teísmo

TEÍSMO (in. Theism; fr. Théisme; al. Theismus; it. Teismo).

Este termo, usado desde o séc. XVII para indicar genericamente a crença em Deus, em oposição a ateísmo (assim também em Voltaire, Dictionnaire philosophique, a. Théiste), foi definido por Kant, no seu significado específico, em oposição a deísmo. Kant diz: “Quem só admite uma teologia transcendental é chamado de deísta; quem admite também uma teologia natural é chamado de teísta. O primeiro admite que com a razão apenas podemos conhecer um Ser originário do qual só temos um conceito transcendental, de Ser que tem realidade mas que não pode ter nenhuma determinação a mais. O segundo afirma que a razão tem condições de dar mais determinações do objeto segundo a analogia com a natureza, ou seja, pode determiná-lo como Ser que, por intelecto e liberdade, contenha em si o princípio originário de todas as outras coisas. Aquele representa esse Ser apenas como causa do mundo (sem decidir se é uma causa que age pela necessidade de sua natureza ou por liberdade), este representa-o como um criador do mundo” (Crítica da Razão Pura, Diál. transc., III, seç. 7). Em outros termos, o deísta pode ser também panteísta e acreditar na necessidade da relação entre Deus e o mundo, embora também possa não ser; o teísta contrapõe-se ao panteísta. Ademais, indo além daquilo em que a razão pura permite acreditar, o teísta afirma a respeito de Deus qualidades ou características não testemunhadas pela razão, mas pela revelação; nesse sentido, como Kant diz mais adiante, no mesmo trecho, ele crê num “Deus vivo” (v. também Crít. do Juízo, § 72). Essas observações de Kant definiram o significado do termo no uso contemporâneo, em virtude do que teísmo se contrapõe não só a ateísmo mas também a deísmo e a panteísmo, admitindo-se Deus como pessoa, embora em sentido mais elevado do que o comumente atribuído ao homem.

Nesse sentido, o teísmo é um aspecto essencial do espiritualismo (ou personalismo) contemporâneo, especialmente na sua reação ao idealismo romântico, que é sempre tendencialmen-te panteísta. O teísmo foi explicitamente defendido tanto pelo espiritualismo que reagiu ao hegelianismo clássico (Fichte Júnior, Lotze e outros) ou ao positivismo (Renouvier, Boutroux e outros), quanto pelo espiritualismo que reagiu ao neo-idealismo romântico surgido nas primeiras décadas do séc. XX na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Itália, do qual o próprio espiritualismo extrai muitos dos seus temas. (V. para o teísmo anglo-saxão W. E. Hocking, Meaning of God in Human Experience, 1912; A. Seth Pringle-Pattison, The ldea of God in the Light of Recent Philosophy, 1917; Clement C. J. Webb, God and Personality, 1920, etc. Para o teísmo italiano: as obras de Carlini, Guzzo, Sciacca e outros). [Abbagnano]


A crença num Deus pessoal e vivo. — Distingue-se do deísmo, que crê em Deus mas recusa-se a dizer o que seja ele e renuncia a representá-lo; o teísmo, na realidade, pensa poder determinar a natureza de Deus, atribui-lhe um certo número de qualidades (bom, poderoso, criador do mundo etc.) e finalmente representa-o em símbolos religiosos. O teísmo contrapõe-se ao ateísmo e frequentemente ao panteísmo: diz-se, por exemplo, que o panteísmo de Spinoza era um ateísmo, na medida em que sua doutrina recusa toda ideia de um deus pessoal e vivo, identificando Deus à necessidade anônima e universal que rege todas as coisas na natureza. O teísmo é a religião do homem comum. (V. Deus.) [Larousse]


É a doutrina que considera Deus como Ser pessoal supramundano, o qual, por seu ato criador, chamou o mundo do nada à existência (criação). Enquanto o politeísmo admite uma pluralidade de seres divinos, embora muitas vezes sob a hegemonia de um deus supremo, e o henoteísmo, a despeito da pluralidade de deuses, se dirige, na oração ou culto, a um só deus, como se fosse o único, o teísmo, como monoteísmo, adere teórica e cultualmente ao Deus único, além do qual não há nem pode haver outro. Consequentemente, rejeita também um princípio contrário absoluto, que fosse autor do mal ou da matéria (dualismo). Em face do deísmo, defende tanto a conservação das criaturas por Deus e sua contínua cooperação, quanto sua providência e a possibilidade de intervenção extraordinária pela revelação e pelo milagre. O teísmo diferencia-se radicalmente do panteísmo, por sublinhar o caráter pessoal de Deus e a diversidade substancial de Deus e do mundo (transcendência). — Rast. [Brugger]