Se os conceitos fossem apenas produtos de uma cultura apolínea ou de uma cultura fáustica e não tivessem o seu apoio na realidade objetiva das cousas, repousando apenas na subjetividade da consciência geral, então poderia haver uma filosofia apolínea e uma filosofia fáustica, sendo a metafísica engendrada pela consciência de cada cultura e não pela descoberta, segundo os princípios universais da inteligência, da realidade objetiva e das suas essências. No entanto, abstraídas as considerações secundárias, (os modos peculiares que tem cada cultura de reagir diante dos fatos histórico-sociais), ninguém poderá negar que os princípios intelectuais sejam os mesmos em todas as culturas, que tenham atingido um grau de desenvolvimento compatível com o pensamento filosófico. Nunca houve cultura alguma que pudesse afirmar, fosse em que língua fosse, que a parte é maior do que o todo. Por mais diversas que sejam as culturas, todas terão que concordar com os mesmos princípios da inteligência e nenhuma poderá discordar de que: Uma cousa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, sob o mesmo aspecto e na mesma relação. Não há meio termo entre o ser e o não–ser. Duas cousas iguais a uma terceira são iguais entre si. Nada existe que não tenha uma razão suficiente.
Assim, os princípios da inteligência são imutáveis e os mesmos em todas as culturas. O que varia nas culturas é exatamente a formulação da sua perspectiva sentimental da vida e do mundo, quando essa perspectiva não se orienta para a metafísica realista, fundada nos princípios da inteligência. De onde, toda a metafísica da história em Spengler, a despeito da impressionante riqueza de observações de suas obras, sofre do erro fundamental de não reconhecer a universalidade dos princípios da inteligência, que formulam a metafísica do ser, adequando-se à realidade. [Barbuy]