Na antiguidade tardia, ouranioi 7 [FEPeters]
(gr. astrologia; lat. astrologia; in. Astrology; fr. Astrologie; al. Astrologie; it. Astrologia).
Crença na influência dos movimentos dos astros sobre o destino dos homens e ciência, ou pretensa ciência fundada nessa crença. A astrologia liga-se ao nascimento da astronomia no mundo oriental e acompanhou a astronomia na primeira parte da sua história. Segundo F. Cumont, foram os caldeus os primeiros a conceber a ideia de uma necessidade inflexível que regula o universo e a substituir por essa ideia a ideia do mundo dirigido por deuses, em conformidade com suas paixões. A ideia lhes foi sugerida pela regularidade dos movimentos dos corpos celestes (Cumont, Oriental Religions in Roman Paganism, trad. in., p. 179). Essa crença levou a estabelecer uma correspondência entre o macrocosmo (mundo) e o microcosmo (homem): correspondência pela qual os eventos de um se refletiriam nos eventos do outro e seria possível, a partir do conhecimento dos primeiros, predizer de algum modo os segundos. A astrologia difundiu-se no Ocidente no período greco-romano. Assim como os antigos caldeus, a filosofia árabe a justificou com base na necessidade universal que une todos os eventos do mundo e que, partindo de Deus, como Primeiro Motor, vai até aos eventos humanos. Essa cadeia necessária passa pelos eventos celestes: os terrestres e os humanos não são determinados diretamente por Deus, mas são determinados por Ele através dos eventos celestes, isto é, os movimentos dos astros. De modo que tais movimentos são os que determinam imediatamente os eventos do mundo sublunar e, portanto, do mundo humano; o seu conhecimento torna possível a previsão destes últimos. As crenças astrológicas eram comuns na Idade Média, apesar das condenações eclesiásticas: o próprio Dante compartilhava delas (Conv., II, 14; Purg., XXX, 109 ss.). No Renascimento, foram defendidas e justificadas por homens como Paracelso, Bruno, Campanella. Este último dedicou uma obra à astrologia, Astrologicorum Libri VII, 1629, e dela se valeu para confirmar seu vaticínio do iminente retorno do mundo à unidade religiosa e política (Atheismus triumphatus, 1627). Outros filósofos foram hostis à astrologia, embora admitindo a validade da magia. Assim, p. ex., Pico della Mirandola, que escreveu as Disputationes adversus astrologos, em que acusa a astrologia de tomar os homens escravos e miseráveis; o mesmo fez Jean Baptiste van Helmont, que negou a influência dos astros nos acontecimentos humanos (De vita longa, 15, 12).
A astrologia perdeu fundamento científico com a ciência moderna, que, para afirmar qualquer relação causal, exige que tal relação se verifique de modo uniforme em um número de casos suficientemente grande. A relação causal entre os movimentos dos astros e os eventos humanos poderia, portanto, ser reconhecida como tal só com base em observações repetidas e repetíveis que evidenciassem todos os seus elos intermediários, de tal modo que o seu funcionamento fosse entendido. Nada de semelhante se verificou na astrologia, que ainda se baseia em antigos textos e tradições, em simbolismos não passíveis de verificação e em crenças mágicas ou teosóficas. Por outro lado, as crenças astrológicas estão entre as mais difundidas até mesmo no mundo contemporâneo, tão permeado de espírito científico: talvez o espírito contemporâneo encontre nelas uma compensação para a falta de segurança característica da sua situação e, nas predições astrológicas, um meio de delimitar, embora de modo arbitrário e fantástico, as previsões em torno de seu destino próximo ou remoto. [Abbagnano]
A astrologia constitui uma visão geral e unitária da realidade, em que aspectos particulares e situações do mundo dos astros são considerados na sua relação com o mundo dos homens e em particular com o destino e as vicissitudes dos povos; tais relações não dizem respeito à possível consideração unitária de fenômenos celestes, e de factos e vicissitudes humanas, com uma intenção preponderantemente explicativo-causal, mas justificam também conjecturas sobre acontecimentos futuros e previsões proféticas.
Portanto, parecem ser dois os critérios de fundo a que obedece a complexa combinação de instâncias de conhecimento e de exigências práticas características da astrologia: antes de tudo, a convenção da unidade do cosmos, no qual não é possível separar o céu da terra, o mundo dos astros do mundo terrestre, o mundo superior do inferior; como expressão deste motivo podem recordar-se a afirmação de Aristóteles: «Este mundo encontra-se ligado de forma necessária ao movimento do mundo superior. Cada potência, no nosso mundo, é governada por aqueles movimentos» (Metereológicas, 1, 339a). Mas o mesmo conceito fora expresso, antes de Aristóteles, por Platão que no Timeu havia dado particular destaque aos estritos vínculos que percorrem, no seu conjunto, todo o universo. Nem Platão nem Aristóteles, neste ponto, exprimiam pontos de vista pessoais; quando muito, davam uma tradução conceptual a uma convicção do pensamento grego derivada da tradição oriental. Para a nossa formação moderna, habituada pelo desenvolvimento da mentalidade científica a encarar todos os aspectos da realidade na sua distinção, a consideração unitária do universo transformou-se em pouco mais do que uma simples expressão; mas nas civilizações orientais em seguida na civilização grega e helenística a visão unitária do universo correspondia a uma exigência real de unificação dos conhecimentos e, mais ainda, a um critério de continuidade na consideração da realidade. O segundo critério em que a astrologia se inspira diz respeito mais propriamente ao interesse pelas grandes vicissitudes históricas, a convicção de que elas não são casuais e que cada uma se encontra estritamente ligada à estrutura do universo, cujo conhecimento pode colocar o homem em condições de influir sobre o desenvolvimento do futuro; é uma aspiração prática e ativa que assim se exprime, de participação na formação dos grandes acontecimentos da história, uma forma embrionária e originária de formular a exigência de uma racionalidade da história, de uma resposta dela às aspirações do homem. (Excertos de Mario Del Pra, EINAUDI 18 (EEEE))
VIDE astrologia tradicional; astrologia moderna
Na antiguidade tardia, ouranioi (FEPeters)
Segundo Jean Robin, costuma-se fazer da astrologia uma ideia totalmente falsa, imaginando-se que o que esta ciência é estudas as “influências” exercidas sobre o mundo terrestre pelos astros “corporais”. Se trata na realidade de algo muito distinto, muito mias complexo e profundo, do qual só se pode ter uma ideia recorrendo à doutrinas orientais, que conservaram uma noções que se tornaram totalmente estranhas ao Ocidente moderno.
A partir de uma compreensão da “manifestação” e da existência, e das noções de grau, estado e modo ou modalidade de um ser, é possível entender que essas “influências” estudadas pela astrologia ordinária só têm um papel muito secundário com respeito ao eixo vertical que vincula o indivíduo ao Si mesmo, em seu Princípio, posto que – sempre segundo René Guénon – “é evidente que o ponto de intersecção não é um qualquer mas que está determinado pela vertical de que se trata, enquanto esta se distingue de qualquer outra, quer dizer, em suma pelo fato de esse ser é o que é, e não o que é um ser qualquer manifestando-se igualmente no mesmo estado”. Do que resulta logicamente que o meio no qual um ser se manifesta está determinado por uma incontestável “afinidade” com com as possibilidades que leva esse ser em seu seio, no estado principial, possibilidades que pedem manifestar-se segundo modalidades em relativa harmonia com sua natureza profunda. Vemos que a parte do “azar” se reduz a nada, e se pode dizer em suma que o ser “elege” verdadeiramente o meio no qual vai nascer.
Assim, ao que aparece – se nos atemos unicamente ao plano horizontal que evocamos até um momento – como uma influência do meio se torna, se nos remetemos ao eixo vertical e se adotamos um ponto de vista metafísico, a expressão de algum modo simbólica das possibilidades que o ser estava desde de toda eternidade destinado a manifestar, em tal estado de existência determinado. Se trata aqui de sua “assinatura”, no sentido hermético da palavra.
Devemos dizer que o número das influências do meio – tanto corporais como psíquicas – é indefinido, e não poderiam portanto ser estudadas separadamente, de um modo analítico. Para o estado humano que aqui nos interessa, são sintetizadas pelos astros “fixos” e “móveis” que constituem o meio cósmico. Quer dizer que “as influências astrais” não são tanto, como se poderia crer, “as influências dos astros” propriamente ditas (as únicas que consideram os astrólogos modernos), no sentido de que, por exemplo, a Lua influencia as marés, mas sim as influências de que os astros são “símbolo”. Os astros considerados pela Astrologia são de fato “as luminárias criadas para ser signos”, de que fala o Gênese (I, 14).