Enquanto a carne for confundida com o corpo, a Encarnação do Verbo é sua vinda num corpo e, assim, ao mundo. E ao aparecer do mundo que a Revelação de Deus é confiada. Já encontramos em Atanásio a tese segundo a qual a Encarnação do Verbo significa sua vinda num corpo visível e, assim, a Revelação de Deus neste mundo. Já reconhecemos a dificuldade que essa tese implica. Se Deus deve revelar-se na forma desse homem mundano cuja aparência corporal ele tomou, como distinguir este dos outros homens — como saber ou crer que este é precisamente o Verbo? Semelhante a todo homem por seu aspecto exterior, Cristo não é prisioneiro desse incógnito que agradava tanto a Kierkegaard mas que não entrega seu segredo ao descrente — ou, pelo menos, que torna o ato de crer tão difícil? Vimos como o De Incarnatione resolve a dificuldade mostrando que esse homem ordinário, de aparência humilde, semelhante aos outros, difere deles subitamente por palavras e por atos tão extraordinários que ele se revela já não um homem mas, na violência desse contraponto, esse absoluto de justiça e de verdade em que muitos reconheceriam o Messias. (Michel Henry, MHE)