A representação mental de Deus pode passar por diversas fases de evolução. E inteiramente indeterminada em muitos panteístas que, negando um Deus pessoal, admitem, entanto, algo de absoluto, superior (transcendente) ao mundo visível, p. ex., uma ordem moral absoluta, uma lei absoluta, etc. Clara, mas pouco desenvolvida nas linhas fundamentais, encontramo-la nos povos primitivos e semicultos, que reconhecem um legislador supremo, um juiz do bem e do mal, um pai amoroso. Pelo trabalho da inteligência, a ideia de Deus, intensamente revestida de fantasia e de elementos sentimentais, pouco a pouco se vai transformando no conceito científico de Deus, isto é, numa imagem intelectualmente depurada, na qual avultam de modo especial os atributos metafísicos de Deus: ilimitado, por si existente. O resultado último da doutrina natural acerca de Deus é o conceito pleno de Deus com conhecimento explícito de seus atributos mais importantes. Elementos essenciais da noção teísta de Deus são a superioridade sobre o mundo e a personalidade.
Nossas representações e conceitos nunca podem abarcar Deus de maneira total (adequada); implicam sempre traços humanos e são, outrossim, fortemente influenciados pelo caráter, pela educação e pelo meio ambiente. Daí procedem as várias representações de Deus nas diversas religiões. Neste sentido, cada homem cria para si o seu Deus, isto é, sua imagem de Deus. Todavia podemos chegar a um conhecimento analógico de Deus, exato quanto ao essencial (provas da existência de Deus). Porque, tudo quanto neste mundo há de perenemente grande e valioso, principalmente no homem, como ser, viver, conhecer e querer, deve igualmente convir a Deus como autor primeiro de todo ser, embora, é claro, de modo incomparavelmente mais elevado, embora essencialmente diverso. Este modo divino de ser, podemos apreendê-lo só pela negação do modo criatural correspondente. A ideia de Deus torna-se antropomórfica, quando não for tomada em consideração esta diferença essencial no modo de ser e quando se transferirem para Deus as limitações e barreiras humanas. A analogia permite-nos manter o meio–termo entre o agnosticismo, para o qual Deus é apenas um X desconhecido, e o panteísmo, que nega a diversidade essencial entre Deus e o homem. — Do conhecimento analógico de Deus segue-se que as “antinomias” de seu conceito (imutabilidade e vida, necessidade e liberdade, ação criadora e quietude máxima) se resolvem em mistérios que, certamente, nunca lograremos decifrar inteiramente, mas nos quais também não é possível mostrar uma contradição real. Por isso, Deus é unidade ou harmonia dos contrários (coincidentia oppositorium) unicamente no sentido de que supera todas as oposições condicionadas pela finitude, não porém no sentido de para Ele não ser válido o princípio de contradição. Tampouco se pode dizer que possuímos de Deus “apenas” uma, douto ignorância (docta ignorantia). Épocas e homens dados ao misticismo ou (por outro motivo) também os intelectualmente desalentados (neoplatonismo, mística medieval; agnosticismo moderno) preferirão a teologia negativa. As épocas e os ânimos, que se deleitam no conhecimento, preferem exprimir Deus por meio de conceitos e representações positivas (escolástica clássica, idealismo alemão).
A origem psicológica da ideia de Deus encontra-se, por um lado, na disposição global do homem, isto é, em sua necessidade de uma causa e no impulso para a idealização, em sua sede de infinito, bem como em sua fantasia e em seus sentimentos, que fortalecem as primeiras tendências; e, por outro lado, no caráter contingente do universo, mas, ao mesmo tempo, em sua maravilhosa harmonia, nos vestígios de beleza, de bondade e de verdade. Todos estes elementos em conjunto garantem simultaneamente a objetividade, ou seja o caráter de realidade da ideia de Deus. — Rast. [Brugger]