poiein

poieín: atuar, ação; poiein, praxis, ergon, energeia

A ação é uma das dez kategoriai aristotélicas enumeradas nas Cat. 1b-2a; os seus exemplos são «corta» e «queima». Tanto a ação como a paixão (paschein) admitem contrários e graus (ibid. 11b). Mas num contexto ético Aristóteles distingue (Ethica Nichomacos VI, 1140a) entre poiein, no sentido de «produzir» (daí poietike episteme, ciência produtora) de prateia (atuar), (daí praktike episteme, ciência prática); ver paschein, poietike, praxis, episteme, ergon. [FEPeters]


Nos Tratados 42, 43 e 44 Plotino trata dos gêneros do ser, abordando as categorias aristotélicas e estoicas, e apresentando sua proposição de categorias. Entre as categorias tratadas encontra-se a “ação” ou o “agir” (to poiein) e o padecer (to paskhein). Plotino consagra oito capítulos do Tratado 42, capítulos 15-22. Criticando certa imprecisão em Aristóteles, Plotino acha mais conveniente quando se aborda a categoria do agir, falar de “atividade”, a atividade segundo a qual um ser age.

Da atividade, Plotino avança naturalmente para o movimento (kinesis) que se encontra definido segundo Aristóteles na Física (III, 2, 201b31-32) como uma atividade incompleta, portanto ainda uma análise de uma espécie de atividade.


Para Brisson & Pradeau (2002 p.136), segundo Aristóteles, a atividade, que é uma espécie de movimento, pode ser de dois tipos: transitiva, quando ela visa um fim e uma realização exteriores, ela é uma produção (poiesis); em revanche, a atividade imanente, que é a ação propriamente dita (a praxis ou bem a energeia), tem seu fim nela mesma (Ética a Nicômaco VI,4).


Talvez não seja mau definir, então, quais são as circunstâncias que têm de ocorrer para a realização de uma ação e que não podem ser ignoradas. Defina-se, então, qual a sua forma e o seu número. [Não pode assim ignorar-se:] 1) quem age e 2) o que faz, 3) a respeito do quê ou de quem é a ação e qual a situação peculiar em que se encontra o agente; por vezes também 4) aquilo com 5 o qual se age, por exemplo, o instrumento com que se executa a ação, e o 5) fim em vista do qual se age, por exemplo, em vista da salvação, e 6) de que maneira se age, por exemplo, calma ou veementemente.

Ora que ninguém poderá ignorar todas estes requisitos ao mesmo tempo, a não ser que esteja demente, parece evidente. Pelo menos, é evidente que não pode ignorar quem é o agente. Na verdade, como é que alguém se pode ignorar a si próprio? De fato, alguém pode agir sem saber o que faz, como os que dizem, «deixar escapar [algo] enquanto conversavam», ou como quando dizem «que 10 não sabiam que eram segredos», como refere Ésquilo a respeito dos mistérios, ou, como quando querem mostrar como algo funciona e acionam, sem querer, o seu mecanismo, como no caso da catapulta. Alguém pode confundir o seu próprio filho com um inimigo, como Mérope; ou confundir uma lança pontiaguda com uma romba, ou uma pedra com uma pedra-pomes; ou ainda quando, fazendo alguém beber um fármaco para o salvar, o mata; ou querendo agarrar as mãos a alguém (como os lutadores de luta livre), 15 e desferem um golpe. Ora pode haver desconhecimento de todas estas circunstâncias da ação, e quem ignora alguma delas parece agir involuntariamente, e por maioria de razão, age involuntariamente, quando ignora as circunstâncias mais decisivas. O que parece ser mais importante nas circunstâncias da ação é o fim em vista do qual ela é levada a cabo. Dizendo-se, então, que uma ação 20 praticada nestas circunstâncias é involuntária e depende de uma ignorância deste gênero, deve acrescentar-se ainda que essa ação é dolorosa e provoca arrependimento. [Aristóteles, Ética a Nicômaco, III,1 1111a1-a20]