(in. Reduction; fr. Reduction; al. Reduktion; it. Riduzioné).
1. Transformação de um enunciado em outro equipolente mais simples ou mais preciso, ou capaz de revelar a verdade ou a falsidade do enunciado originário. Fala-se também de “redução da ciência aos termos da experiência imediata” (Quine, From a Logical Point of View, II, 5) ou de redução das extensões às intenções, das classes às propriedades (Carnap, Meaning and Necessity, §§ 23, 33).
2) Explicação que consiste em considerar que certas ordens de fenômenos estão sujeitas a leis mais bem estabelecidas ou mais precisas que uma outra ordem de fenômenos; p. ex., a que consiste em considerar que os fenômenos orgânicos estão submetidos às leis dos fenômenos físicos, enquanto estes últimos estão sujeitos às leis dos fenômenos mecânicos. (Sobre este tipo de explicação, cf. E. Nagel, “The Meaning of the Reduction in the Natural Sciences”, 1949, em Science and Civilization, ed. redução T. Staufer, 1949, pp. 99-138.)
3) Por redução fenomenológica Husserl entendeu a epoché fenomenológica, que é a neutralização da atitude natural, ou pôr o mundo entre parênteses (Ideen, 1, §§ 56 ss.). Às vezes, mais particularmente, ele entendeu por redução o momento positivo da epoché, que é o da reflexão interna sobre o ato, em busca de captar o ato em sua intencionalidade (cf. especialmente Krisis, 1954, p. 247).
4) Quanto a redução aos princípios, v. retorno, 2. [Abbagnano]
O processo imaginativo praticado pela fenomenologia e que consiste em variar-se o conteúdo de uma imagem (por exemplo, em representar-se uma diversidade indefinida de triângulos particulares) para destacar-se a “essência” do fenômeno considerado (a essência universal do triângulo como “figura formada pelos segmentos de reta unindo três pontos não alinhados”). No Esboço de uma teoria das emoções, Sartre praticou essa redução para destacar, da descrição indefinitivamente variada das emoções individuais, a essência ou a natureza universal do fenômeno e a emoção como conduta humana em geral, suscetível de ser conduzida à “recusa de uma situação”. Essa redução dos fenômenos à sua essência denomina-se redução eidética. — Distingue-se da redução fenomenológica propriamente dita, que consiste em suspender-se todo juízo de existência e em contentar-se em observar o que aparece: por exemplo, a análise de uma religião só pode ser verdadeiramente compreensiva se suspendermos todo o juízo crítico quanto ao seu valor de verdade; é uma atitude de objetividade, uma “colocação entre parênteses” da atitude natural, parcial e individual. Quando essa redução é exercida por ocasião do espetáculo do mundo, da percepção dos objetos, o espírito suspende sua crença natural na realidade das coisas e toma consciência de sua atividade constituinte originária: toma consciência que o sentido das coisas é produzido pelo espírito. A redução fenomenológica, ou suspensão do juízo de realidade, toma então o nome de redução transcendental (consciência das operações espirituais que condicionam nossa percepção das coisas); prepara o segundo momento da análise fenomenológica, o da constituição. (Essa última interpretação da redução, como o inverso é o complemento da constituição, é própria às obras de Husserl em seu período de maturidade: Experiência e Juízo [Erfahrung und Urteil] e [Ideias] Ideen.) [Larousse]
1. Em lógica chama-se redução, em primeiro lugar, à redução das figuras do silogismo à primeira figura; em segundo lugar, ao método de prova indireta chamado às vezes raciocínio apagógico e com mais frequência redução ao absurdo e redução ao impossível. Neste último caso trata-se de um método indireto de demonstração que prova a verdade de uma proposição pela impossibilidade de aceitar as consequências que derivam da sua contraditória. Os escolásticos definiram a redução ao absurdo como um procedimento no qual se submerge no antecedente a contraditória da conclusão negada com uma das premissas já admitidas e inferindo de um modo perfeito a conclusão incompatível com uma das premissas aceites. O que se faz então é supor como admitidas as premissas e como negada a conclusão do silogismo que se trata de demonstrar. Alguns supõem que a redução ao absurdo é absolutamente certa e concludente; outros, em contrapartida, consideram-na menos certa que uma prova direta.
A redução é um método que se contrapõe ao da dedução. Na dedução derivam-se umas proposições de outras por intermédio de regras de inferência. Na redução deriva-se o antecedente de um condicional da afirmação do consequente. Exemplo:
Se Pedro fuma, Pedro tosse Pedro tosse Pedro fuma.
2. Na fenomenologia, a redução é um processo pelo qual se põem entre parênteses todos os dados, convicções, etc, a que se referem os atos, para voltar sobre os próprios atos. A redução pode ser de duas espécies: na redução eidética põem-se entre parênteses todos os fenômenos ou processos particulares com o fim de atingir a essência. Na redução transcendental, chamada também propriamente _fenomenológica, põem-se entre as próprias essências para atingir o resíduo fenomenológico da consciência transcendental. Segundo Husserl, o método da redução fenomenológica permite descobrir um novo reino da experiência e até criar uma nova experiência, desconhecida dos homens antes da fenomenologia.
3. Num sentido mais geral, embora em vários pontos aparentado com as últimas acepções mencionadas, a redução é o ato ou o fato de transformar algo num objeto considerado como anterior ou mais fundamental. A redução pode referir-se, evidentemente, tanto a um objeto real como a um objeto real. No primeiro caso é uma forma da recorrência ou até a própria recorrência pela qual um estado mais desenvolvido se converte num estado menos desenvolvido. Por isso se chama também à redução, conforme os casos, regressão ou involução.. No segundo caso, a redução equivale à passagem do fundamento ao seu fundamento. Dentro deste último conceito podem incluir-se as múltiplas teorias reducionistas que proliferaram ao longo da história da filosofia. A tese segundo a qual uma realidade determinada “não é se não” uma realidade que se supõe “mais real” ou “mais fundamental” é a expressão comum de todas as atitudes reducionistas. Estas têm, sem dúvida, uma justificação no postulado da necessidade de simplificação das lei, mas ao mesmo tempo deparam-se-lhe dificuldades derivadas não só da irredutibilidade ontológica que resulta de uma pura descrição das coberturas do real, mas das próprias exigências teóricas das ciências. Quando se usa o termo redução é preciso acordo prévio, não só acerca do significado lógico, psicológico ou fenomenológico, mas também acerca de se por ele se entende a afirmação de que uns entes podem reduzir-se a outros ou simplesmente a tese de que os enunciados correspondentes a uma esfera do real podem traduzir-se por enunciados pertencentes a outra esfera. Por outras palavras, importa sobretudo saber se afirma um reducionismo ontológico ou um reducionismo linguístico. [Ferrater]
Esta reflexão exigirá em Husserl uma nova forma de sistematização que toma para ponto de partida a situação do sujeito (eu, ego) que reflete sobre a natureza orgânica e psíquica o mundo em geral como totalidade. É a diferença de atitude a respeito desta totalidade do mundo que caracteriza a passagem a uma reflexão de um novo tipo. Esta reflexão toma o nome de «redução». Num primeiro sentido, a redução corresponde em Husserl ao que ele designa «posto entre parêntesis», epoche, ou «suspensão da tese do Mundo».
Em presença do «mundo», duas atitudes são, com efeito, possíveis: uma, a atitude natural ou psicológica e comandada pela «fé no ser do mundo da experiência», quer dizer, perdida na tese (posição) do mundo e de suas objectivações; a outra, que é o próprio da convenção ou redução fenomenológica, «reduz» o mundo ao seu lado puramente imanente, incluindo-o como puro correlato intencional. Husserl chamá-lo-á o «noema mundo» do ato puro (noese) que o visa. A primeira redução fenomenológica tem por fim libertar esta esfera ou ser absoluto da consciência pura (Idées, § 49) perfeitamente «fechada» nela mesma.
Mas não se deve entender esta primeira redução como uma supressão do mundo. Aquilo que é destruído (ibid.) é a nossa crença ingênua no seio do mundo pré-dado na experiência. O epoche fenomenológico não é, como a dúvida em Descartes, uma dúvida a respeito da realidade do mundo. Ela não visa separar, por exemplo, a consciência como «alma», do corpo. Porque ela suprime também qualquer «posição» a respeito de um «existente» que seria «a alma». Trata-se nela de uma clivagem muito particular que não separa duas «coisas» uma da outra, mas que revela, pelo contrário, pela intencionalidade, a sua indissociável relação. A redução suprime o «valor de ser» conferido ao mundo na atitude natural, mas ela revela-lhe o sentido, quer dizer que desempenha um papel de revelador das intencionalidades dissimuladas pela crença ingênua no mundo: «o nosso olhar libertado por este epoche abre-se então sobre o fenômeno universal: o universo da consciência puramente como tal…» e, correlativamente, sobre «o fenômeno universal do mundo existente para mim» (Posfácio a Idées). [Schérer]