liberdade de Deus

Deus é livre em relação ao exterior (ad extra), quer dizer: pode criar ou não criar, fazer isto ou aquilo. Sua liberdade é, portanto, liberdade de eleição ou de opção, não um puro operar por necessidade de sua natureza (Spinoza) ou uma plena independência do exterior (Hegel). Deus não criou o mundo por um impulso interior consciente (panteísmo), nem por coação psicológica, como se devesse escolher sempre o objeto melhor (Leibniz, otimismo), nem por coação moral, porque se amasse necessariamente nas criaturas (Rosmini). — A liberdade divina coincide com a humana, em que ambas significam uma livre escolha perante diversos objetos. Contudo o homem pode escolher entre o bem moral e o mal moral; Deus, só na esfera do bem. O homem escolhe, não só entre diversos objetos, como também entre diferentes atos da vontade, mediante os quais tende para aqueles objetos. Deus pode escolher somente entre objetos diferentes, porque o seu querer é um ato único e imutável, idêntido com sua própria existência e essência (vontade de Deus).

A antinomia entre o ato eterno da vontade e a liberdade divina, que parece incluir reflexão e sucessão, resolve-se apelando para o saber infinito de Deus que tudo abarca num só ato. Ao sumo podemos distinguir momentos lógicos, condicionados entre si, p. ex., Deus vê, desde toda a eternidade, a oração suplicante e desde toda a eternidade resolve atendê-la. — A antinomia entre a liberdade e a imutabilidade de Deus é resolvida da seguinte maneira pelos representantes clássicos de escolástica: Deus, por um ato único infinito da vontade, pode fazer o que às criaturas finitas só seria possível mediante diversos atos, do mesmo modo que em sua perfeição infinita possui em si de modo eminente todos os valores ontológicos dispersos nas criaturas; por outras palavras pode, pelo ato necessário de seu ser, graças ao qual se ama necessariamente, querer livremente objetos contingentes. A liberdade divina pressupõe a possibilidade de coisas contingentes, por isso o panteísmo nega sempre ambas. — Rast. [Brugger]