oposição

(gr. psa antikeimena; lat. oppositio; in. Opposition; fr. Opposition; al. Gegensatz, Opposition; it. Opposizionè).

Relação de exclusão entre termos ou objetos em geral. Aristóteles distinguiu quatro formas de oposição: 1) oposição correlativa, como p. ex. entre o dobro e a metade; 2) oposição contrária, como entre o bem e o mal, o branco e o preto, etc.; 3) oposição entre posse e privação, como entre a visão e a cegueira; 4) oposição contraditória, que é a contradição (Cat., 10,11 b 15 ss.) (v. em cada uma destas formas os verbetes separadamente: contradição; contrariedade; correlação; posse; e ainda quadrado dos opostos). [Abbagnano]


Existe oposição entre dois conteúdos, quando a posição ou afirmação de um exclui, de algum modo, a posição do outro. Consoante o modo desta exclusão, são várias as espécies de oposição. Irredutível é a exclusão na oposição contraditória entre ser e não ser e, consequentemente, também entre qualquer conteúdo (que de algum modo participe no ser) e sua negação. Por isso, a oposição contraditória não admite intermédio. — Quando dois conteúdos, que são algo existente, positivo, se excluem dentro de um círculo limitado, p. ex., dentro do mesmo gênero, do mesmo indivíduo ou da mesma situação espacial e temporal (como alegria e tristeza, branco e preto), diz-se que há oposição contrária. À oposição contrária, em sentido estrito, pertence, outrossim, a maior distância possível entre os opostos dentro da esfera comum. Portanto, os opostos contrários permitem a existência de um intermédio. — Entre uma perfeição e sua carência (p. ex., saúde e enfermidade), bem como entre o portador (sujeito) de uma perfeição e aquele que dela está privado (sadio e enfermo), existe uma oposição privativa (privação). — Relativa é a oposição existente entre relações que reciprocamente se contrapõem, bem como entre os sujeitos das mesmas (p. ex., pai e filho). As relações desta espécie excluem-se só de modo meramente relativo, ou seja, no mesmo sujeito e na mesma direção, mas são exigidas simultaneamente em diversos sujeitos e em direção inversa. Os opostos relativos enquanto tais não admitem intermédio. — A combinação de oposição contrária e de oposição relativa denomina-se oposição polar ou polaridade (cf. os polos do globo terrestre, homem e mulher). Os opostos polares exigem-se reciprocamente e consentem um intermédio, não porém da direção da oposição relativa.

Segundo o conteúdo, distinguimos a oposição de conceitos, juízos, entes reais e princípios constitutivos destes. Exemplos de oposição conceptual podem ver-se acima. No que tange aos juízos simples categóricos, há oposição contraditória (contradição) entre juízos do mesmo conteúdo, um dos quais é universal (ou particular) afirmativo e o outro particular (ou universal) negativo (p. ex., todas as árvores têm raízes. — Algumas árvores não têm raízes). Não podem ser ambos simultaneamente verdadeiros, nem ambos simultaneamente falsos. Da verdade de um infere-se a falsidade do outro, e vice-versa. Entre juízos universais do mesmo conteúdo, um dos quais é afirmativo e o outro negativo, há oposição contrária (p. ex., todas as árvores têm raízes — Nenhuma árvore tem raízes). Não podem ser ambos verdadeiros simultaneamente, mas podem ser simultaneamente falsos. Da verdade de um infere-se a falsidade do outro, mas não vice-versa. Entre entes reais e seus princípios constitutivos pode haver oposição contrária, privativa, relativa e polar, nunca porém contraditória. A categoria das oposições polares pertence também a oposição dinâmica entre esforços e atividades, a qual pode permanecer oculta no equilíbrio de forças. Entre os princípios internos do ser (princípios do ser) constitutivos de um ente, impera a polaridade. Se esta não é integral por causa da transcendência de um dos princípios parciais (p. ex., no homem), surge a possibilidade de um conflito dinâmico no mesmo sujeito (sensibilidade e espírito). — identidade, distinção, relativo, ação recíproca. — Brugger.


I. A OPOSIÇÃO NA LÓGICA: É mister distinguir entre a oposição nos termos e a oposição nas proposições. Segundo Aristóteles, as acepções habituais na oposição são:

1) oposição de termos relativos, ou do relativo (por exemplo, entre o dobro e a metade);
2) oposição de termos contrários, ou do contrário (por exemplo, entre o mal e o bem);
3) oposição da privação à posse (por exemplo, entre a cegueira e a vista);
4) oposição da afirmação à negação, ou do contraditório (por exemplo, entre “está sentado” e “não está sentado” ou entre justo e não justo).

Seguindo Aristóteles, os escolásticos estudaram a oposição nos termos ou, como também se diz, nas ideias enquanto ideias associáveis. A oposição expressa a repugnância de uma ideia ou de um coisa relativamente a outra coisa. Há também quatro espécies de oposição:

1) oposição contrária (entre uma ideia ou uma coisa e a sua negação). Homem e não homem são ideias contraditórias;
2) oposição primitiva (forma ou propriedade e sua ausência no sujeito); visão e cegueira no homem são ideias opostas privativas;
3) oposição primeira (entre as ideias ou as coisas do mesmo gênero, mas que não podem unir-se simultaneamente no mesmo sujeito). Virtude e vício são ideias opostas contrárias;
4) oposição relativa (entre dois ou mais entes articulados com uma mesma ordem). Pai e filho são ideias opostas.

A oposição nas proposições estuda-se nas proposições categóricas e nas proposições modais:… Consideremos as primeiras.

A oposição nas proposições categóricas define-se como a afirmação e a negação da identidade do predicado e do sujeito, também chamada afirmação e negação do mesmo predicado relativamente ao mesmo sujeito. Exemplo de oposição de proposições é a que existe entre a proposição “João e prudente” “não é verdade que João seja prudente”. Os lógicos estabelecem várias classes de oposição lógica entre proposições.

Oposição contraditória. As proposições opõem-se não só em qualidade, mas também em quantidade.

Oposição contrária. As proposições opõem-se em qualidade, mas não em quantidade, sendo ambas universais. oposição subcontrária. As proposições opõem-se em qualidade, mas não em quantidade, sendo ambas particulares.

Não deve confundir-se a negação de uma proposição com a negação de um dos seus termos.

II A OPOSIÇÃO NA METAFÍSICA: Várias formas de dualismo e de pluralismo metafísicos empregam a noção de oposição. Entendem por ela o modo de relação entre realidades contrárias. Essas realidades são concebidas comummente como interdependente.. A noção de oposição metafísica foi usada por muitos pensadores. Os antecedentes mais ilustres são Heráclito e o Platão dos últimos diálogos. De um modo explícito, foi apresentada por Nicolau de Cusa, para o qual uma das questões filosóficas centrais consiste em descobrir uma coincidência dos opostos. O filósofo moderno que fez uso mais frequente do conceito de oposição metafísica, Hegel, seguiu uma via análoga à de Nicolau de Cusa. Para Hegel, a oposição é a determinação própria da essência. Isto significa que a diferença, cujos aspectos indiferentes constituem simplesmente momentos de uma unidade negativa, é a oposição. Em suma, a oposição metafísica supõe um encontro dos contrários e, segundo Hegel, a superação da lógica da identidade. [Ferrater]