(lat. Theophania; in. Theophany; fr. Théophanie; al. Theophanie; it. Teofanià).
Esse termo, que significa “visão de Deus”, foi usado por Scotus Erigena (séc. IX) para indicar o mundo como manifestação de Deus. Segundo ele, teofania é o processo de descida de Deus ao homem através da criação e de retorno do homem a Deus através do amor. teofania também é qualquer obra da criação que manifeste a essência divina, que assim se torna visível nela e através dela (De divis. nat, I, 10; V, 23). [Abbagnano]
(do gr. theos, deus e phainô, aparecer, iluminar, de onde phaos, luz).
É a manifestação de Deus ao homem por sua atual presença, permitindo-lhe a contemplação. [MFSDIC]
Pelos ecos que provocam no homem, alguns objetos do mundo exterior são suscetíveis de responder à sua necessidade interior de perceber o Divino. Os objetos que lhe aparecem subitamente como encarregados ou capazes de produzir a irrupção de uma força divina podem ser chamados de «teofanias».
O valor deles é apreendido de maneira intuitiva.
O indivíduo sente-se bem (com uma evidência totalmente diferente em relação à que resulta do raciocínio) quando tem contato com o Sagrado. Essa experiência da teofania é geralmente coletiva e os objetos que manifestam o sagrado são objetos reais, fenômenos do mundo objetivo, vistos e conhecidos por todos.
Teofanias transcendentes e imanentes:
Em sua notável obra “O Homem e a Religião”, Paul Chalus demonstra que existem dois tipos de teofanias, portanto, duas maneiras de captar o Divino: as teofanias “transcendentes” e as as “imanentes”.
As teofanias em que se manifesta o arquétipo da Deusa-Mãe resultam de experiências religiosas que estão a serviço dos arquétipos, atestando a existência de uma totalidade que compreende o homem, de uma unidade que pode ser sentida como de natureza cósmica ou espiritual, mas uma unidade benéfica, da qual o homem não deve sair, que ele não deve romper.
São experiências da imanência, tão transcendentes quanto possam ser, enquanto fenômenos.
Ao contrário, as teofanias em que se apresenta o arquétipo Deus– Pai são originárias dos arquétipos que demonstram a existência de um Sei; que se pode conceber também como de natureza cósmica ou espiritual, que é fonte de todo bem, de toda felicidade. Mas, uma união com esse Ser é um ideal impossível, e o homem pode somente tentar dele se aproximar: trata-se aí de experiências da transcendência”.
Essa distinção entre as religiões de Deusa-Mãe e as religiões do Deus-Pai está mais ligada ao gênero de vida dos povos e as suas maneiras específicas de captar a teofania (a presença divina) que à sua “raça”.
As experiências religiosas que se chamam “revelação” encontram-se entre as teofanias da transcendência. A “revelação” aparece como “separada” das realidades profanas e naturais; ela é aparentemente diferente.
“A revelação da imanência permanece, geralmente, mais no domínio das intuições simples e no domínio do sonho; ela serve-se naturalmente do canal da imaginação. E menos espetacular e exterior, ainda que, também, totalmente eficaz.
Em um desses aspectos, a Divindade ultrapassa infinitamente o homem, é-lhe exterior, ontologicamente estranha: é a Divindade Transcendente. Em face dessa força, resta sempre uma distância, uma diferença de nível. Contudo, o homem sente a necessidade de permanecer em contato com ela por intermédio de ritos e de uma Teologia que lhe permitem aproximar-se dela.
A atividade religiosa institui, portanto, através de uma sacralização ad hoc do homem, uma espécie de estágio intermediário, pelo qual se pode realizar uma relativa participação no divino.
Em outros termos, o comportamento religioso visa a uma tomada de consciência da heterogeneidade do divino e do humano. A tomada de consciência da transcendência divina conduz ao «respeito».
Em seu outro aspecto, a Divindade ultrapassa ainda o homem, mas não lhe é totalmente estranha no sentido em que o homem sente e sabe fazer parte dela: é a Divindade imanente.
E, portanto, natural que o homem participe dela inteiramente, como por fusão. Ele experimenta a necessidade de permanecer em comunhão com ela. Uma ruptura total seria a morte. Mas essa comunhão não é totalmente natural. A atividade religiosa exige uma sacralização “ad hoc”, pois há um distanciamento relativo do divino que resulta da conduta profana, isto é, inadequada do homem em sua vida cotidiana. Mais uma vez os ritos permitem, nessa circunstância, não se aproximar, mas manter o vínculo.
Em outros termos, o comportamento religioso visa a uma tomada de consciência da diferença entre o comportamento habitual do homem (que esquece, de algum modo, de que participa da Divindade) e aquele que deveria ser o seu. A tomada de consciência é, portanto, a da imanência da Divindade e conduz à aplicação.” (Paul Chalus)
Nós temos, portanto, dois aspectos teofânicos, dois aspectos complementares da percepção da Divindade pelo homem, no interior e no exterior de si mesmo; um ligado à heterogeneidade (Divindade transcendente), outro ligado à homogeneidade do Divino e do humano (Divindade imanente).
Na verdade, trata-se de duas maneiras complementares de compreender Deus, já que de fato na experiência transcendente há a imanência da Divindade e, no seio da experiência imanente, a dificuldade experimentada pelo homem para manter um contato permanente com a Divindade faz aparecer, de fato, uma transcendência da Divindade.
Reencontraremos essa complementaridade com as divindades gregas Apolo e Dionísios.
Estudando a história das religiões, apenas pode-se constatar que a teofania transcendente foi largamente privilegiada em detrimento de teofania imanente, pelo menos na esfera ocidental.
Às religiões da grande Deusa-Mãe vão suceder as religiões reveladas do Deus transcendente que vão, de uma certa maneira, fazer esquecer o papel teofânico de elementos da vida cotidiana ou da paisagem, como o Céu, a Lua, o Sol, a tempestade, o vento, a montanha, as fontes, que eram, até então, igualmente símbolos capazes de reunir o homem ao Divino. [Fernand Schwarz]