eschaton — último, fim
Termo do qual deriva escatologia, enquanto a exposição das verdades reveladas sobre a segunda vinda em glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, sobre os eventos que a acompanharão e sobre o Reino dos Céus que ele realizará definitivamente.
E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no ===último=== (eschatos) dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no ===último=== (eschatos) dia. (João 6:39-40)
O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes ===últimos=== (eschatos) tempos por amor de vós; (1Pe 1:20)
Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o ===fim=== (eschatos), o primeiro e o derradeiro. (Rev 22:13)
Frithjof Schuon
*Escatología
*O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
**A salvação exotérica é a fixação do sujeito humano individual, ou da alma, na aura incorruptível do Objeto divino, se assim podemos nos expressar. A salvação esotérica é a reintegração do sujeito humano intelectual, ou do espírito, na Subjetividade divina. Este segundo modo de salvação — a libertação (moksha) dos vedantinos — implica o primeiro modo, pois o homem como tal jamais pode tornar-se Deus. Certamente, a substância imutável do homem, que coincide com o Supremo Si-mesmo, libera-se deste acidente que é o ego; mas não o destrói, assim como a realidade de Deus não impede a existência do mundo.
**A negação corânica da Cruz significa a recusa da redenção histórica como condição sine qua non da salvação, visto que, para os cristãos, a Cruz só tem sentido por essa redenção histórica, única e exclusiva. No âmbito do Cristianismo, a ideia de que a redenção é a priori a obra intemporal do Logos dos princípios, não-humano e não-histórico; a ideia de que ela pode e deve se manifestar de diferentes maneiras em várias épocas e em diversos lugares; a de que o Cristo histórico manifesta esse Logos num determinado mundo providencial, sem que seja necessário ou possível delimitar esse mundo de maneira exata; essa ideia, dizemos, é esotérica em relação ao dogmatismo cristão e seria absurdo exigi-la da teologia.
**A vontade livre escolhe horizontalmente entre o útil e o inútil, o bem e o mal e, verticalmente, entre o real e o ilusório, a salvação e a perdição. E realiza o real, seja abstendo-se das coisas na medida em que são ilusórias, seja, pelo contrário, aceitando-as como mensageiras do real, segundo as condições tanto subjetivas quanto objetivas.
**Apenas as qualidades valorizadas pela Verdade e pelo Caminho contribuem para a salvação da alma; nenhuma virtude afastada desses fundamentos tem poder salvador, e isso prova a relatividade e a influência indireta das virtudes puramente naturais. O homem espiritual não se sente proprietário de suas virtudes; ele renuncia aos vícios e se extingue — ativa e passivamente — nas Virtudes divinas, as Virtudes em si. A Virtude é o que é.
**A chave do mistério da salvação pela mulher ou, se preferirmos, pela feminilidade está na própria natureza de Mâyâ: se a Mâyâ pode atrair para fora, pode igualmente atrair para dentro. Eva é a Vida, a Mâyâ manifestante; Maria é a Graça, a Mâyâ reintegrante. Eva personifica o demiurgo sob seu aspecto de feminilidade; Maria é a personificação da Shekhinah, da Presença simultaneamente virginal e maternal. A Vida, sendo amoral, pode ser imoral; a Graça, sendo substância pura, pode reabsorver todos os acidentes.
**É plausível que Deus possa nos enviar sofrimentos a fim de que apreendamos melhor o valor da Sua Graça libertadora, e que nós nos esforcemos com muito mais fervor para corresponder às exigências da Sua Misericórdia. Quando o homem ignora que está prestes a se afogar, não se dá ao trabalho de pedir socorro. A salvação é função do nosso apelo, e não há nada mais consolador, definitivamente, do que esse grito de confiança ou de certeza.
**O limite inferior da compreensão doutrinal é o conhecimento das verdades indispensáveis à salvação, ou um conhecimento satisfatório dos dados fundamentais da metafísica.
**A capacidade de salvação, consequência da deiformidade indestrutível do homem — e aí está a grande mensagem do monoteísmo — atualiza-se essencialmente pela fé em Deus, que é Uno.
Marie Madeleine Davy
Nos Apotegmas dos Padres do deserto encontramos muitas vezes a expressão: quero ser salvo[[Sobre o tema da salvação, cf. a introdução de Dom L. Régnault, ibid., pp. 4s.]], o que significa: “quero chegar à libertação”. Salvação e libertação não se distinguem. Quando um visitante dizia a um ancião: “Como tornar-me monge?” isto significava: “Como tornar-me um?” O que os homens procuram no deserto é a unidade, nada mais do que a unidade. O múltiplo, o esparso, está sujeito à corrupção; só a unidade escapa ao tempo e se insere na eternidade.
A unidade se torna a porta que dá acesso à comunicação. A unidade só pode ser produzida pela dimensão divina; é naquela que esta se realiza. Por isso, os Padres do deserto gostavam de repetir para si e os outros: “Atira-te em Deus”. “Atira em Deus tuas preocupações, tuas penas, tuas fadigas”. Tudo passa por Deus. Isto quer dizer que o fogo de Deus consome os erros, purifica, de certa forma embeleza e apaga as rugas da alma, para empregarmos a linguagem de Plotino. Graças à aquisição da unidade em Deus, o homem discerne em seu irmão a presença divina. Não é necessário, todavia, que ele o veja em concreto, para exprimir-lhe sua estima; ele o encontra sempre no Amor, no Amor que é Deus. (Excertos do livro “O Deserto Interior”)