emanação

(gr. proeinai, aporrein; lat. emanatio; in. Emanation; fr. Émanation; al. Emanation; it. Emanazione).

Uma forma de causação com as seguintes características: 1) necessidade do efeito em relação à causa ou força que o produz; 2) continuidade entre causa e efeito, pela qual o efeito continua a ser parte de sua causa; 3) inferioridade de valor do efeito em relação à causa; 4) eternidade da relação entre causa emanente e efeito emanado. As características 1), 2) e 4) diferenciam a emanação da criação, ao passo que a característica 3) é comum à emanação e à criação. As características 2), 3) e 4) diferenciam a emanação das formas comuns da causação.

O conceito de emanação foi elaborado pela primeira vez por Plotino: “Todos os seres, enquanto permanecem, produzem necessariamente em torno de si e de sua substância uma realidade que tende para o exterior e provém de sua atualidade presente. Essa realidade é como uma imagem dos arquétipos dos quais nasceu: é assim que do fogo nasce o calor e que a neve não retêm em si o frio. Mas são principalmente os objetos perfumados que provam isso, pois, enquanto existem, algo emana deles e em torno deles, uma realidade de que usufruem todos os que estão próximos. Além disso, todos os seres que chegaram à perfeição geram; por isso, o ser que é sempre perfeito gera sempre: gera um ser eterno, mas inferior a ele” (Enn., V, 1, 6). Esse trecho de Plotino contém a noção clássica de emanação, que permaneceu inalterada na história da filosofia. De fato, apresenta-se com as mesmas características em Proclo (Instituições teol, pp. 27 ss.), em Scotus Erigena (De divis. nat. III, 17) e em todos os que utilizam essa noção. Em geral, caracteriza a relação que o panteísmo antigo (antes de Spinoza) estabelece entre Deus como força ou princípio animador do mundo e as coisas ou os seres do mundo. Emanatista é, p. ex., a relação entre o artífice interno, de que fala G. Bruno, e as coisas naturais, que são manifestações suas, necessárias e eternas (Dela causa, I). Mas não é emanatista, embora conserve algumas características da emanação (a 1, a 2 e a 4), a relação que Spinoza estabelece entre Deus ou a Natureza e as coisas do mundo: relações por ele identificadas como aquelas graças às quais “da natureza do triângulo resulta que a soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois retos”, ou seja, com necessidade geométrica (Et., I, 17. scol.); que é, de resto, uma forma de causação ordinária (v. causalidade). (Abbagnano)


Em diversas doutrinas e especialmente no neoplatonismo, a emanação é um processo no qual o superior produz o inferior pela sua própria superabundância sem que o primeiro perca nada nesse processo, como acontece – metaforicamente – no ato da difusão da luz; mas, ao mesmo tempo, há no processo de emanação um processo de degradação, pois do superior para o inferior existe a relação do perfeito para o imperfeito, do existente para o menos existente. A emanação é pois distinta da criação, que produz algo do nada; na emanação do princípio supremo não há, em contrapartida, criação do nada, mas autodesenvolvimento sem perda do ser, que se manifesta. O emanado tende, como diz Plotino, a identificar-se com o ser do qual emana, mais com o seu modelo que com o seu criador. Daí certos limites intransponíveis entre o neoplatonismo e o cristianismo, que sublinhava a criação do mundo a partir do nada e, portanto, tinha de negar o processo de emanação unido à ideia de uma eternidade do mundo. Essa contraposição deve entender-se sobretudo em função ou não introdução do tempo: se no neoplatonismo o tempo não é, longe disso, negado, acaba por reduzir-se e concentrar-se na unidade originária do modelo; no cristianismo, em contrapartida, o tempo é essencial, porque o processo do mundo não é simples desenvolvimento, mas drama essencial. A emanação suprime qualquer peripécia – entendida como aquilo que não está forçosamente determinado e pode decidir no momento a salvação ou condenação da alma. O processo dramático, em contrapartida, compõe-se precisamente de peripécias e de situações nas quais pode intervir não só a alma, mas todo o universo. Por isso, no processo dramático, o tempo atua verdadeiramente e torna-se decisivo.


COSMOLOGIA — EMANAÇÃO


René Guénon: CRIAÇÃO E MANIFESTAÇÃO
Dado que hemos sido conducido a hablar de panteísmo, aprovecharemos de ello para hacer seguidamente una observación que tiene aquí una cierta importancia, a propósito de un término que se tiene precisamente el hábito de asociar a las concepciones panteístas: ese término es el de «emanación», que algunos, siempre por las mismas razones y a consecuencia de las mismas confusiones, quieren emplear para designar la manifestación cuando la misma no es presentada bajo el aspecto de creación. Ahora bien, en tanto que se trate al menos de doctrinas Tradicionales y ortodoxas, ese término debe ser absolutamente descartado, no solo a causa de esta asociación enojosa (aunque la misma esté por lo demás más o menos justificada en el fondo, lo que actualmente no nos interesa), sino sobre todo porque, en sí mismo y por su significación etimológica, no expresa verdaderamente nada más que una imposibilidad pura y simple. En efecto, la idea de «emanación» es propiamente la de una «salida»; pero la manifestación de ningún modo debe ser considerada así, ya que nada puede realmente salir del Principio; si algo saliera de él, el Principio, desde entonces, no podría ser más Infinito, y se encontraría limitado por el hecho mismo de la manifestación; la verdad es que, fuera del Principio, no hay y no puede haber más que la nada. Si se quiere considerar inclusive la «emanación», no en relación al Principio supremo e infinito, sino solo en relación al Ser, principio inmediato de la manifestación, el término en cuestión daría todavía lugar a una objeción, que por ser otra que la precedente, no es menos decisiva: si los seres salieran del Ser para manifestarse, no podría decirse que son realmente seres, y estarían propiamente desprovistos de toda existencia, pues la existencia, bajo cualquier modo que sea, no puede ser otra cosa que una participación del Ser; esta consecuencia, además de que es visiblemente absurda en sí misma como en el otro caso, es contradictoria con la idea misma de manifestación.


Filosofia
Plotino: Excertos de Reinholdo Aloysio Ullmann, PLOTINO: UM ESTUDO DAS ENÉADAS

O Uno primigênio (Ur-Eine) (hen) produziu o Noûs e o múltiplo por emanação (aporroia). Nas Enéadas, encontramos também as palavras eklampsis e eklapsis, do verbo eklampein, traduzido, às vezes, por emanar. Porém, stricto sensu, significa “espargir luz”, “irradiar luminosidade”. Plotino emprega esses termos em sentido figurativo, como também o faz com o verbo aporrein e o substantivo proodos. Logo, não se pode dizer que Plotino é emanatista em sentido panteísta. Claramente ele afirma que “a causa não é a mesma coisa que o causado” (En. V, 9, 6).

O termo aporroia (emanatio) não deve sua origem ao neoplatonismo, pois ele já se encontra em Empédocles, conforme o fragmento B89 de DIELS/KRANZ (Die Fragmente der Vorsokratiker). Também no gnosticismo a aporroia assume grande momento: se este mundo resulta da emanação de Deus, então está superado o abismo intransponível entre Deus e o mundo. Típico da emanação do gnosticismo é que fica salvaguardada a essência do emanante (des Aussendenden), mas verifica-se uma diminuição quantitativa. Por fim, vale recordar que MARCO AURÉLIO, em Pensées pour moi-même, escreve: “(…) il faut que tu sentes (…) de quel être tu es une émanation” (Livre II, 4, 2).
O que se entende por emanatismo? “(…) nach dem Emanatismus gehen Dinge (teils unmittelbar, teils mittelbar) aus Gottes eigener Substanz hervor, und zwar notwendig, nicht auf Grund des göttlichen Willens” (LEXIKON FÜR THEOLOGIE UND KIRCHE, 2. Auflage (Freiburg, 1959), III Band, col. 841). Evidentemente, Plotino não se enquadra nessa concepção panteísta, pois o licopolitano é panenteísta. “Giacché l’Uno, inquanto Sorgente, è ad un tempo in tutto e al di sopra di tutto, il termine storicamente gravato di ‘emanazione’, associato sotto molti aspetti a ‘panteismo’, non corrisponde — nonostante l’analogia linguística — all’intenzione di Plotino” (BEIERWALTES, Werner, Plotino — un cammino di liberazione verso Vinteriorità, lo Spirito e l’Uno, 2. ed. (Milano, 1993), p. 42-43).