egoísmo

(in. Egoism; fr. Égoisme; al. Egoismus, ital. Egoismo).

1. Termo criado no séc. XVIII para indicar a atitude de quem dá importância predominante a si mesmo ou aos seus próprios juízos, sentimentos ou necessidades, e pouco ou nada se preocupa com os outros. Platão já achava que o “amor desmesurado por si mesmo” (que nada tem a ver com a filáucia de que falava Aristóteles, V. amor de si) é a causa de todas as culpas dos homens (Leis, V, 731e). Muitas vezes o egoísmo foi considerado atitude natural do homem. Diz Kant: “A partir do dia em que o homem começa a falar em primeira pessoa, ele passa a pôr seu querido eu na frente de tudo, e o egoísmo progride incessantemente, sub-reptícia ou abertamente (por sofrer a oposição do egoísmo dos outros)” (Antr., I, § 2). Aliás, antes de Kant, Adam Smith (Teoria dos sentimentos morais (1759) e os moralistas franceses tinham visto no egoísmo uma das emoções fundamentais do homem. Vauvenargues, que chama o egoísmo de “amor próprio”, distingue-o do amor de si(y.), que é a filáucia de Aristóteles (De l’esprit humain, 24). Kant distingue três formas de egoísmo: egoísmo lógico, de quem não acha necessário submeter seu próprio juízo ao juízo alheio; egoísmo estético, que se satisfaz com seu próprio gosto; egoísmo moral, de quem restringe todos os fins a si mesmo e não vê utilidade no que não lhe traz proveito. Além dessas três espécies de egoísmo, Kant distingue o egoísmo metafísico, que responde negativamente à pergunta: “eu, como ser pensante, tenho razão de admitir, além da minha existência, também a de um todo de outros seres que estão em comunhão comigo?” (Antr., I § 2).

A antítese entre egoísmo e altruísmo e a predição do futuro triunfo do altruísmo são típicas da ética positivista. O positivismo cunhou a palavra altruísmo e, ao lado dos instintos egoísticos, admitiu a existência de instintos altruístas destinados a prevalecer com o progresso moral da humanidade (Comte, Catéchisme positiviste, pp. 48 e ss.; Spencer, Data of Ethics, § 46). Por outro lado, Stirner e Nietzsche sustentaram a moral do egoísmo. Stirner chamou seu anarquismo de egoísmo absoluto, que consiste na afirmação de que o indivíduo é a única realidade e o único valor (Der Einzige und sein Eigentum, 1845). Nietzsche por sua vez dizia: “O egoísmo é parte essencial da alma aristocrática e por egoísmo entendo a inquebrantável em que outros seres devem sujeitar-se e sacrificar-se pelo ser que «os somo? (Jenseit von Gut und Böse, 1886, § 265). Scheler deu a melhor caracterização do egoísmo, distinguindo-o do amor de si ou filáucia. O egoísmo, segundo diz, não se dirige ao eu individual como objeto de amor desvinculado de todas as relações sociais. O egoísta não se comporta como se estivesse só no mundo, mas está tão absorvido por seu eu social que se apega somente aos seus próprios valores ou àqueles que podem tornar-se seus. Essa atitude é o contrário do amor de si, dirigido principalmente aos valores por si mesmos (Sympatbie, II. cap. I, § 1).

2. O mesmo que solipsismo. [Abbagnano]


O egoísmo, (do lat. ego, eu), atitude intelectual do que limita tudo a si. — No plano metafísico, o egoísmo é a doutrina que considera a existência dos outros como ilusória, ou, ao menos, duvidosa; essa acepção metafísica encontra-se atualmente abandonada. Em psicologia, o egoísmo designa a tendência (legítima, de resto) do indivíduo a defender-se, a manter-se, a desenvolver-se. Nesse sentido, é somente um aspecto do instinto de conservação. Até aqui, o termo não é absolutamente pejorativo. Só pode ser classificado dessa maneira quando designa, no sentido estreito, o interesse excessivo do indivíduo em si próprio, indo até ao desprezo dos interesses alheios. Toma então o caráter de uma anomalia, de um fator de insocia-bilidade, mesmo quando se alarga em “egoísmo a dois” (o casal) ou em “egoísmo a três” (o casal e o filho). No plano moral, o egoísmo opõe-se ao altruísmo, isto é, à compreensão do outro, à generosidade; denomina-se então egocentrismo, individualismo, e opõe-se a qualquer espécie de “engajamento” em geral. [Larousse]