exterioridade

F. Extériorité; It. Esteriorità; I. Exteriority; A. Äusserlichkeit, Exteriorität.

Caráter do que é exterior, atribuído aos objetos físicos. O “problema da exterioridade” foi articulado por Condillac, Traité, parte III: “Se se admite que as sensações são apenas modificações da mente, como acontece então que a mente as apreenda como objetos independentes e exteriores a ela?” Filosoficamente, o problema aparece assim articulado: existe “coisa em si” fora do estado da consciência. O idealismo, principalmente o idealismo espiritualista de Berkeley, responde: “Não, nada existe fora do intelecto”. O fenomenismo kantiano vê a coisa em si como ente da razão, uma entidade, não como realidade de existência independente. O materialismo, principalmente o materialismo dialético, afirma: O objeto, a coisa, existe fora do intelecto, o dado exterior “é”. [Soares]


(in. Exteriority, interiority; fr. Exteriorité, intériorité, al. Aeusserlichkeit, Innerlichkeit; it. Esteriorità, interiorità).

O tema filosófico da oposição entre interioridade e exterioridade nasce juntamente com a noção de consciência e expressa a oposição entre o que é alheio à consciência e o que lhe é próprio. Foi a pregação popular estoica que explorou pela primeira vez esse tema, o que se repete com frequência nas páginas de Epicteto, Marco Aurélio e Sêneca. Epicteto diz: “É estado e marca do homem comum nunca esperar benefício ou prejuízo de si mesmo, mas das coisas de fora. Estado e marca do filósofo é esperar ou temer de si mesmo toda e qualquer utilidade ou dano” (Manual, 48). E Marco Aurélio: “As coisas por si mesmas não chegam a tocar a alma, a ela não têm acesso nem podem mudá-la ou removê-la. Mas é a alma que por si muda e modifica-se, e sejam quais forem os juízos que ela se julgar digna de fazer sobre as coisas que a rodeiam, do mesmo modo ela fará que para ela sejam as ditas coisas” (Memórias, V, 19). Sêneca contrapõe “a alegria que nasce do interior” à que deriva das coisas exteriores (Ep., 23). Neoplatonismo e cristianismo são responsáveis pela identificação da interioridade com a esfera da consciência e da exterioridade com a esfera do mundo a que pertencem as coisas naturais e os outros seres. O tema da oposição entre interioridade e exterioridade tornou-se, assim, um tema clássico de toda filosofia que recorre à consciência como esfera de realidade privilegiada tanto pela sua certeza quanto pelo seu valor. A linguagem comum acolheu os significados filosóficos das duas palavras, com a significação de contraposição entre o que é consciência e o que não é. A metafísica do espiritualismo e o método da introspecção utilizam igualmente esse lema tradicional. Seria muito fácil mostrar o caráter puramente metafórico (portanto, a ausência de significado preciso) das expressões em que aparecem esses termos ou os adjetivos correspondentes. “Realidade interna” e “realidade externa”, “mundo interior” e “mundo exterior”, “objetos internos” e “objetos externos” são expressões que, a rigor, não têm sentido, seja porque não se faz referência ao âmbito fechado em relação ao qual um “externo” e um “interno” possam ser determinados, seja porque tal âmbito fechado, quando determinado, não é espacial, pois é a própria consciência. Hegel utilizou abundantemente esses termos que, justamente por meio de sua obra, penetraram na terminologia filosófica. Ele identificava o interior com a “razão de ser” e o exterior, com sua manifestação (Enc., §§ 138-39). Mas tinha o bom senso de acrescentar: “Assim como o homem é externamente, ou seja, em suas ações (por certo não na sua exterioridade somente corpórea), também é interno; e quando ele é só interno — virtuoso, moral, só em intenções, disposições, etc. — e o seu exterior não é .idêntico a tudo isso, então um é tão vazio quanto o outro” (Ibid., § 140). [Abbagnano]