(gr. to hyparkein; lat. existentia; in. Existence; fr. Existence, ai. Existenz; it. Esistenza).
Em geral, qualquer delimitação ou definição do ser, ou seja, um modo de ser de algum modo delimitado e definido. Este, que é o significado mais geral, também pode ser considerado um dos significados particulares do termo, do qual é possível, então, enunciar três significados: 1) o modo de ser determinado ou determinável; 2) o modo de ser real ou de fato; 3) o modo de ser próprio do homem.
1) Como modo de ser determinado ou definido de certo modo, esse termo costuma ser usado na linguagem comum e nas diversas linguagens científicas. Fala-se, com efeito, da existência de entes matemáticos e há, em matemática, um “teorema de existência”. Analogamente, fala-se de existência “lógica” ou “conceitual” ou ainda de existência “fantástica”, do mesmo modo que os escolásticos falavam da existência “no intelecto” ou da existência “na realidade”; fala-se também de existência “em si” (da substância) ou de existência “em outra coisa” (das qualidades ou acidentes da substância). Todos esses casos só não têm em comum certa delimitação do significado de ser que, nas ciências exatas, baseia-se em definições precisas. Assim, no campo da matemática, a partir de Hilbert, existência é entendida como ausência de contradição; quando se afirma que a solução de um problema existe, pretende-se dizer simplesmente que nenhuma contradição impede admitir a existência da solução. Um teorema de existência é a prova rigorosa de que a solução existe (nesse sentido), mesmo que ainda não tenha sido descoberta. Esse é, pelo menos, o critério ao qual continua ligada certa escola de matemáticos contemporâneos, a dos formalistas, encabeçados por Hilbert. A outra escola, a dos intuicionistas, que tem à frente Brouwer e Heyting, assume como critério de existência em matemática a possibilidade da construção e julga que não se pode falar de entes matemáticos que não possam ser construídos. Em um sentido ou em outro, porém, o conceito de existência é definido com precisão em matemática e não se fala de existência em sentido diferente, nessa disciplina. Por outro lado, é fácil ver que esse mesmo conceito de existência não tem sentido fora da matemática e, portanto, não pode ser estendido a campos diferentes. Se passarmos da matemática à física logo veremos que a existência dos entes de que ela fala é sempre implicitamente definida pelas operações de medida ou verificação que servem para estabelecer a observação desses entes. Analogamente, ainda, a existência de que se pode falar no domínio da lógica é a definida pelas operações a que o objeto lógico pode ser submetido e se reduz, em última análise, à ausência de contradição. As chamadas ciências “morais” também se fundam em definições implícitas ou explícitas da existência Em direito, uma lei “existe” se foi formulada, aprovada e promulgada nos modos e nas formas previstos na Constituição do Estado. E um fato existe do ponto de vista jurídico se pode ser “provado” nas formas ou nos modos de lei, e qualificado em conformidade com as próprias leis. De forma semelhante, em economia, a existência de um evento consiste na possibilidade de ele ser observado como uniformidade estatística ou quase estatística. Em geral, toda ciência ou disciplina define de algum modo, explícita ou implicitamente, o significado a ser dado à palavra “existência” em seu âmbito.
Carnap distinguiu o problema interno da existência (interno a determinado campo, p. ex., à matemática, à física ou à lógica) e o problema externo da mesma existência O problema interno sempre pode ser resolvido empiricamente (quando se refere à realidade de fato) ou logicamente, quando se refere a proposições analíticas. O problema externo é, ao contrário, o que se refere à “existência ou realidade do sistema total das entidades”. Assim, p. ex., existir ou não dado número primo é um problema interno da aritmética. Mas se existe ou não o sistema dos números ou qual é a realidade dos números em seu conjunto são problemas externos que não têm resposta, sendo, por isso, pseudo-problemas, semelhantes ao da realidade do mundo externo ou à disputa entre nominalismo e realismo, que o Círculo de Viena já declarara desprovidos de sentido (Meaning and Necessity, A 3). O caráter inevitável do compromisso antológico, ou seja, da decisão acerca do significado ou dos significados que devem ser atribuídos à existência nos diferentes campos de indagação, foi evidenciado por Quine, que também ressaltou o fato de esse compromisso ontológico não ser meramente linguístico, mas se assemelhar à aceitação de uma teoria científica (From a Logical Point of View, 1). A exigência desse compromisso obviamente é maior no domínio da pesquisa científica. A linguagem comum é muito menos precisa ao definir o modo de ser dos objetos aos quais atribui alguma espécie de existência. Seria por certo embaraçoso explicar com precisão o que se pretende dizer quando se afirma, p. ex., que o objeto x tem existência “puramente fantástica” ou “puramente ideal”, assim como é difícil dizer que tipo de existência cabe a um valor qualquer, como, p. ex., à beleza. Mas o que interessa aqui destacar é que, mesmo quando falta determinação precisa, como muitas vezes ocorre na linguagem comum, sempre está presente no uso da palavra “existência” a referência a uma esfera limitada do ser ou à possibilidade de delimitá-la. Em geral, podemos dizer: à) a palavra “existência” possui significado próprio no âmbito de cada disciplina, que é explicitamente expresso ou implicitamente definido pelas operações ou pelos procedimentos peculiares à disciplina; b) tal significado em geral só é válido no âmbito a que se estendem os instrumentos ou procedimentos da disciplina, ou seja, no campo específico dos objetos dessa disciplina, mas não tem significado fora desse campo e não pode ser estendido a campos diferentes, que não tenham relações definíveis com o campo em questão.
2) O significado de existência como existência de fato, vale dizer, aquilo que na realidade é ou subsiste, é o mais frequente na história da filosofia. Aristóteles usava essa palavra com esse sentido ao dizer: “A ciência dá a razão de ser tanto de uma coisa quanto da sua privação, embora de modo diferente; a razão de ser é de ambas as coisas, mas especialmente daquilo que existe” (Met., IX, 2, 1046 b 6; cf. De cael., II, 14, 247 b 22). Do mesmo modo, a palavra é usada por Tomás de Aquino com o fim de definir a subsistência (subsistentia) própria da substância, porquanto esta “existe não em outra coisa, mas em si mesma” (S. Th., I, q. 29, a. 2), ou de definir “o que é existente por si”, quer dizer, o que é real sem ser qualidade ou acidente de outro real (Ibid., I, q. 75, a. 2). Obviamente, para Tomás de Aquino, mesmo aquilo que não é “por si” pode ser considerado existente, como p. ex. um acidente real. A esfera da existência como realidade de fato é definida mais explicitamente por Henrique de Gand, que introduz a distinção entre esse essentiae e esse existentiae. O ser da essência é o grau ou modo de ser que cabe à essência como tal, independentemente do ser da existência; o ser da existência é a realidade efetiva que pode sobrevir ou não ao ser da essência. Uso análogo dessa palavra encontra-se em Spinoza (Et., 1,7), e em Leibniz (Nouv. ess., II, 7), além de Locke, que, para evitar equívocos, fala de “existência real” (Ensaio, II, 3, 21). existência também é realidade para Berkeley (Principles of Knowledge, 3) e Hume (Treatise, I, 3, 7). Justamente por considerar a existência como realidade de fato, Kant nega que ela possa ser reduzida a um predicado conceitual (Crít. R. Pura, Analítica, II, cap. 2, seç. 3, 4). Na filosofia contemporânea, a palavra é usada no mesmo sentido. Quando Dewey define a metafísica como “conhecimento das características genéricas da existência” e fala da pretensão dos filósofos “de lidar com o conhecimento da existência e não com a imaginação”, entende por esse termo a realidade de fato, independentemente do embelezamento e da deformação que ela sofre na descrição dos filósofos (Experience and Nature, cap. II). Para mais detalhes sobre esse significado, v. ser; fato; realidade.
3) O terceiro significado específico desse termo é o que restringe ao modo de ser do homem no mundo. Esse significado encontra-se no existencialismo (v.) como filosofia, cujo tema é a análise desse modo de ser. Já nos séculos XVIII e XIX a alguns filósofos ocorreu insistir no significado específico da existência como modo de ser das criaturas finitas, dos entes criados. Vico observou que Descartes não deveria ter dito “Penso, logo sou”, mas “Penso, logo existo”; a existência é o modo de ser próprio da criatura, porquanto significa estar embaixo ou em cima, e supõe substância, ou seja, o Ser divino que a sustem e a cria (Prima Risp. al Giorn. dei Lett., § 3). Essa distinção foi aceita e adotada por Gioberti (Intr. alio studio della fil., 1840, II, cap. 4), mas não era suficiente para fazer da existência o tema de uma nova especulação. Outro passo nessa direção pode ser visto na chamada “filosofia da fé” de Hamann e Jacobi, que insistiu na irredutibilidade da existência à razão. Para Jacobi, a filosofia de Spinoza era o protótipo de toda filosofia que identifica existência com razão e, portanto, não deixa lugar à fé. Contra Spinoza, recorre a Hume, que identificou a existência com a fé, ou melhor, com a crença (Hume, über den Glauben, 1787). Schelling aderiu a essa tese na última fase de sua filosofia, que ele chamou de filosofia positiva e expôs nas obras intituladas Filosofia da mitologia e Filosofia da revelação. Para Schelling, a razão só consegue determinar as condições negativas da existência, as condições que determinam o modo em que a existência deve ser pensada, dado que o seja. Mas a condição positiva, graças à qual o ser existe, extrapola a filosofia negativa ou racional porque é criação, vontade de Deus de revelar-se; só essa diz respeito ao quodsit, à existência (Werke, II, III, pp. 57 ss.). A polêmica de Schelling dirigia-se contra Hegel, assim como a de Jacobi visava a Spinoza. Mas mesmo nessas polêmicas a existência, conquanto não fosse considerada solúvel pela razão ou pelo conceito, não é identificada com o modo de ser específico do homem e própria dele apenas. Esse passo foi dado por Kierkegaard, que também preparou o instrumento fundamental para a análise da existência: o conceito de possibilidade. Kierkegaard remete-se explicitamente à polêmica, a que já aludimos, contra a redução de E, a conceito: “A existência corresponde à realidade individual, ao indivíduo (o que Aristóteles já ensinou); está fora do conceito, que, de qualquer forma, não coincide com ela. Para um animal, uma planta, um homem, a existência (ser ou não ser) é algo de muito decisivo; o indivíduo por certo não tem uma existência conceitual” (Diário, X2, A 328). Mas a existência como individualidade é apenas a existência humana. No mundo animal, é mais importante a espécie do que o indivíduo; no mundo humano o indivíduo não pode ser sacrificado à espécie. Nesse sentido, a singularidade da existência torna-a o modo de ser fundamental do homem. Tal modo de ser foi analisado por Kierkegaard no seu tríplice aspecto de relacionar-se com o mundo, consigo mesmo e com Deus. Mas nesses três aspectos o relacionar-se nada tem de necessário: é instável e precário. Em todo caso, não é constituído por laços fortes e imutáveis, mas por simples possibilidades que até podem ser perdidas. Aos olhos de Kierkegaard, portanto, a existência como modo de ser constituído pelas relações do homem consigo mesmo, com o mundo e com Deus é analisável em um conjunto de possibilidades cujo caráter é justamente não possuir, por si mesmo, nenhuma garantia de realização. Certamente Deus pode conferir segurança e infalibilidade a tais possibilidades (porque para Ele “tudo é possível”), mas até mesmo o relacionar-se do homem com Deus é apenas possível, e não necessário. Dessa interpretação da existência em termos de possibilidade nascem as características fundamentais da existência, que são a angústia, como relacionamento do homem com o mundo, desesperação, como relacionamento do homem consigo mesmo, e paradoxo, como relacionamento do homem com Deus (v. existencialismo).
Com isso, são estabelecidas as características da noção de existência, no significado em que geralmente é empregada pela corrente existencialista da filosofia contemporânea. A existência é: 1) o modo de ser próprio do homem; 2) o relacionamento do homem consigo mesmo e com o outro (mundo e Deus); 3) relacionamento que se resolve em termos de possibilidade. Essas características constituem a inspiração fundamental e comum das teorias da existência na filosofia contemporânea. Em virtude da segunda delas, diz-se que a existência é um modo de ser em situação, entendendo-se por situação o conjunto de relações analisáveis que vinculam o homem às coisas do mundo e aos outros homens. Na filosofia contemporânea, foi Heidegger o primeiro a formular uma análise da existência com bases nessas características. Em primeiro- lugar, ele restringiu rigorosamente o significado de existência ao modo de ser do homem, empregando, para indicar o ser dos outros entes finitos, o termo “presença” (Vorhandenheit): “A natureza do ser-aí consiste na sua existência As características que podem ser extraídas desse ente nada têm a ver portanto com as ‘propriedades’ de um ente presente ‘que tem este ou aquele aspecto’, mas são sempre e somente possíveis modos de ser. Toda modalidade de ser desse ente é primordialmente ser. Por isso, o termo ser-aí (Dasein), pelo qual indicamos tal ente, exprime o ser, e não a quididade, como ocorre quando se diz pão, casa, árvore” (Sein und Zeü, § 9). Heidegger afirmava com igual clareza a resolubilidade da existência, assim entendida em suas possibilidades. “O ser-aí”, diz ele, “é sempre a sua possibilidade, e ele não a ‘tem’ do mesmo modo como um ente presente [isto é, uma coisa] possui uma propriedade. Por ser essencialmente possibilidade, o ser-aí pode, em sendo, ‘escolher-se’ e conquistar-se, ou então perder-se, ou seja, não se conquistar, ou só se conquistar aparentemente. Ele só pode perder-se ou não se ter ainda conquistado porque, em seu modo de ser, comporta uma possibilidade de autenticidade, ou seja, de apropriar-se de si mesmo” (Ibid., § 9). Da natureza possível da existência deriva, portanto, para a existência a alternativa entre o modo de ser inautêntico, que é o da existência cotidiana e impessoal, dominada pela tagarelice, pela curiosidade e pelo equívoco, e a existência autêntica, que é a de quem reconhece e escolhe a possibilidade mais própria do seu ser. Essa possibilidade própria é a da morte: essa conclusão constitui a característica da filosofia de Heidegger (v. existencialismo). Mas as análises de Heidegger evidenciaram algumas características da existência que se mostraram válidas para compreendê-la e interpretá-la, mesmo fora dos compromissos ontológicos ou metafísicos de que partiam aquelas análises. A existência como possibilidade é transcendência para o mundo e, como tal, é ato de projetar. Mas o ato de projetar é, ao mesmo tempo, inclusão do ser-aí projetante no mundo e sua submissão às condições do mundo. “O projeto de possibilidades, em conformidade com sua essência, vai ficando cada vez mais rico do que a posse em que o projetante se achava anteriormente. Mas semelhante posse só pode pertencer ao ser-aí porque este, enquanto projetante, sente-se imerso no meio do ente. Mas, com isso, e em consequência de sua efetividade, o ser-aí já perde outras possibilidades. Mas é justamente essa perda de determinadas possibilidades do po-der-ser-no-mundo, implícita na inclusão no ente, que põe adiante do ser-aí com seu mundo as possibilidades realmente alcançáveis no projeto do mundo” (Wesen des Grundes, III; trad. it., p. 68). Para quem observa não só outras formas de existencialismo, mas também outras doutrinas contemporâneas (instrumentalismo, naturalismo, neo-empirismo) e a postura das ciências modernas em suas pesquisas sobre o homem (biologia, psicologia, sociologia), parece extremamente importante e fecunda essa interpretação da existência como ato de projetar, em que o projetante já está condicionado pelas coisas ou pelos entes de cujas relações parte seu projeto, encontrando-se por isso diante de possibilidades limitadas. Essa interpretação também serve de base para entender a liberdade finita do homem. Heidegger diz: “prova transcendental da finitude da liberdade do ser-aí é que o projeto concreto do mundo, em seu impulso, ganha força e só se torna posse com a perda [de possibilidades determinadas], Será que nisso não se mostra com clareza a essência finita da liberdade em geral?” (Ibid., III; trad. it., p. 69).
Essas características da existência são reconhecidas, ainda que com tônicas diferentes, pelas outras formas do existencialismo contemporâneo. Para Jaspers, também a existência é existência possível, definida pelas relações consigo mesma e com a Transcendência (Phil., I, p. 13). Mas são as relações com a Transcendência que dominam a existência na filosofia de Jaspers: as relações do homem consigo mesmo e com o mundo são consideradas apenas formas imperfeitas, aproximadas e, em última análise, ilusórias e desastrosas do relacionamento do homem com a Transcendência. Mas o relacionamento com a Transcendência não se inclui entre as possibilidades humanas: desse modo, essas possibilidades são examinadas e avaliadas com base naquilo que, para o homem, é uma impossibilidade efetiva e suprema (Ibid., III, pp. 4 ss.). Possibilidade, transcendência, projeto são também os termos com que a existência é analisada por Sartre, que, romanticamente, vê nela a aspiração para o infinito, definindo o homem como ‘o ser que projeta ser Deus” (L’être et le néant, 1943, p. 653). Embora a possibilidade existencial tenha sido o tema dominante do existencialismo contemporâneo, com muita frequência suas características específicas foram esquecidas ou negadas. Tais características podem ser assim expostas: 1) Uma possibilidade sempre tem dois aspectos inseparáveis, em virtude dos quais é, simultaneamente, possibilidade-de-sim e possibilidade-de-não. Nada garante a realização infalível de uma possibilidade, mas tampouco nada exclui infalivelmente a sua realização. Reduzir uma possibilidade ao seu aspecto positivo significa transformá-la em determinação necessitante, em alguma coisa que não pode não ser. Reduzir a possibilidade ao seu aspecto negativo significa transformá-la em uma determinação negativa igualmente necessitante, ou seja, em alguma coisa que não pode ser. Em ambos os casos, abandona-se o terreno da possibilidade para entrar no da necessidade. 2) A possibilidade é uma determinação finita, sujeita a limites e condições que, ao mesmo tempo em que a efetivam e validam, delimitam seu âmbito. Portanto, a frase “possibilidade infinita” deve ser considerada contraditória: uma possibilidade infinita é, na verdade, possibilidade de nada porque não comporta definição nem delimitação. Analogamente, a frase “todas as possibilidades” deve ser considerada sem sentido, se tomada sem outras determinações (do tipo, p. ex., “de que dispõe” ou “que a situação comporta”), visto que a totalidade absoluta das possibilidades constituiria a garantia infalível da realização de cada uma delas, privando-as precisamente do caráter de possibilidade. 3) Com os procedimentos disponíveis identifica-se um campo de possibilidades para estabelecer a distinção entre as possibilidades efetivas ou autênticas e as fictícias. Os domínios da indagação científica e da atividade humana em geral podem ser considerados campos de possibilidades nesse sentido (cf. Abbagnano, Struttura dell’Esistenza, 1939; Introduzione all’esistenzialismo, 1942, 4a ed., 1956; Possibilita e liberta, 1957). [Abbagnano]
(do lat. ex, exteriormente, e sistere, efetuar-se), fato de aparecer e manifestar-se exteriormente. — A existência é, então, própria de um ser animado e contrapõe-se ao simples “ser” das coisas. Na filosofia existencialista, “existir” é “projetar-se” fora de si mesmo, fazer projetos, arrancar-se a seu estado por meio de uma ação sempre nova. Segundo Sartre, assim se experimentaria a “liberdade”, que é o caráter fundamental da existência. Essa superação de si mesmo pode realizar-se em direção ao futuro, conduzindo então, segundo Heidegger, a tomar-se consciência da morte, na angústia; pode, entretanto, efetuar-se igualmente em direção ao passado, levando-nos a tomar consciência do fato de que nascemos, de nossa contingência e de nossa “facticidade”. A existência autêntica é a resultante desses dois projetos; é, então, a consciência de nossa finidade absoluta como seres “lançados no mundo” e “destinados à morte”. — Já Hegel distinguira, na Fenomenologia do espírito, as duas noções de existência e de vida: a existência é a “consciência da vida”, isto é, vida + consciência da morte. A vida é a vida orgânica; só a existência é própria do homem. [Larousse]
É um momento fundamental, que junto com o outro (essência) constitui e por isso caracteriza todo ente. Enquanto a essência diz “o que” uma coisa é, a existência exprime “que” uma coisa é. Quando uma coisa existe, ela não é apenas pensada ou imaginada, mas independentemente disso ela é simplesmente em si e por si, na realidade. Por isso, nos encontramos com ela, somos afetados passivamente por ela, experimentamos sua resistência, temos de contar com sua peculiaridade pré-dada e não podemos proceder com ela irrestritamente a nosso capricho, como sucede com o que é puramente pensado. Embora a consciência ingênua seja sempre inclinada a considerar como única realidade só o espacialmente visível, isso não pertence à essência da existência, porque, em nossos atos e em nosso eu, experimentamos um existente que existe realmente, embora não de maneira espacial-visível, e é mesmo realidade espiritual. Contudo nossa vida interior manifesta-se como um existente inscrito no tempo e, como tal, experimentável. Todavia o ser temporalmente experimentável não pertence à essência da existência, visto como Deus, absolutamente supra-temporal e fora de toda experiência, existe mais intensivamente que qualquer outro ente.
Do ponto de vista metafísico, há duas espécies de existência radicalmente diferentes, que já se entrevêem no que fica exposto. Nossa existência e a de todas as coisas do universo é limitada, de fato é só um ser-aí (em alemão: Da-sein), por outras palavras, um ser limitado a um determinado “aí” espacial e temporal. Esta limitação deriva de nossa essência finita, visto como só podemos receber o ser, participar no ser, na medida de capacidade dela. Uma essência finita não alcança portanto a plenitude do ser, nem se identifica com ele: a essência difere do ser no ente finito. Consequentemente, este existe de um modo não–necessário (contingente); porque sua essência, por si, não diz ser, pode ser ou não ser, ser existente ou meramente possível. Ao ente finito opõe-se o Ente infinito que exaure toda a plenitude do ser, cuja essência iguala o ser, identificando-se com ele. É o Ser subsistente e, portanto, pura e simplesmente necessário.
Dentro da esfera do finito, a filosofia existencial (filosofia da existência) põe em destaque dois modos fundamentais de existência. O infra-humano, o meramente existente, alcança sua realidade plena em seu puro ser-aí. Pelo contrário, o homem “compreende” o ser e, por isso, insere-se em sua decisão sobre o ser; só em sua execução ele encontra sua plena realidade, a qual sem dúvida pode malograr-se. Sendo assim, o homem é um existente que também em sua vivência própria é-aí, é ser-aí. Por isso, a filosofia existencial reserva para ele os nomes de “ser-aí” (Dasein) e, “existência” (Existenz). Assim, Heidegger chama o homem Da-sein (“ser-aí”) por ser o único ente intra mundano, no qual se verifica o “da” (aí) do “Sein” (ser). — A existência matemática corresponde a uma noção pertencente ao domínio das ciências matemáticas (1) em relação a uma determinada teoria, quando deve ser necessariamente pensada, de acordo com os axiomas e normas dedutivas da mesma, e (2), em sentido mais amplo e geral, quando pode ser concebida sem contradição. — Lotz. [Brugger]
Como derivado do latim, o termo existência significa “o que está aí” e, neste sentido, é equiparável à realidade. Seja como for, deve distinguir-se a existência enquanto tal das diversas entidades existentes. Aqui, trata-se pois de dilucidar a questão da natureza ou essência da existência e não de nenhum dos existentes. Apoiando-se em análises anteriores, Aristóteles defendeu que se entende a existência como substância, isto é, como entidade. A existência é a substância primeira enquanto é aquilo de que pode dizer-se algo e onde residem as propriedades. Quando a existência se une à essência, temos um ser. Dele podemos saber o que é precisamente porque sabemos que é. Ao averiguar quais são os requisitos da existência e ao utilizar neste sentido os conceitos de matéria e forma, de potência e ato, Aristóteles lançou as bases para muitas discussões posteriores acerca da relação entre a existência e o que faz a existência ser. Se chamamos a este último essência, temos a base para os debates sobre a relação entre essência e existência.
Embora os autores medievais tenham tido em conta o sistema de conceitos gregos, há diferenças básicas entre certas concepções gregas de existência e a maior parte das concepções medievais. Depressa os gregos tenderam a conceber a existência como coisa; os filósofos medievais, especialmente os de inspiração cristã, defenderam que há existências que não são propriamente coisas, e que nem sequer podem compreender-se por analogia com nenhuma coisa e que, contudo, são mais existentes do que outras entidades. É o caso de Deus, das pessoas, etc.. Pôsse em relevo que há, na filosofia medieval, duas concepções fundamentais da concepção entre essência e existência. De acordo com uma que pode designar-se como “primado da essência sobre a existência”, a existência concebe-se inclusive como um acidente da essência. É opinião de Avicena e de filósofos mais ou menos avicenianos. A outra pode chamar-se “primado da existência sobre a essência”. De acordo com ela, a essência é algo como a inteligibilidade da existência. É o caso de autores como S. Boaventura, S. Tomás, etc.
Equiparou-se muitas vezes o significado de existência e ser; isto suscitou o seguinte problema: dado algo que existe, pode perguntar-se dele o próprio existir? Alguns autores defendem que a existência é o primeiro predicado de qualquer entidade existente, sendo secundários todos os demais predicados. Isto significa que “a existência não existe”. Mas existem todas as entidades existentes. Outros autores negaram que a existência seja um predicado; entre eles destacou-se Kant com a sua célebre afirmação de que o ser não é um predicado real como podem sê-lo os predicados “é branco”, “é pesado”, por exemplo. Referir-se a algo e dizer dele que existe é uma redundância. Se a existência fosse um atributo, todas as proposições existenciais afirmativas não seriam mais que tautologias e todas as proposições existenciais negativas seriam meras contradições. Por outro lado, dizer de algo que é não significa dizer que existe. O e não pode subsistir por si mesmo: alude sempre a um modo no qual se supõe que é isto ou aquilo. E se enchermos o predicado por meio do existir, dizendo que determinada entidade existe, faltará todavia precisar a maneira, o como, o quando ou o onde da existência. De modo que, de acordo com isto, o “ser existente” não pode possuir nenhuma significação a não ser dentro de um contexto. Isto supõe que o conceito que descreve algo existente e o conceito que descreve algo fictício não são, enquanto conceitos, distintos. Examinando apenas o conceito, não podemos decidir se aquilo a que se refere existe ou não existe.
Pode perguntar-se, no existencialismo atual, deve tomar-se o termo existência num sentido tradicional. Examinaremos a doutrina de Kierkegaard e de Heidegger.
Para Kierkgaard, a existência é antes demais o existente, o existente humano. Trata-se daquele cujo ser consiste na subjetividade, isto é, na pura liberdade de eleição. Não pode falar-se, por conseguinte, da essência da existência; nem sequer se pode falar de a existência: deve falar-se unicamente de “este existente” ou “aquele existente”, cuja verdade é a subjetividade Kierkegaard, existir significa tomar uma “decisão última” relativamente à absoluta transcendência divina. Essa decisão determina “o momento”que não é nem a mera fluência do “tempo universal” nem tão pouco uma participação qualquer no mundo inteligível eterno. Por isso a filosofia não é especulação, é decisão; não é descrição de essências, é afirmação de existências. Há em Kierkegaard um “primado da existência” e em termos tradicionais um“primado da existência sobre a essência” tal como em muitos autores contemporâneos, como Nietzsche, Dilthey, Bergson, Sartre e até, em certo sentido, Heidegger, embora todos partam de supostos diferentes.
Heidegger usa o termo Dasein, que se traduz por vezes por existência, mas que não significa existência no sentido tradicional. O Dasein não é a existência em geral nem tão pouco uma entidade qualquer, mas o ser humano enquanto é o único ente que se interroga sobre o sentido do ser. Neste sentido, o Dasein tem uma clara preeminência sobre os demais entes. É necessária uma análise do Dasein que prepare o terreno para uma ontologia. O que aqui nos importa é sublinhar que o que e próprio desta existência não é aquilo que já é mas o seu poder ser. [Ferrater]
Existência: ex-sistência (estar aí, ex fora das causas) o que se acha na coisa, in re.
Existência é o fato de ser. Difere de essência, pois a existência consiste no fato de ser da essência.
Assim como se pergunta: “que é o ser?” pode perguntar-se: “qual o ser da existência? Em que consiste a existência, qual a essência da existência, bem como qual a essência da essência?
Metafisicamente: a existência (metafísica) é a imediata união da existência e da essência.
Há existências e existências, com suas essências menores em extensão.
Se a toda existência corresponde uma essência, nem a toda essência corresponde uma existência, pois uma essência pode ser possível. (Este é um pensamento escolástico).