência divina, em Sócrates (Xenofonte, Mem., I,V, 17); pensamento puro, em Platão (Fédon, 68b, 79d etc); discernimento moral (“prudência”) em Aristóteles (Et. Nic, VI,V; Pol., IV, IV, 11). [Gobry]


O nosso percurso visa, por último, o isolamento do ponto de vista da consciência situacional (φρόνησις [phronesis]), enquanto a apercepção intuitiva (αἴσθησις [aisthesis]) do momento oportuno (καιρός [kairos]) e da condição de possibilidade de fazer a escolha antecipada (προαίρεσις [proairesis]), que é decisiva para a resolução de uma determinada situação humana (πρᾶξις [praxis]) identificada como uma movimentação (κίνησις [kinesis]) em direção à completude (τελείωσις [teleiosis]) e à possibilidade de passar bem (εὐπραξία [eupraxia]). A excelência situacional (φρόνησις) corresponde, portanto, à perspectiva que põe a descoberto a possibilidade da excelência (ἀρετή [arete]) da situação humana (πρᾶξις). [CaeiroArete:19]


VIDE: ENKRATEIA, ANDREIA, SOPHROSYNE, HAGNEIA, SYNDERESIS

EVANGELHO DE JESUS:

phronesisE irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência (phronesis) dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto. (Lc 1:17)

Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, Que ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência (phronesis); (Efe 1:7-8)

phronema
Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas (phronema) da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação (phronema) da carne é morte; mas a inclinação (phronema) do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. (Rom 8:5-7)

phroneo
Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes (phroneo) as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens. (Mt 16:23)

phronimos
Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente (phronimos), que edificou a sua casa sobre a rocha; (Mt 7:24) — vide CASA SOBRE ROCHA


António Caeiro: A ARETE COMO POSSIBILIDADE EXTREMA DO HUMANO

O nosso percurso visa o isolamento do ponto de vista da consciência situacional (phronesis), enquanto a apercepção intuitiva (aisthesis) do momento oportuno (kairos) e da condição de possibilidade de fazer a escolha antecipada (proairesis), que é decisiva para a resolução de uma determinada situação humana (praxis) identificada como uma movimentação (kinesis) em direção à completude (teleiosis) e à possibilidade de passar bem (eupraxia). A excelência situacional (phronesis) corresponde, portanto, à perspectiva que põe a descoberto a possibilidade da excelência (arete) da situação humana (praxis).

Citações dos Padres — em nosso site francês

Isidoro de Sevilha: SANTO ISIDORO DE SEVILHA ETIMOLOGIAS

Prudente (prudens), como se disséssemos que alguém vê adiante (porro videns).

Raimundo Lulio: PRUDENTIA


Maurice Nicoll: Mordomo Infiel

Se dice del mayordomo que obró discretamente. La versión griega emplea la palabra phronimos, Y es importante que se la entienda. Significa poseer presencia de ánimo, ser avisado, tener discernimiento práctico y ser rápido para obrar inteligentemente. En la parábola de las diez vírgenes se expresa que cinco eran phronimoi (la traducción castellana dice discretas) y cinco eran morai. La palabra phronimos se da muy a menudo en los Evangelios, y siempre con un sentido esencialmente importante. En Mateo, XXIV, se emplea aludiendo a un siervo (en la versión castellana aparece el término ‘prudente’) que ha de velar, mantenerse despierto, para que no roben la casa de su señor. ‘¿Quién pues es el siervo fiel y prudente al cual puso su señor sobre su familia… ?, etc.’

Phronimos es una palabra que se usa en los Evangelios de un modo muy especial, y que se refiere a una cualidad que las gentes que quieren seguir la enseñanza de Cristo han de tener. Se destaca esto con claridad en la parábola del hombre que edifica su casa sobre la peña y el que la edifica sobre arena. Jesús dice (Mateo, VII, 24): “Cualquiera pues que me oye estas palabras y las hace, le compararé a un hombre prudente (en griego, phronimos), que edificó su casa sobre la peña y descendió la lluvia y vinieron rios, y soplaron vientos y combatieron aquella casa y no cayó…’ Aquí phronimos es prudente y en la parábola del mayordomo infiel es discreto. En el original griego ambos son phronimos. Con este y otros muchos ejemplos que podrían atarse nos es posible ver que se trata de algo técnico y de la mayor importancia en el lenguaje que Jesús emplea. Indica una elevada cualidad en el mayordomo, y que se hace manifiesta en el momento preciso y de un modo cierto, correcto. El mayordomo obró de un modo conscientemente inteligente. Obró de una manera consciente.

Muchos comentaristas afirman que la palabra sólo quiere decir prudente, pero significa muchísimo más.