soma

(do gr. soma, corpo, no genitivo, somatos).

a) Empregado nas ciências naturais e na linguagem filosófica, compondo-se em palavras como: somático, somatologia, etc.

b) (do lat. summa, adição, resultado das quantidades adicionadas). O número ou quantidade equivalente às parcelas reunidas.

c) Na matemática, além da acepção acima, mais precisamente, operação que consiste em alcançar o resultado ou equivalência de muitos números ou quantidades.

d) No sentido usado pelos escolásticos nas Summas Theologicas significa resumo, síntese, reunião das partes essenciais da matéria tratada. Neste sentido pode ser empregado para qualquer disciplina, porém a preferência é pelo termo sumário. [MFSDIC]


sôma (tó) / soma : corpo. Latim: corpus. Plural: sômata / somata. Latim: corpora.

Realidade sensível (tò aisthetón / v. aisthesis) oposta à realidade inteligível (tò noetón / v. noeton).

Deve-se distinguir o corpo humano (habitualmente no singular), o corpo do mundo (tomado em seu Todo) e os corpos do mundo sensível (habitualmente no plural). Entre estes, os corpos simples (haplâ / hapla), que são primeiros (prôta / prota), e os corpos compostos (syntheta ou miktá), que são segundos.

No singular:

a. O corpo humano. Os pitagóricos construíram toda uma antropologia das relações entre alma e corpo. A alma é independente do corpo porque autônoma (Arquitas, fr. 3c); se está neste mundo unida a um corpo, é “como punição de certas faltas” (Filolau, fr. 23d); no entanto,”a alma gosta de seu corpo, porque sem ele não pode sentir” (ibíd., fr. 23a). Mas, como essa união é antinatural, o corpo é um túmulo para a alma (Platão, Górgias, 493a); por isso, o filósofo é aquele que, pelo exercício espiritual, consegue escapar ao corpo (Pitágoras, Palavras de ouro, 70). A mesma doutrina está em Platão: é pela violência que a alma está presa ao corpo (Fédon, 81 e; Timeu, 44a); ela está amarrada (Fédon, 82c), acorrentada (ibid., 83b), colada (ibid., 82e), pregada (ibíd., 83c). A filosofia consiste em desligar a alma do corpo (ibid., 61 à, 82d, 83a-b); a morte é, finalmente, a separação (apallagé / apallage) entre alma e corpo (ibid., 64c); então, a alma do filósofo, liberta do corpo, “vai-se em direção ao que é divino” (ibid., 8la). A mesma filiação se observa quanto à transmigração das almas: segundo Pitágoras, “a alma passa de um corpo ao outro segundo leis definidas” (Hipólito, Philosophoumena, I, Prol.). Platão atribui essa doutrina a “uma antiga tradição” (Fédon, 70c), que ele adota (ibid., 81e-82b).

Para Aristóteles, o corpo forma uma substância única com a alma; a alma é então enteléquia (entelékheia / entelekheia) do corpo (De an., III, 1); assim,”a alma não é separável do corpo” (ibid.), pois é para ele “causa e princípio”: aitía kai arkhé / aitia kai arkhe. Para Epicuro, a sabedoria está no prazer, que para o corpo consiste em não sofrer e, para a alma, em não ser perturbada (Carta a Meneceu, in D.L., X, 131). Para o materialismo estoico, a alma é um corpo (Sexto Empírico, Adv. math., VII, 38). Plotino escreveu um tratado sobre A descida da alma ao corpo (IV, VIII), que começa com esta frase:”Frequentemente, acordo escapando de meu corpo.” Adota a transmigração (VI, IV, 15).

b. O corpo do Mundo. Para Melisso, “se o Uno existe, não tem corpo” (Simplício, Física, 109). Para Platão, o mundo é um corpo inteiramente penetrado por uma alma (Timeu, 34b, 36c). Para os estoicos, o Universo é um grande corpo (Sexto Empírico, Adv. math., VIII, 10). Plotino diz: “O corpo do Universo tem ações e paixões” (VI, V, 10).

No plural:

Platão chama de corpos os quatro elementos tradicionais: fogo, terra, água, ar (Timeu, 53c-e). Aristóteles define como um corpo “aquilo que é limitado por uma superfície” (Fís., III, 5, 204b). Mais adiante (VIII, 9), distingue dois tipos de corpo: os corpos primeiros (prôta / prota), que são indivisíveis (átoma / atoma), e aqueles que são oriundos da composição destes. Em De gen. et corrup., defende a tese de que os corpos não são divisíveis indefinidamente (II), mostra que é nos corpos que ocorre a alteração (alloíosis / alloiosis) (IV), assim como, aliás, o aumento e a diminuição (V). Em De anima (II, 1), ele distingue entre os corpos naturais (ou primeiros) aqueles que têm vida e aqueles que não a têm. Em De caelo, apresenta os corpos como partes do universo (I, 1), e esses corpos naturais são todos móveis (I, 2); e retoma a dupla noção de corpo simples (haploûn / haploun) e de corpo composto (sýntheton / syntheton) (I, 5). A mesma distinção está em Epicuro (Epístola a Heródoto, D.L.,VII, 141). Para Plotino, os corpos extraídos da matéria por uma operação formal são definidos, mas sem vida nem inteligência (II, IV, 5). [Gobry]