filosofia da cultura

Enquanto as ciências do espírito e, principalmente, a história da cultura se propõem dar-nos uma imagem completa dos fatos culturais, de suas formas (morfologia da cultura), valôres e obras, a tarefa da filosofia da cultura é fundamentar as manifestações culturais ( Cultura), isto é, penetrar na essência delas, compreendê-las por suas causas e condições essenciais, reduzi-las a seus fins últimos e, por tal modo, determinar a orientação e medida da criação cultural. — Visto a cultura ser complementação e perfeição essencial do homem, as linhas fundamentais de uma filosofia da cultura são necessariamente traçadas pela antropologia filosófica, que nos diz o que o homem é; pela ética, que nos diz o que o homem deve fazer; e pela teologia natural, que. nos mostra o destino a que o homem é naturalmente encaminhado juntamente com as ordens da natureza e da cultura em que se encontra envolvido. O fundamento último destas disciplinas e, por conseguinte, da filosofia da cultura, é a metafísica. A concepção diversa, que se tenha delas, exterioriza-se em outras tantas direções da filosofia da cultura. Esta, como ciência propriamente dita, só é cultivada desde o século XVIII. Há ramos especiais da filosofia da cultura anexos aos diferentes domínios da cultura humana ( Ciência, Arte, Religião, História, Linguagem, Técnica, Educação, Sociedade, Direito, Estado, etc).

Importa distinguir entre causas e condições da cultura. Estas últimas não a produzem propriamente, mas explicam apenas por que a cultura se produziu com maior facilidade ou de um determinado modo. Contam-se entre elas, por exemplo, as condições geográficas de um povo, seu posto na história, época e modo de encontro com outros povos e cultura, as organizações culturais já criadas em ordem à atividade criadora cultural ulterior. Tais circunstâncias condicionam o movimento cultural em toda sua extensão. Não existe progresso cultural contínuo, nem sequer constância cultural. As verdadeiras causas da cultura são as aptidões e as necessidades do homem. Assim, a ciência brota do impulso investigador da inteligência especulativa; as ordens econômica, jurídica, social e a técnica, brotam da tendência ordenadora da inteligência prática; a arte brota do sentimento estético e do impulso criativo; a moralidade e a religião brotam do querer moral. A diversidade de disposições e inclinações do homem, unidas a seu aperfeiçoamento preferido, conduz à diversidade das classes profissionais, criadoras de cultura, que em sua multiplicidade se complementam em ordem ao bem comum. Sustentador e criador da cultura é o homem, não isolado, mas como membro de diversas comunidades e no complexo histórico da tradição, ou seja, da propagação espiritual a partir do que se recebeu. — O objetivo da cultura é, indubitavelmente, em primeiro lugar, a satisfação de necessidades humanas, mas, além disso, também o desdobramento da riqueza contida na humana natureza o, por conseguinte, a manifestação do homem como imagem de Deus Criador. A ordem e a medida da criação cultural dependem do fato de o indivíduo e a comunidade valorizarem na devida medida as necessidades do homem, subordinando as inferiores às superiores e estas ao seu fim último. Neste particular, é essencial saber se o fim, que consiste no aperfeiçoamento do homem (Felicidade) se deve buscar puramente neste mundo ou no outro. A orientação ultraterrestre do homem não suprime as exigências terrenas da cultura, mas subordina-as à pessoa, humana que ultrapassa a esfera terrena. — A filosofia da cultura, pondo em destaque a verdadeira finalidade de toda cultura e os defeitos das realizações culturais reais (crítica da época e da cultura) deve influir também na configuração da cultura respectiva (reforma da cultura). [Brugger]