Como espécie, oposto ao animal (oposto à mulher, diz-se aner; gen.: andros). Em Aristóteles, substância composta, na qual “a alma é causa e princípio do corpo vivo: (De Anima, II, 4), à qual se soma uma alma intelectual (ibid., III, 4, 10, 11). [Ivan Gobry]
A palavra grega anthropos nos é dada nos léxicos como um triplo composto, feito primeiramente de um advérbio que signfica “para o alto”; então do fragmento de um verbo que significa “voltar-se”, e finalmente de um substantivo que designa a “face humana”. O todo, combinado em uma palavra, nos aponta para o homem como a criatura que volta sua face em direção dos céus. [W.P. Breed, Anthropos]
- Como todos os seres vivos, o homem é um corpo animado. Tem todavia a particularidade, entre os animais terrestres, de poder exercer três funções psíquicas que são o desejo, o ardor e o intelecto. Esta capacidade aproxima o homem do divino e faz dele um animal ao mesmo tempo mortal e suscetível de conceber o que é imortal (o divino e as formas inteligíveis). O homem é o animal terrestre que tem “negócios” com a verdade.
- O homem é um vivente terrestre mortal, composto como todos os viventes de um corpo e de uma alma (Alcibíades 129e-130c); Górgias 516b). Isto implica que seu modo de vida seja à medida da relação instaurada nele entra a alma e o corpo, ou melhor, entre as diferentes funções de sua alma e a maneira pela qual esta cuida do corpo, o dirige. Isto implica ainda, dadas as necessidades que são as suas, que seu modo de vida seja coletivo, político: só há humanidade na cidade (polis). Esta humanidade, em razão de suas disposições psíquicas e fisiológicas, é fundamentalmente técnica (Protágoras 320c-322d; Político 274b-d). A condição de desprovimento do homem, menos dotado que outros animais em armas e em defesas naturais, é também sua força: graças a sua inteligência, suplementa pela técnica esta desprovimento. Esta capacidade técnica define a natureza humana como uma natureza múltipla, posto que abarca também uma alma, um corpo e um certo número de bens naturais ou técnicos necessários à conservação da existência.
- A antropologia platônica está no cruzamento de três investigações: uma psicologia, uma física e uma tecnologia.; pode-se considerar o homem sob o aspecto de sua alma (Alcibíades, Fédon), sob o do cuidado de seu corpo (Górgias ou Timeu), ou sob aquele das atividades técnicas que são as suas (Protágoras ou Político). [Luc Brisson (Vocabulário de Platão)]
São portanto todas as denegações polêmicas e apaixonadas do Cristo a respeito de sua condição que o homem deve retomar por sua conta, na medida que queira compreender algo do que ele é. Ele não é do mundo nem consequentemente um ser natural, ele não o filho de seu pai. Qualquer que seja o nível sobre o qual ele se constrói, toda explicação mundana da humanitas se encontra de pronto deposta de sua pretensão de alcançar a realidade primeira e última a partir da qual somente alguma coisa como um homem é possível. Traços de caráter, comportamentos psíquicos determinados, eis o que se pode reportar à primeira relação da criança àquele que é considerado como seu pai: seus primeiros traumatismos, seu complexo de Édipo, etc. Mas como esta pai não é seu pai, como incapaz de ser dado a vida a ele mesmo, ele não está certamente em medida de dar a quem quer que seja de outro, ele aparece, no exemplo privilegiado e decisivo do nascimento, que nenhuma sequência mundana não poderia dar conta do ser de um homem na medida que procede de um nascimento.
O que é verdadeiramente o homem, a filosofia tentou o dizer. Os tempos modernos, este esforço grandioso se exprimiu na redução fenomenológica transcendental praticada por Husserl. Retomando o projeto cartesiano vidando o coração do que somos verdadeiramente, a redução põe o mundo entre parênteses, nada menos. Fazendo isso, Husserl está consciente de descobrir campos de experiência ainda impercebidos do homem durante toda sua história passada. É nestes campos de experiência inexplorados, aqueles da vida transcendental do ego, que se desdobra a verdadeira essência do homem. O homem transcendental e não mais o natural, eis o que a redução fenomenológica pões entre as mãos da fenomenologia, não no termo de uma descoberta acidental mas graças a uma investigação buscada de maneira sistemática e à luz de pressupostos conscientes deles mesmos. Todavia, desde que este homem transcendental é reduzido à “consciência de algo”, ao In-der-Welt-sein (ser-no-mundo), resumindo a sua abertura fenomenológica ao mundo, quer dizer à abertura fenomenológica do mundo, o que constitui sua essência transcendental se encontra falsificada e perdida. E isso porque o modo original de fenomenalização segundo o qual o “homem” advém em sua condição de Filho, quer dizer de Vivente na Vida, enquanto modo original de fenomenalização da Vida ela mesma, nada há precisamente a fazer com um “consciência de algo”, com a abertura fenoemnológica de um mundo — com o ek-stase de um “no de fora”.
Se o homem transcendental apreendido enquanto Filho tem sua essência fenomenológica da auto-fenomenalização da Vida, cujo processo é em si estranho a abertura de um mundo, a tese do “homem Filho de Deus” se ilumina de suas múltiplas implicações. Por um lado, com efeito, engendrado na Vida, o engendrado tem os caracteres desta Vida. O que vale do Arquifilho vale do Filho, e o que vale para eles, é a essência da vida, seja Deus ele mesmo. É isto que significa a tese segundo a qual “Deus criou o homem a sua imagem”: que deu ao homem sua própria essência. Ele não a deu como se dá algo a alguém, à maneira de um presente que passa de uma mão àquela de um outro. Ele lhe deu sua própria essência neste sentido que, sua própria essência sendo o auto-engendramento da Vida na qual se engendra a Ipseidade de todo vivente, dar sua própria essência ao homem significava para Deus lhe dar a condição de vivente, a felicidade de se experienciar a si mesmo nesta provação, onde não há “fora” nem “mundo”. Engendrar quer dizer tudo salvo criar, se criação designa a criação do mundo, esta abertura fenomenológica de um primeiro “Fora” onde se descobre para nós o reino inteiro do visível. [Michel Henry: EU SOU A VERDADE]