A coleção dos nove acidentes parece ter sido constituída de maneira empírica por Aristóteles. Pode-se entretanto, como o fez Tomás de Aquino (Cf. Fís. III, l. 5; Metaf. V, l. 9), organizá-la em um sistema; os acidentes se agrupam então em três classes, segundo determinem o sujeito de modo intrínseco, de modo extrínseco ou de modo misto:
“Um predicado pode se reportar de três maneiras a um sujeito. De uma primeira maneira, na medida em que é o que é o sujeito; por exemplo, quando digo que Sócrates é animal. Pois Sócrates é o que é o animal. E este predicado é dito significar a substância primeira que é a substância particular a que tudo é atribuído.
De uma segunda maneira, de tal sorte que o predicado corresponde ao que inere ao sujeito: seja que este predicado inira por si e de modo absoluto, ou fazendo sequência à matéria e tem-se a quantidade – ou fazendo sequência à forma e tem-se a qualidade – seja que inira de modo não absoluto, mas em relação a um outro e tem-se a relação.
De uma terceira maneira, de tal sorte que o predicado seja tomado do que é exterior ao sujeito: e isto de dois modos diferentes. De um modo, de sorte que esteja absolutamente fora do sujeito, e então não é medida do sujeito, é atribuído segundo o modo da posse; quando se diz por exemplo: Sócrates está calçado ou vestido; se, pelo contrário, é medida do sujeito, a medida extrínseca sendo o tempo ou o lugar„ o predicado ou se reporta ao tempo e se tem o tempo ou ao lugar e se tem o lugar quando não se considera a ordem das partes no lugar, a posição quando se considera esta ordem.
De um outro modo, de tal sorte que o fundamento do predicamento considerado se encontre sob uma certa relação no sujeito ao qual é atribuído. Se é a título de princípio, tem-se a ação; se é a título de termo, tem-se uma atribuição segundo o modo da paixão, a paixão tendo o seu termo no sujeito receptivo.”
Metaf., V, l. 9, 891-892
Se apreciarmos estes dados, seremos levados a reconhecer que dois das predicamentos enumerados, mesmo correspondendo a modos de ser e de atribuição realmente originais, não apresentam entretanto um grande interesse como os outros. O habitas (a posse), com efeito, designa um acidente tão exterior ao ser que constitui em si mesmo uma outra substância (por exemplo, o vestimento); por outro lado, apenas se refere a um tipo particular de sujeito, o homem. O situs, (a situação), se distingue bem do lugar, o qual não diz nada da situação relativa das partes, mas é claro que é um predicamento derivado e, a este título, menos significativo que os outros. Aristóteles mesmo nem sempre reteve estes dois predicamentos em sua nomenclatura.
De resto, este sistema de modalidades do ser é apenas válido para a substância material. Só esta evidentemente é quantificada, só esta pode ter (uma de suas espécies pelo menos) posses exteriores, só esta igualmente está submetida ao quadro das condições espaço-temporais e das condições da ação transitiva. O estudo da quantidade, da posse, do lugar, do tempo, da situação, da ação, da paixão, pertence, pois, propriamente à filosofia da natureza. Aqui, cumpre-nos apenas remetê-lo para lá. Restam duas categorias, a qualidade e a relação, que, se encontrando no ser imaterial, dizem respeito mais especialmente à metafísica. (Gardeil)
A coleção dos nove acidentes parece ter sido constituída de maneira empírica por Aristóteles. Pode-se entretanto, como o fez Tomás de Aquino (Cf. Fís. III, l. 5; Metaf. V, l. 9), organizá-la em um sistema; os acidentes se agrupam então em três classes, segundo determinem o sujeito de modo intrínseco, de modo extrínseco ou de modo misto:
“Um predicado pode se reportar de três maneiras a um sujeito. De uma primeira maneira, na medida em que é o que é o sujeito; por exemplo, quando digo que Sócrates é animal. Pois Sócrates é o que é o animal. E este predicado é dito significar a substância primeira que é a substância particular a que tudo é atribuído.
De uma segunda maneira, de tal sorte que o predicado corresponde ao que inere ao sujeito: seja que este predicado inira por si e de modo absoluto, ou fazendo sequência à matéria e tem-se a quantidade – ou fazendo sequência à forma e tem-se a qualidade – seja que inira de modo não absoluto, mas em relação a um outro e tem-se a relação.
De uma terceira maneira, de tal sorte que o predicado seja tomado do que é exterior ao sujeito: e isto de dois modos diferentes. De um modo, de sorte que esteja absolutamente fora do sujeito, e então não é medida do sujeito, é atribuído segundo o modo da posse; quando se diz por exemplo: Sócrates está calçado ou vestido; se, pelo contrário, é medida do sujeito, a medida extrínseca sendo o tempo ou o lugar„ o predicado ou se reporta ao tempo e se tem o tempo ou ao lugar e se tem o lugar quando não se considera a ordem das partes no lugar, a posição quando se considera esta ordem.
De um outro modo, de tal sorte que o fundamento do predicamento considerado se encontre sob uma certa relação no sujeito ao qual é atribuído. Se é a título de princípio, tem-se a ação; se é a título de termo, tem-se uma atribuição segundo o modo da paixão, a paixão tendo o seu termo no sujeito receptivo.”
Metaf., V, l. 9, 891-892
Se apreciarmos estes dados, seremos levados a reconhecer que dois das predicamentos enumerados, mesmo correspondendo a modos de ser e de atribuição realmente originais, não apresentam entretanto um grande interesse como os outros. O habitas (a posse), com efeito, designa um acidente tão exterior ao ser que constitui em si mesmo uma outra substância (por exemplo, o vestimento); por outro lado, apenas se refere a um tipo particular de sujeito, o homem. O situs, (a situação), se distingue bem do lugar, o qual não diz nada da situação relativa das partes, mas é claro que é um predicamento derivado e, a este título, menos significativo que os outros. Aristóteles mesmo nem sempre reteve estes dois predicamentos em sua nomenclatura.
De resto, este sistema de modalidades do ser é apenas válido para a substância material. Só esta evidentemente é quantificada, só esta pode ter (uma de suas espécies pelo menos) posses exteriores, só esta igualmente está submetida ao quadro das condições espaço-temporais e das condições da ação transitiva. O estudo da quantidade, da posse, do lugar, do tempo, da situação, da ação, da paixão, pertence, pois, propriamente à filosofia da natureza. Aqui, cumpre-nos apenas remetê-lo para lá. Restam duas categorias, a qualidade e a relação, que, se encontrando no ser imaterial, dizem respeito mais especialmente à metafísica. (Gardeil)