(in. Pantheism; fr. Pantheisme; al. Pantheismus; it. Panteísmo).
O termo panteísta foi utilizado pela primeira vez por J. Toland (Socianimism Truly Stated, 1705); o primeiro a empregar o termo panteísmo foi seu adversário Fay (1709). É a doutrina segundo a qual Deus é a natureza do mundo identificando a causalidade divina com a causalidade natural. Uma das formas de panteísmo humanista é a chamada “teologia sem Deus”. V. morte de Deus. (Abbagnano)
A doutrina segundo a qual tudo está em Deus; particularmente, doutrina em que Deus é identificado ao mundo. — Foi a doutrina dos estoicos (para os quais Deus é a força vital imanente ao mundo), de Spinoza (cujo célebre princípio: Deus ou natureza, identifica Deus e a natureza), de Hegel (que descreve a realização de Deus, não somente na história humana, mas também na história “dialética da natureza”). Todo o romantismo filosófico do fim do século XVIII e do início do século XIX na Alemanha (representado por Novalis, Schlegel, Jacobi, Schelling e toda a filosofia da natureza) inspirou-se profundamente no panteísmo. A teologia cristã (ver, por exemplo, a condenação do “ateísmo” de Spinoza) identificou curiosamente o panteísmo com o ateísmo, porque esse recusa a ideia de um Deus pessoal. O panteísmo é uma concepção da divindade, ainda que só evoque uma força impessoal, presente em toda a parte no mundo e em nós. (V. teísmo.) (Larousse)
Segundo o panteísmo existe só uma única substância ou natureza, a saber: o Ser por si existente, absoluto, eterno, infinito e impessoal. Este é concebido de diversas maneiras: como vida (Bergson), como substância imutável (Spinoza), como ser abstrato indeterminado (Hegel), como absoluto (Fichte), como vontade cega (Schopenhauer), como ideia e vontade ao mesmo tempo (Ed. von Hartmann). — As coisas, incluindo os homens, não são substâncias independentes, mas só determinações ou modos (modi) de manifestação do Absoluto. Quando o homem se conhece, na verdade é Deus, que se conhece a si mesmo. As coisas, consideradas empiricamente, diferem umas das outras; mas em sua essência profunda, metafísica, identificam-se entre si e com Deus (teoria do Todo Uno). Deus, enquanto princípio produtor das coisas, é a natura naturans; estas são a natura naturata. Como todas as coisas estão em Deus e na vida interior divina só há necessidade, fica excluída toda liberdade de escolha, tanto em Deus como nas criaturas.
Formas principais do panteísmo: a) relativamente à identidade entre Deus e as coisas empíricas, distinguimos o panteísmo imanentista (monismo), que dilui completamente Deus nas coisas e assim se equipara ao crasso ateísmo materialista (Ostwald, Haeckel, Taine); o panteísmo transcendente (místico) que vê o divino só no mais íntimo das coisas, sobretudo na alma, de sorte que a criatura só se diviniza suprimindo o envoltório sensível (panteísmo hindu da filosofia do vedanta, Plotino, Escoto Eriúgena); e o panteísmo imanente-transcendente, segundo o qual Deus realiza-se e manifesta-se nas coisas (Spinoza, idealismo alemão, Goethe, Schleiermacher, Eucken). Deve incluir-se aqui também o pampsiquismo, que considera o Todo animado por uma alma ou razão do mundo. Assim procura o panteísmo biológico explicar a finalidade interna e a hétero-finalidade próprias dos organismos. — b) Do ponto de vista da origem das coisas, importa distinguir: o panteísmo emanatista, que as faz proceder do Absoluto inalterado (neoplatonismo); o panteísmo evolucionista, segundo o qual Deus realiza-se a si mesmo mediante o devir do universo e chega à autoconsciência (Fichte, Shelling, Hegel, Gentile, Croce); e, por último, o panteísmo estático, que deixa simplesmente de lado o problema da origem das coisas (Spinoza). — c) Do ponto de vista epistemológico, diferenciam-se o panteísmo realista, que atribui às coisas e à consciência individual um ser independente do pensamento divino (Spinoza, Ed. von Hartmann); e o panteísmo idealista, para o qual todas as coisas são somente pensamento do Absoluto. Temos ainda o panlogismo de Hegel, por exemplo, no qual o pensar e o ser se identificam. — d) Segundo se atribua a primazia a Deus ou ao mundo, temos o panteísmo em sentido estrito, que dilui Deus no universo, e o panenteísmo, que vê no mundo um puro modo de manifestação de Deus (o qual corresponde mais ou menos aos panteísmos antes mencionados: transcendente e imanente-transcendente). Aparentada com esta é a distinção entre panteísmo e teopanismo: segundo o primeiro, Deus subordina-se ao Todo; ao invés, para o segundo o Todo, subordina-se a Deus.
Refutação do panteísmo: antes de mais nada, o panteísmo incorre em contradições internas, quando introduz necessariamente Deus, imutável e simples, na mudança e na pluralidade do mundo; pois as determinações e modos de manifestação afetam também de maneira necessária o fundamento ontológico do mesmo mundo. — Suprimindo a liberdade, tira-se ao homem a responsabilidade, e fica aniquilada a diferença entre o bem e o mal. Esta doutrina, como também a negação da imortalidade pessoal, minam as bases da moral; e a equiparação entre Deus e o homem destrói os fundamentos essenciais da religião. — Finalmente, o panteísmo contradiz nossa consciência, pois que, se não fôssemos substâncias independentes, nunca poderíamos ter consciência do próprio eu. — Rast. (Brugger)
Tomado, de um modo geral, como uma ideologia filosófica e, especialmente, como uma “concepção do mundo” por meio da qual filiar-se certas tendências filosóficas, pode chamar-se panteísmo à doutrina que, confrontando-se com os dois termos Deus e mundo, procede à sua identificação. O panteísmo é, neste sentido, uma forma de monismo, ou, pelo menos, de certos tipos de monismo. O panteísmo apresenta diversas variantes:
Por um lado, pode conceber-se Deus como a única realidade verdadeira, à qual se reduz o mundo, o qual é concebido então como manifestação, desenvolvimento, emanação, processo, etc, de Deus – como uma teofania.. Este panteísmo chama-se “panteísmo acósmico” ou simplesmente acosmismo. Por outro lado, pode conceber-se o mundo como a única realidade verdadeira, à qual se reduz Deus, o qual costuma então ser concebido como a unidade do mundo, como o princípio (geralmente orgânico) da natureza, como o fim da natureza, como a auto-consciência do mundo, etc. Esse panteísmo chama-se “panteísmo ateu” ou “panteísmo ateísta”. Em ambos os casos, o panteísmo tende à afirmação de que não há nenhuma realidade transcendente e de que tudo quanto há é imanente. Além disso, tende a defender que o princípio do mundo não é uma pessoa, mas algo de natureza impessoal. (Ferrater)
RELIGIÃO — PANTEÍSMO
El panteísmo, que suele atribuirse a todas las doctrinas metafísicas del Oriente y algunas del Occidente, en realidad no existe sino en ciertos filósofos europeos y algunos orientales influidos por el pensamiento occidental del siglo XIX. El panteísmo proviene de la misma tendencia mental que primero desembocó en el naturalismo y más tarde en el materialismo. El panteísmo sólo concibe la relación entre el Principio divino y las cosas desde el único aspecto de una continuidad existencial, error que se rechaza de modo explícito por parte de cualquier doctrina tradicional: si hubiese una continuidad en virtud de la cual Dios y el Universo manifestado se pudiesen comparar como una rama se compara con el tronco del que ha salido, esta continuidad —o lo que viene a ser lo mismo: esta substancia común a los dos términos— estaría o bien determinada por un principio superior que la diferencie, o ella misma sería superior a los dos términos que, en cierto modo, enlaza y engloba; por consiguiente, Dios no sería Dios. Ahora bien, se puede decir que Dios mismo es esta continuidad —o esta Unidad—, pero en ese caso no se concibe fuera de Él mismo, de forma que Dios es realmente incomparable, distinto de cualquier objeto manifestado, sin que, a pesar de ello, nada pueda situarse «fuera de» o «al lado de» Él. «Nadie Le aprehende, salvo Él mismo. Nadie Le conoce, salvo Él mismo. Él se conoce por Sí mismo
Cualquier otro que no fuese El no puede aprehenderle. Su impenetrable velo es su propia Unicidad. Cualquier otro que no fuese Él no le puede disimular. Su velo es Su existencia misma. Está cubierto por su Unicidad de una manera inexplicable. Cualquier otro que no fuese Él no Le ve: Ningún profeta enviado, ningún santo perfecto, ningún ángel próximo a Dios. Su profeta es Él mismo. Su mensajero es Él.
{QUOTE()}Su misiva es Él. Su palabra es Él. Él ha mandado su ipseidad por Sí mismo, desde Él mismo hacia Sí mismo, sin otro intermediario o causalidad que Él mismo
Cualquier otro que no fuese El no tiene existencia y no puede, pues, aniquilarse
(Muhyi-l-Din ibn ‘Arabi, «Tratado de la Unidad» (Risalat al-ahadiyya).{QUOTE}
(Burckhardt)
Toda coisa é Deus e o sábio vê a Face Divina em toda coisa, — sob relações a princípio muito diferentes — ou, mais exatamente, «através» de toda coisa. Esta precisão se impõe a fim de que ninguém seja tentado a ver panteísmo em uma concepção que dele está tão distante quanto possível. O erro panteísta provém da incapacidade de ver Deus nas aparências, donde a confusão, cúmulo de todo ateu ao mesmo tempo que idólatra, entre o mundo e Deus; isto quer dizer que o panteísmo não consiste em nada além que um erro de admitir uma identidade material e não essencial entre o Princípio e a manifestação. A ideia da «existência de Deus», embora tenha uma certa legitimidade do ponto de vista puramente humano pelo qual «existência» é sinônimo de «realidade», não é no entanto estranha à gênese da concepção panteísta, neste sentido que a «existência de Deus» é certamente uma primeira etapa para a «divindade disto que existe». Se parecemos, nós também, atribuir ao criado um aspecto divino, é por conseguinte de um amaneira totalmente diferente e em um sentido puramente metafísico que nada tem de material nem de quantitativo. (Schuon O OLHO DO CORAÇÃO)
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] en realidad, el panteísmo consiste en admitir una continuidad entre lo Infinito y lo finito, continuidad que sólo se puede concebir si se admite de antemano una identidad substancial entre el Principio ontológico—que es el punto fundamental para cualquier Teísmo— y el orden manifestado, concepción que presupone una idea substancial y por tanto falsa del Ser, o que se confunda la identidad esencial de la manifestación del Ser con una identidad substancial. En esto y nada más es en lo que consiste el panteísmo; pero parece que algunas inteligencias sean refractarias, sin remedio, a una verdad tan sencilla, a menos que alguna pasión o interés les lance a no prescindir de un instrumento de polémica tan cómodo como es el término de «panteísmo», lo que permite infundir una sospecha genérica sobre algunas doctrinas que se estiman molestas, sin que haya que tomarse el trabajo de examinarlas en sí mismas. No obstante, al afirmar sin cesar la existencia de Dios, los que creen que deben protegerla contra un panteísmo inexistente, demuestran que su concepción ni siquiera es propiamente teísta, puesto que no alcanza al Ser, sino que se detiene en la Existencia y más particularmente en el aspecto existencial de ésta; pues su aspecto puramente esencial la reduciría de nuevo al Ser.
Sin embargo, incluso si la idea de Dios no fuera más que una concepción de la substancia universal (materia prima) y el Principio ontológico estuviese por ello fuera de discusión, el reproche de panteísmo estaría también injustificado, al permanecer siempre la materia prima trascendente y virgen respecto a sus producciones. Si Dios fuese concebido como la Unidad primordial, es decir, como la esencia pura, nada podría serle substancialmente idéntico; pero al calificar de panteísmo la concepción de la identidad esencial, se niega al mismo tiempo la relatividad de las cosas y se les atribuye una realidad autónoma en relación con el Ser o la Existencia, como si pudiese haber dos realidades esencialmente distintas, o dos Unidades o dos Unicidades
». (De l’Unité transcendante des Religions, capítulo: «Transcendance et universalité de l’ésotérisme». E. Gallimard, París, 1948)
(Guénon)
( … ) aquellos cuyo horizonte intelectual no va más allá de las concepciones filosóficas occidentales se imaginan de ordinario que, allí donde no es cuestión de creación, y donde es manifiesto, por otra parte, que ningún asunto hay con teorías materialistas, no puede haber más que «panteísmo». Ahora bien, se sabe cuan frecuentemente se emplea este término disparatadamente en nuestra época; representa para unos un verdadero espanto, hasta tal punto que se creen dispensados de examinar seriamente aquello a lo que se han apresurado a aplicar dicho término (y el uso tan corriente de la expresión «caer en el panteísmo» es bien característico a este respecto), mientras que, probablemente a causa de eso mismo más que por cualquier otro motivo, los otros le reivindican de buena gana y están dispuestos a hacerse del mismo como una especie de bandera. Está pues bastante claro que lo que acabamos de decir se vincula estrechamente, en el pensamiento de unos y otros, a la imputación de «panteísmo» dirigida comúnmente a las mismas doctrinas orientales, imputación de la cual hemos mostrado frecuentemente la entera falsedad, inclusive la absurdidad (puesto que el panteísmo es en realidad una teoría esencialmente antimetafísica), como para que sea inútil volver a ello todavía una vez más. (Guénon, CRIAÇÃO E MANIFESTAÇÃO)
O panteísmo é mais comumente um predicado de uma dada doutrina meramente por imputação, seja com intenção inconscientemente desonesta, seja pelo uso costumeiro perpetuado sem crítica. Em qualquer caso, o observador supostamente imparcial deveria considerar a doutrina em si, e não o que é dito dela por críticos hostis. Sobre a impropriedade geral da palavra panteísmo em relação ao Vedanta, veja Lacombe, Avant-propos do livro Les Philosophies Indiennes, de René Grousset (p. xiv, nota 1) e Whitby, prefácio do livro Man and his Becoming according to the Vedanta, 1945, p. ix. (Coomaraswamy, Da pertinência da filosofia)