exegese

Não obstante o acerto desta primeira conclusão — que o mito seja modo de se falar do homem e do mundo —, não podemos passar em silêncio sobre a falácia em que assenta a exegese alegórica: crer que o mito sucede, e não precede, a uma teoria cosmológica e antropológica, ou cosmo-antropológica, já elaborada, como se fosse só a expressão mais atraente de uma doutrina eriçada de dificuldades que desencorajariam o vulgo, desinteressado de pensar. Hoje, não há, seguramente, quem ouse acreditar em semelhante absurdo: pela história, bem se sabe que o mythos precedeu o logos. O que não se sabe nem se quer saber é que o próprio Projeto [projeto] da história nos oculta o que parece mais evidente, e o que mais evidente parece é que o mito não só uma vez precedeu o logos, mas que sempre o precede, que o precede em cada momento, que o precede em todos os momentos. Mas agora, o que entrou em pauta foi o mito tautegórico, o mito que vem carregado de significação, do mesmo modo e pelo mesmo modo em que se expressa. A pergunta fatal: «Que significa…?», a resposta é «o mitosignificação ao que por si a não tinha». Pois se a não tinha, certamente não poderia dar significação ao que quer que fosse e, muito menos, à fonte de todas as significações. Este mito ainda «significa», mas só no sentido em que «significar» significa dar significação, de dentro de si, e não o recebê-la de fora. O «fora» é significado insignificante em relação ao mito. O que não quer dizer que, depois, não possa tornar-se significante; mas a nova significação do já significado pelo mito não é, por sua vez, outro mito. Pode ser alegoria. Como veremos, mito ainda significa mundo e homem e certas correlações entre homem e mundo. E assim voltamos à primeira conclusão; seja alegoria, seja tautegoria, mito é só maneira de se falar do homem e do mundo. [EudoroMito:45]