gr. poietike, techne, mimesis: significado generalizado em Platão, techne 1; termo técnico numa divisão, ibid. 2-3; prática e produtiva, 4; produz tanto «originais» como imagens, 5; em Aristóteles, 6; em contraste com a necessidade, telos 2; nenhum desígnio no conceito de natureza dos atomistas, physis 2 (FEPeters)
(gr. techne; lat. ars; in. Art; fr. Art; al. Kunst; it. Arte).
Em seu significado mais geral, todo conjunto de regras capazes de dirigir uma atividade humana qualquer. Era nesse sentido que Platão falava da arte e, por isso, não estabeleceu distinção entre arte e ciência. arte, para Platão, é a arte do raciocínio (Fed., 90 b), como a própria filosofia no seu grau mais alto, isto é, a dialética (Fed., 266 d); arte é a poesia, embora lhe seja indispensável a inspiração delirante (ibid., 245 a); arte é a política e a guerra (Prol, 322 a); arte é a medicina e arte é respeito e justiça, sem os quais os homens não podem viver juntos nas cidades (Ibid., 322 c, d). O domínio global do conhecimento é dividido em duas arte, a judicativa (kritike ou gnotike) e a dispositiva ou imperativa (epitaktike ou epistatike), das quais a primeira consiste simplesmente em conhecer e a segunda em dirigir determinada atividade com base no conhecimento (Pol., 260 a, b; 292 c). Desse modo, para Platão a arte compreende todas as atividades humanas ordenadas (inclusive a ciência) e distingue-se, no seu complexo, da natureza (Rep., 381 a). — Aristóteles restringiu notavelmente o conceito de arte Em primeiro lugar, retirou do âmbito da arte a esfera da ciência, que é a do necessário, isto é, do que não pode ser diferente do que é. Em segundo lugar, dividiu o que não pertence à ciência, isto é, o possível (que “pode ser de um modo ou de outro”) no que pertence à ação e no que pertence à produção. Somente o possível que é objeto de produção é objeto da arte Nesse sentido, diz-se que a arquitetura é uma arte; e a arte se define como o hábito, acompanhado pela razão, de produzir alguma coisa (Et. Nic, VI, 3-4). O âmbito da arte vem, assim, a restringir-se muito. São arte a retórica e a poética, mas não é arte a analítica (lógica), cujo objeto é necessário. São arte as manuais ou mecânicas, como é arte a medicina, ao passo que a física ou a matemática não são arte Esse é, pelo menos, o ponto de vista do Aristóteles maduro, já que as páginas com que se abre a Metafísica parecem estabelecer uma distinção puramente de grau entre a arte e a ciência, colocando a arte como intermediária entre a experiência e a ciência. Mesmo aquelas páginas se concluem, porém, com a afirmação de que a sabedoria é antes conhecimento teórico do que arte produtiva (Met., 1,1, 982 a 1 ss.). Essa distinção aristotélica não foi, porém, adotada em todo o seu rigor pelo mundo antigo e medieval. Os estoicos ampliaram de novo a noção de arte, afirmando que “a arte é um conjunto de compreensões”, entendendo por compreensão o assentimento ou uma representação compreensiva (Sexto Empírico, Pirr. hyp., III, 241, Adv. dogm., V, 182); na verdade, essa definição não permite distinguir arte de ciência. E Plotino, que, por sua vez, faz tal distinção porque quer conservar o caráter contemplativo da ciência, distingue as arte com base em sua relação com a natureza. Distingue, portanto, a arquitetura e as arte análogas, cuja finalidade é a fabricação de um objeto, das arte que se limitam a ajudar a natureza, como a medicina e a agricultura, e das arte práticas, como a retórica e a música, que tendem a agir sobre os homens, tornando-os melhores ou piores (Enn., IV, 4, 31). A partir do séc. I foram denominadas “arte liberais” (isto é, dignas do homem livre), em contraste com as arte manuais, nove disciplinas, algumas das quais Aristóteles teria denominado ciências, e não artes. Essas disciplinas foram enumeradas por Varrão: gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia, música, arquitetura e medicina. Mais tarde, no séc. V, Marciano Capela, em Núpcias de Mercúrio e da filologia, reduzia a sete as arte liberais (gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música), eliminando as que lhe pareciam desnecessárias a um ser puramente espiritual (que não tem corpo), isto é, a arquitetura e a medicina, e estabelecendo assim o curriculum de estudos que deveria permanecer inalterado por muitos séculos (v. cultura). Tomás de Aquino estabelecia a distinção entre arte liberali e arte servili com o fundamento de que as primeiras destinam-se ao trabalho da razão, as segundas “aos trabalhos exercidos com o corpo, que são de certo modo servis, porquanto o corpo está submetido servilmente à alma e o homem é livre segundo a alma” (S. Th., II, 1, q. 57, a. 3, ad 3). Contudo, a palavra arte continuou designando, por longo tempo, não só as arte liberais mas também as arte mecânicas, isto é, os ofícios, assim como ocorre ainda hoje, pois entendemos por arte ou artesão um ofício ou quem o pratica. Kant resumiu as características tradicionais desse conceito ao fazer a distinção entre arte e natureza, de um lado, e entre arte e ciência, do outro; e distinguiu, na própria arte, a arte mecânica e a arte estética. Sobre esse último ponto, diz: “Quando, conformando-se ao conhecimento de um objeto possível, a arte cumpre somente as operações necessárias para realizá-lo, diz-se que ela é arte mecânica; se, porém, tem por fim imediato o sentimento do prazer, é arte estética. Esta é arte aprazível ou bela arte É aprazível quando sua finalidade é fazer que o prazer acompanhe as representações enquanto simples sensações; é bela quando o seu fim é conjugar o prazer às representações como formas de conhecimento” (Crít. do Juízo, § 44). Em outros termos, a bela arte é uma espécie de representação cujo fim está em si mesma e, portanto, proporciona prazer desinteressado, ao passo que as arte aprazíveis visam somente a fruição. A essa concepção de arte remetem-se ainda hoje os que veem nela a libertação das restrições impostas pela jecnocracia (Marcuse, One Dimensional Man, 1964, pp. 238 ss.), ou pelo menos um meio de corrigi-las, fazendo valer, nesse sistema, a expressão da personalidade individual (Galbraith, The New Industrial State, 1967, p. XXX).
Embora ainda hoje a palavra arte designe qualquer tipo de atividade ordenada, o uso culto tende a privilegiar o significado de bela arte Dispomos, de fato, de um termo para indicar os procedimentos ordenados (isto é, organizados por regras) de qualquer atividade humana: é a palavra técnica. A técnica, em seu significado mais amplo, designa todos os procedimentos normativos que regulam os comportamentos em todos os campos. Técnica é, por isso, a palavra que dá continuidade ao significado original (platônico) do termo arte. Por outro lado, os problemas relativos às belas arte e a seu objeto específico cabem hoje ao domínio da estética. (Abbagnano)
O termo alemão “Kunst” deriva de “können” (ser capaz de) e significa “habilidade, perícia, sabedoria”; denota, por conseguinte, não um “ser capaz” ordinário, trivial, mas um “ser capaz” eminente. Também a raiz do termo latino “ars” implica o sentido de “imaginar, inventar”, além do de “acomodar, adaptar”. Arte e ofício manual coincidem em que ambos produzem uma obra sensorialmente perceptível. Contudo o ofício manual tem em mira o utilizável, o proveitoso, ao passo que a arte se aplica ao belo. Há beleza natural, na medida em que as coisas manifestam de maneira luminosa as ideias ínsitas nelas. A beleza artística não se limita a ser mera repetição ou cópia fiel daquela; senão que é permitido à arte fazer que as ideias brilhem com profundeza e vigor inteiramente novos e que os mais recônditos segredos da existência transpareçam em suas obras. Pelo que, sua tarefa principal consiste, não em reproduzir as coisas, senão em manifestar as ideias. O artista é um vidente, que penetra até aos mais íntimos fundamentos de todo ente, até às ideias criadoras de Deus, e é um criador capaz de expressar na obra sua própria visão: intuir e criar são nele uma só coisa. Deste modo, o artista, malgrado os limites impostos pelo tempo e pelos recursos pessoais, ergue-se acima de si mesmo e se ostenta como profeta e glorificador do ser entre os homens, apresentando em sua genuína figura algo de sacerdotal.
A arte exige essencialmente intuitividade sensorial, e as formas desta constituem sua linguagem, sendo que a expressão sensível não pertence necessariamente à beleza em si. Em oposição à arte, o elemento da ciência é o conceito que, a par da visão do artista, possui significado insubstituível. Contudo a arte está em condição de entabular com a beleza um diálogo mais íntimo do que a ciência com o conceito. Compreende-se que nem o artista nem o contemplador possam deter o olhar exclusivamente na forma sensivelmente bela; de contrário, pereceria a alma da arte. Aliás, precisamente sua crescente “dessensorialização” possibilita uma interna ordenação ou seriação das artes: arquitetura, pintura, literatura (tomando aqui em consideração a palavra falada), mímica (sobretudo a dança) e música. Distinguem-se também artes espaciais e artes temporais, na medida em que as três primeiras — arquitetura, escultura, pintura — plasmam algo que permanece no espaço e as três últimas — literatura, mímica, música — algo de transitório e susceptível de sempre se realizar de novo no tempo. — Lotz. (Brugger)
Hoje pode usar-se o termo “arte” em português – e noutros idiomas – em vários sentidos: Fala-se da arte de viver, da arte de escrever, da arte de pensar; “arte” significa, neste sentido, determinada virtude ou habilidade para fazer ou produzir algo. Fala-se de arte mecânica e de arte liberal. Fala-se também de bela arte e de belas artes e, nesse caso, toma-se arte em sentido estético como “a Arte”. Estes significados não são totalmente independentes, une-os a ideia de fazer, especialmente de produzir, algo de acordo com certos métodos ou certos modelos – métodos e modelos que podem, por sua vez, descobrir-se mediante arte. Esta simultânea multiplicidade de significado apareceu já na Grécia.
Durante a época do Helenismo e na idade média, houve tendência para entender o conceito de arte num sentido muito geral. No renascimento e parte da época moderna, a distinção entre as artes como ofícios e as artes como belas artes nem sempre foi clara. De fato, foi numa época relativamente recente que os filósofos começaram a usar o termo arte para se referirem à arte e fizeram esforços para desenvolverem uma filosofia da arte. Discutiu-se sobre se esta tem métodos e objetos próprios distintos de outra disciplina filosófica que também se ocupa da arte: a estética. Embora se deva confessar que os limites entre as duas disciplinas são imprecisos, pode, como tudo, estabelecer-se uma distinção razoável. Enquanto a estética trata de questões relativas a certos valores (classicamente do belo, depois de outros) e a certas linguagens, dando como exemplos as chamadas obras de arte, a filosofia da arte trata destas obras de um ponto de vista filosófico, apoiando-se em investigações estéticas. Por outras palavras, pode dizer-se que enquanto a estética é sempre mais formal, a filosofia da arte é incomparavelmente mais material. Muitas são as respostas que se deram à pergunta sobre o que é a arte. Alguns autores declararam que a arte não proporciona nenhum conhecimento da realidade, ao contrário da filosofia, e especialmente da ciência, que se consagram ao conhecimento; costuma dizer-se que a arte não é um contemplar (no sentido geral de “teoria”), mas um fazer. Embora esta tese tenha muito a seu favor, deparam-se-lhe várias dificuldades. por um lado, embora a arte não seja, estritamente falando, um conhecimento, pode proporcionar certa “imagem do mundo”. Há, pois, um certo conhecimento do mundo por meio da arte, e isto é o que quer dizer que a arte é uma certa revelação do mundo. Por outro lado, dizer que a arte não é conhecimento é insuficiente, pois também a realidade não é, estritamente falando, conhecimento e, contudo, não é arte. Por último, dizer que é um fazer também é insuficiente, pois há muitos tipos de fazer que não são arte. Outros autores assinalaram que a arte é uma forma de evasão. Esta explicação é mais psicológica do que filosófica. O mesmo acontece com a ideia segundo a qual a arte é uma necessidade da vida humana. em todas estas explicações, além disso, o que se explica ou tenta explicar, é a vida humana e não a arte. Mais adequada é a definição da arte como criação de valores: valores tais como o belo, o sublime, o cômico, etc. Também nos parece mais adequada – e não necessariamente incompatível com a anterior – a tese segundo a qual a arte é uma forma de simbolização. Em todo o caso, as teorias puramente axiológicas, puramente simbolistas ou puramente emotivas da arte deixam sempre escapar alguns elementos essenciais à arte. É possível que só se possa dar conta da grande riqueza de manifestações da arte mediante uma conjunção destas teorias. (Ferrater)
A arte é uma das dimensões espirituais do homem que o caracterizam como tal, manifestando em diferentes direções de sua presença e atividade o impulso divino que o criou. Agrupamos abaixo algumas páginas de nosso interesse mas recomendamos uma visita à página Renascimento, uma época ímpar na história da arte ocidental.
- Literatura
- Teatro
- Música
- Dança
- Artes Plásticas
Frithjof Schuon:
Nenhuma arte em si é uma criação humana. Mas a arte sacra tem de particular o fato de seu conteúdo essencial ser uma revelação, de manifestar uma forma propriamente sacramental da realidade celeste, como o ícone da Virgem com Menino Jesus, pintado por um anjo, ou por São Lucas inspirado por um anjo, e o do Rosto Santo que remonta ao santo sudário e à Santa Verônica; como a estátua de Shiva dançando ou as imagens pintadas ou esculpidas dos Budas, dos Bodhisattvas, dos Târâs. Segundo a acepção mais vasta do denominador, entram na mesma categoria a salmodia ritual em língua sacra — em sânscrito, hebreu e árabe, principalmente —, a seguir, em certos casos, a caligrafia igualmente ritual dos Livros Santos. De uma ordem menos direta são em geral a arquitetura ou, pelo menos, a ornamentação dos santuários, os objetos litúrgicos, as vestes sacerdotais. Seria difícil expor em algumas linhas todos os possíveis gêneros da expressão sagrada, que engloba formas tão diversas quanto a recitação, a escritura, a arquitetura, a pintura, a escultura, a dança, o gesto, a vestimenta.
- PRINCÍPIOS DA ARTE
- ESTÉTICA INTEGRAL
- GRAUS DA ARTE
Ananda Coomaraswamy:
Se habrá notado que nuestra metafísica hace un uso continuo de analogías sacadas del arte. Un procedimiento tal es inteligible en una cultura tradicional en la que las artes son aplicaciones de los primeros principios a los problemas contingentes, es decir, «el arte imita a la Naturaleza en su manera de operación»; y donde, así mismo, en tanto que el artista no es un tipo especial de hombre, sino que cada hombre es un tipo especial de artista, la lengua del arte es familiar. Los términos técnicos del pensamiento tradicional son los de la construcción (harmonia, la carpintería, en tanto que un trabajo en «madera», hyle, análoga a la obra en la cual trabajó Aquel «por quien fueron hechas todas las cosas»; cf. 41B). Bajo tales condiciones la «manu-factura» provee a las necesidades del alma y del cuerpo a la vez, y, por consiguiente, cada «arte-facto» puede usarse no solo para fines inmediatos sino también como un soporte de contemplación. Por lo tanto, San Buenaventura pudo decir acertadamente, «La luz de un arte mecánico es la vía hacia la iluminación de la escritura. No hay nada en él que no prefigure la verdadera sabiduría, y por esta razón la Sagrada Escritura hace un uso constante de tales símiles» (De reductione artium ad theologiam 14). Y aunque este procedimiento nos es extrano a nosotros, cuya educación está más en las palabras que en las cosas (una consecuencia natural de nuestro nominalismo), un estudioso de la filosofía tradicional debe aprender a pensar en sus propios términos. Por ejemplo, el trasfondo de la filosofía griega clásica se preserva mejor y más completamente en las formas del «arte geométrico» que en los «fragmentos» literarios.
Y así como Platón, el padre de la sabiduría Europea, pregunta, «¿Acaso no sabemos que en lo que concierne a la práctica de las artes (ten ton technon demiourgian) el hombre que tiene a este Dios por su maestro será renombrado y como un fanal de luz, y que aquel a quien Amor no ha poseído será obscuro?»1. Esto es con referencia particular a los divinos originadores del tiro con arco, la medicina, y los oráculos, la música, la metalurgia, el tejido, y el pilotaje, cada uno de los cuales era «discípulo de Amor». Platón entiende, por supuesto, el «Amor cósmico» que armoniza las fuerzas opuestas, el Amor que actúa por amor de lo que tiene y para engendrarse a sí mismo, no el amor profano hecho de carencia y deseo. Así, el hacedor de algo, si ha de llamarse un creador, es, para su bien supremo, el servidor de un Genio inmanente; él no debe llamarse «un genio», sino «ingenioso»; él no está trabajando por sí mismo o para sí mismo, sino por y para otra energía, la del Eros Inmanente, Spiritus Sanctus, la fuente de todos los «dones». «Todo lo que es verdadero, por quienquiera que se haya dicho, tiene su origen en el Espíritu»2.
Hay que trazar, entonces, una distinción entre un arte significante (padarthabhinaya) y liberador (vimuktida), a saber, el arte de aquellos que en sus cumplimientos están celebrando a Dios, la Persona de Oro, a la vez en Sus dos naturalezas, inmanente y trascendente, y el arte in-significante que está «coloreado por la pasión mundanal» (lokanuraijaka) y que «depende de los estados de ánimo» (bhavasraya). El primero es el arte de la «vía» (marga, odos) que lleva directamente al fin de la senda, el segundo es un arte «pagano» (desi, agrios) y excéntrico que vaga en todas direcciones, imitando todo3.
- ARTES Y OFICIOS DE LA INDIA Y CEILÁN
- ARTE Y SIMBOLISMO TRADICIONAL
- ELEMENTOS DE ICONOGRAFÍA BUDISTA
- FIGURAS DE LENGUAJE O FIGURAS DE PENSAMIENTO
- LA TRANSFORMACIÓN DE LA NATURALEZA EN ARTE
- LA VERDADERA FILOSOFÍA DEL ARTE CRISTIANO Y ORIENTAL
- PATRON Y ARTISTAS
- SOBRE LA DOCTRINA TRADICIONAL DEL ARTE
- LA ICONOGRAFIA DE LOS «NUDOS» DE DÜRERO Y DE LA «CONCATENACIÓN» DE LEONARDO
Titus Burckhardt
- EL ARTE DESDE EL PUNTO DE VISTA DE LA TRADICIÓN PERENNE
- GENERALIDADES SOBRE A ARTE MUÇULMANA
Hoje pode usar-se o termo “arte” em português — e noutros idiomas — em vários sentidos: Fala-se da arte de viver, da arte de escrever, da arte de pensar; “arte” significa, neste sentido, determinada virtude ou habilidade para fazer ou produzir algo. Fala-se de arte mecânica e de arte liberal. Fala-se também de bela arte e de belas artes e, nesse caso, toma-se arte em sentido estético como “a Arte”. Estes significados não são totalmente independentes, une-os a ideia de fazer, especialmente de produzir, algo de acordo com certos métodos ou certos modelos — métodos e modelos que podem, por sua vez, descobrir-se mediante arte. Esta simultânea multiplicidade de significado apareceu já na Grécia. Durante a época do Helenismo e na Idade Média, houve tendência para entender o conceito de arte num sentido muito geral. No renascimento e parte da época moderna, a distinção entre as artes como ofícios e as artes como belas artes nem sempre foi clara. De fato, foi numa época relativamente recente que os filósofos começaram a usar o termo arte para se referirem à arte e fizeram esforços para desenvolverem uma filosofia da arte. Discutiu-se sobre se esta tem métodos e objetos próprios distintos de outra disciplina filosófica que também se ocupa da arte: a estética. Embora se deva confessar que os limites entre as duas disciplinas são imprecisos, pode, como tudo, estabelecer-se uma distinção razoável. Enquanto a estética trata de questões relativas a certos valores (classicamente do belo, depois de outros) e a certas linguagens, dando como exemplos as chamadas obras de arte, a filosofia da arte trata destas obras de um ponto de vista filosófico, apoiando-se em investigações estéticas. Por outras palavras, pode dizer-se que enquanto a estética é sempre mais formal, a filosofia da arte é incomparavelmente mais material. Muitas são as respostas que se deram à pergunta sobre o que é a arte. Alguns autores declararam que a arte não proporciona nenhum conhecimento da realidade, ao contrário da filosofia, e especialmente da ciência, que se consagram ao conhecimento; costuma dizer-se que a arte não é um contemplar (no sentido geral de “teoria”), mas um fazer. Embora esta tese tenha muito a seu favor, deparam-se-lhe várias dificuldades. por um lado, embora a arte não seja, estritamente falando, um conhecimento, pode proporcionar certa “imagem do mundo”. Há, pois, um certo conhecimento do mundo por meio da arte, e isto é o que quer dizer que a arte é uma certa revelação do mundo. Por outro lado, dizer que a arte não é conhecimento é insuficiente, pois também a realidade não é, estritamente falando, conhecimento e, contudo, não é arte. Por último, dizer que é um fazer também é insuficiente, pois há muitos tipos de fazer que não são arte. Outros autores assinalaram que a arte é uma forma de evasão. Esta explicação é mais psicológica do que filosófica. O mesmo acontece com a ideia segundo a qual a arte é uma necessidade da vida humana. em todas estas explicações, além disso, o que se explica ou tenta explicar, é a vida humana e não a arte. Mais adequada é a definição da arte como criação de valores: valores tais como o belo, o sublime, o cómico, etc. Também nos parece mais adequada — e não necessariamente incompatível com a anterior — a tese segundo a qual a arte é uma forma de simbolização. Em todo o caso, as teorias puramente axiológicas, puramente simbolistas ou puramente emotivas da arte deixam sempre escapar alguns elementos essenciais à arte. É possível que só se possa dar conta da grande riqueza de manifestações da arte mediante uma conjunção destas teorias. (DFW)
San Ambrosio sobre I Corintios 12:3, citado en Summa Theologica I-II.109.1. Nótese que «a quocumque dicatur» contradice la pretensión de que sólo es «revelada» la verdad Cristiana. ↩
Para todas las afirmaciones de este párrafo, ver Chandogya Upanishad I.6-9; Sahitya Darpana I.4-6; y Dasarupa I.12-14. ↩