(in. Sex; fr. Sexe; al. Sex; it. Sesso).
1. Raramente os filósofos trataram do sexo como componente do homem. Em O Banquete, de Platão, ao falar da origem do sexo, Aristófanes expõe o mito dos andróginos, dos quais, por meio de uma separação desejada por Zeus com fins punitivos, ter-se-iam originado os dois sexos complementares (O Banq., 189 e). Mas as especulações platônicas não versam propriamente sobre o sexo, mas sobre o amor. É o que também fazem muitos outros filósofos, inclusive Schopenhauer, que, em Metafísica do amor sexual, considera o amor sexual como um expediente de que se valeria o “gênio da espécie”, ou Vontade de Vida, para favorecer a obra obscura e problemática da propagação da espécie. No mundo moderno, a ação da psicanálise chamou a atenção dos filósofos para o sexo; foram especialmente os fenomenologistas e os existencialistas que se interessaram pelos fenômenos a ele relativos. Max Scheler, no livro Wesen und Formen der Sympathie (1923; trad. fr., pp. 168 ss.), tentou atribuir ao ato sexual o valor de forma de expressão da personalidade humana. Por outro lado, enquanto Heidegger considerou o Dasein desprovido de sexualidade, Sartre considerou a sexualidade como estrutura fundamental da existência: “Embora o corpo tenha uma tarefa importante, precisa remeter-se ao ser no mundo e ao ser para os outros: desejo um ser humano, não um inseto ou um molusco, e desejo-o na medida em que ele está, e eu estou, em situação no mundo, e na medida em que ele é outro para mim e eu sou outro para ele” (L’être et le néant, 1943, pp. 452-53). O sexo seria a estrutura fundamental da existência humana enquanto existência no mundo (cf. também Abbagnano, Struttura dell’esistenza, 1939, §55) (v. amor, psicanálise).
2. Os filósofos, ao contrário, insistiram frequentemente na diferença sexual. Para Aristóteles, a mulher constitui uma monstruosidade da natureza, inevitável porém para a conservação da espécie (Degen. an., 7, 775 a 15-17). A mulher difere do homem por participar em menor grau dos poderes da razão (Poi., 1260 a 11-14): portanto, seu lugar é de subordinação ao homem, a este cabendo comandar e a ela obedecer (Pol., 1254 b 13-15; 1259 b 2-10). Por um vínculo constante na tradição, essa desvalorização da dignidade da mulher é acompanhada pela exaltação da família (que, segundo Aristóteles, existiria mesmo que não houvesse sociedade) e das tarefas e virtudes familiares da mulher (Pol., 1260 a 29-31; Et. Nic, 1162 a 19-27). Exatamente por isso Schopenhauer defendeu a poligamia, que estaria destinada a combater as pretensões da mulher à equiparação e a eliminar o fenômeno da prostituição (Parerga und Paralipomena, II, 27, § 362 ss.).
Por outro lado, Platão, mesmo admitindo a inferioridade da mulher (República, 455), considerava que homens e mulheres deviam ser admitidos indiferentemente em todos os níveis da educação, para que às funções exercidas pelas classes superiores tivessem acesso apenas os indivíduos que demonstrassem capacidade de exercê-las, qualquer que fosse o sexo. Cínicos e estoicos afirmavam, como princípio, a igualdade entre homens e mulheres. A mulher de Crates andava pelas ruas de Atenas usando, como o marido, o saio tosco dos cínicos, e um ponto da doutrina estoica era que homens e mulheres deveriam usar as mesmas roupas (Diógenes Laércio, VII, 33). As mulheres eram aceitas na escola de Epicuro, na qual muitas exerceram cargos de direção.
Na antropologia contemporânea, não se subestima a diferença entre os sexo, tanto quanto qualquer outra diferença biológica existente entre os indivíduos humanos, mas faz-se a distinção entre essa diferença e a exigência de paridade de direitos, baseada no reconhecimento de que as funções subordinadas atribuídas à mulher, na maior parte das sociedades conhecidas, é um produto cultural, para o qual pouco ou nada contribui a diferença entre as funções biológicas. (Abbagnano)
Considerando a relação erótica, seja em seu cumprimento imanente, seja em seu aparecimento mundano, reconhecemos como, envolvendo-se a cada vez em angústia, é também a cada vez ao fracasso que ela conduz. Uma reflexão mais aprofundada nos persuade de que, apesar das distinções fenomenológicas primordiais postas em jogo, a análise do erotismo permaneceu prisioneira de uma limitação decisiva. Esta tem que ver com o fato de que nenhuma carne pode ser examinada em si mesma à maneira de um dado autônomo, objeto de um processo de elucidação separado, se é verdade que ela não advém a si senão na vida. É essa a razão pela qual — tal como nós tivemos de constatá-lo diversas vezes e de maneira constante — tanto a análise da carne como de seus diversos constituintes remete, uma vez que se aprofunda, ao que se encontra antes dela: a impressão mais fugidia ao surgimento incansável de uma impressão sempre nova, o poder da carne à sua impotência original, a própria carne, enfim, à vinda a si da Vida absoluta. É somente essa referência de toda carne à Arquipassibilidade da Arquicarne da Vida absoluta o que permite dizer o que é, em última instância, a possibilidade para uma carne de constituir o lugar da perdição ou o da salvação. [325]
Ora, ao considerarmos a carne em sua relação com a Vida absoluta enquanto relação imanente, vemos cair imediatamente certos traços da relação erótica, notadamente a contingência e, assim, o absurdo da diferença sexual e, antes de tudo, da determinação sexual enquanto tal. É assim que o desejo — que se imaginava atingir no sexo a vida do outro ali onde ela se atinge a si mesma, seu prazer ali onde ele se experimenta a si mesmo — não encontra senão um corpo “côisico” heterogêneo ao espírito, cuja configuração objetiva permanece incompreensível ou indecente aos olhos deste, cuja vida, como quer que seja, lhe escapa.
Dir-se-á que é a dualidade do aparecer — mais precisamente, a objetividade das determinações sexuais e, assim, da própria relação erótica — a responsável pelo absurdo dessas determinações, bem como pelo fracasso do desejo. É assim certamente, e é esse primeiro ponto que pede uma explicação: por que a vida sexual parece, ao mesmo tempo, absurda e votada ao fracasso no aparecer do mundo? (Michel Henry, MHE)