pedagogia

(in. Pedagogy; fr. Pédagogie; al. Pädagogik; it. Pedagogia).

Este termo, que na sua origem significou prática ou profissão de educador, passou depois a designar qualquer teoria da educação, entendendo por teoria não só uma elaboração organizada e genérica das modalidades e possibilidades da educação, mas também uma reflexão ocasional ou um pressuposto qualquer da prática educacional. Neste sentido, na Antiguidade clássica a pedagogia não tinha a dignidade de ciência autônoma, mas era considerada parte da ética ou da política, e por isso elaborada unicamente em vista do fim que a ética ou a política propunham ao homem. Por outro lado, os expedientes ou os meios pedagógicos só eram estudados em relação à primeira educação, ministrada na infância, portanto às mais elementares aquisições (ler, escrever, contar). Assim, até certa altura, a reflexão pedagógica é dividida em dois ramos isolados: um de natureza puramente filosófica, elaborado com vistas aos fins propostos pela ética, e outro de natureza empírica ou prática, elaborado com vistas à preparação primeira e elementar da criança para a vida.

Pode-se dizer que esses dois ramos se unem pela primeira vez no séc. XVII, graças a G. A. Comênio, que pretendeu integrar no domínio da pedagogia a organização metodológica que Francis Bacon pretendera integrar no domínio das outras ciências. Para tanto, elaborou um sistema pedagógico completo, fundado no princípio da pansofia , que partia de considerações sobre os fins da educação para chegar ao estudo dos meios e dos instrumentos didáticos. A partir de Comênio, a experiência pedagógica do Ocidente foi-se enriquecendo e aprofundando, com as tentativas de achar novos métodos educacionais. As obras de Locke, Rousseau, Pestalozzi, Frõebel são muito importantes desse ponto de vista, inclusive por terem esses autores combinado os métodos educacionais com as novas concepções filosóficas que iam surgindo pouco a pouco. Assim, podemos dizer que Locke representa a pedagogia do empirismo; Rousseau, a pedagogia do iluminismo; Pestalozzi, a pedagogia do criticismo; e Fröebel, a do romantismo. Todavia, a organização científica da pedagogia deve muito a Herbart, que foi o primeiro a distinguir e unir os dois ramos da tradição pedagógica num sistema coerente. Herbart distinguiu os fins da educação (que a pedagogia deve haurir da ética) e os meios educacionais (que a pedagogia deve haurir da psicologia), procurando elaborar, distinta e correlativamente, essas duas partes integrantes. (Allgemeine Pädagogik, 1806; Umris pädagogischer Vorlesungen, 1835).

A partir daí, a psicologia tornou-se a principal ciência auxiliar da pedagogia. A única exceção infeliz a essa conexão foi representada pela forma de idealismo romântico que prevaleceu na Itália nos primeiros decênios do séc. XX. Essa forma de idealismo negava a diversidade das pessoas, julgando-as unidas ao Espírito Universal, e identificava o desenvolvimento pessoal do homem com o desenvolvimento universal do Espírito. Estas teses eram apresentadas como uma solução da pedagogia na filosofia. Gentile dizia: “Quando por espírito só se entende o desenvolvimento, a formação, a educação, em suma, do Espírito, a própria filosofia (toda filosofia, contanto que a realidade seja concebida absolutamente como Espírito) transforma-se em pedagogia, e a forma científica dos problemas pedagógicos particulares transforma-se em filosofia” (Sommario di pedagogia, II, 1912, p. 15). Na mesma época, porém, fazia-se a tentativa simetricamente oposta de reduzir a pedagogia a ciência mecânica, tomando a física como modelo e mudando seu nome para pedologia , com a alegação de que, dominando-se o mecanismo psicológico, pode-se dirigir a formação mental dos homens do mesmo modo como é possível dirigir as forças da natureza utilizando as leis da natureza.

Pode-se dizer que a pedagogia contemporânea, em sua forma mais amadurecida, começa quando são postas de lado as pretensões opostas de reduzir o homem a espírito absoluto ou a mecanismo, e o homem começa a ser julgado e considerado como natureza, sem ser degradado o mecanismo. A noção de condicionamento (v. condição) é a que prevalece hoje na pedagogia, alijando dela tanto o indeterminismo idealista quanto o determinismo mecanicista. Além disso, a experiência pedagógica hoje é enriquecida pelo estudo da educação nas sociedades primitivas, o que possibilitou, por um lado, uma generalização do próprio conceito de edu-cação e, por outro, fazer confrontos e paralelos eficazes no terreno dos instrumentos educacionais. Além da psicologia, a antropologia e a sociologia também contribuem hoje para prover a pedagogia com um conjunto de instrumentais nas áreas em que o problema dos fins permanece aberto; ademais, do ponto de vista pedagógico, os fins tendem hoje a ser apresentados de forma hipotética, e não da forma absoluta e dogmática como eram pressupostos pela pedagogia tradicional (v. cultura; educação). [Abbagnano]


A arte de instruir e formar os indivíduos. — O princípio de toda pedagogia é não somente ensinar conhecimentos, mas formar homens. A pedagogia não é somente intelectual, é também psicológica. Seu primeiro dever é de tornar o ensino vivo, a fim de que os indivíduos possam ser precisamente “receptivos”. Pestalozzi foi o primeiro a expor a teoria dos “métodos ativos”, que atualmente preside à reforma do ensino na França e visa a associar cada vez mais diretamente o aluno ao ensino do professor. O objetivo da pedagogia sendo o de permitir a cada um realizar e desenvolver a personalidade e a forma própria — Deve-se distinguir o pedagogo e o sábio, o professor e o pesquisador, cujas vocações são diferentes. (V. docimologia, orientação.) [Larousse]


É a ciência da educação. Não se reduz a mera arte, senão que propõe-se descrever, fundamentar e sistematizar, de acordo com as razões últimas, o processo cultural denominado “educação”. Objeto da educação é o educando, ou seja, o homem ainda não plenamente desenvolvido, em cuja essência finita estribam a capacidade, a necessidade e o anelo de complementação. Esta necessidade de complementação estende-se a todo o âmbito do ser humano (corpoalma, indivíduosociedade, homemDeus). A tarefa da educação consiste na ajuda, correspondente a essa necessidade por parte de homens já formados. Seu objetivo é estimular, tanto em seu crescimento quanto em sua inserção ontologicamente ordenada dentro do homem total, e fomentar pela intervenção imediata e pela correspondente estruturação ambiental, as disposições latentes do educando e tendentes a se aperfeiçoarem, de sorte que este se torne capaz de cumprir por si, sem auxílio estranho, a missão que na vida lhe cabe, enquanto pessoa individual e socialmente considerada (formação formal). Esta progressiva independência do educando, que todo processo educativo deve ter em mira, consegue-se proporcionando os bens essenciais da cultura, levando a pessoa a mostrar-se autônoma no uso e domínio dos mesmos e a esforçar-se no sentido de os desenvolver e configurar segundo a medida das possibilidades individuais (formação material). Toda hetero-educação é, pois, uma ajuda para a auto-formação do educando.

A pedagogia depende essencialmente da antropologia e, por conseguinte, de todas as disciplinas filosófico-teológicas que convergem numa teoria geral do homem. Os vários sistemas educativos baseiam-se, em última instância, nas diversas concepções que se façam do homem. Não há pedagogia que se edifique à margem de uma mundividência e que parta só de pontos de vista imanentemente pedagógicos. A pedagogia encara o homem através de um prisma especial: para além do ser fixa-se, de modo especial, no devir, na evolução, para além da forma comum a todos, tem em mira a configuração concreta, irreiterável, tendo sempre em conta a possibilidade de influir, decisiva para a escolha dos meios. Por isso, a pedagogia precisa de uma antropologia que lhe proporcione uma visão prévia do homem e de suas virtualidades. — Muitos empregam quase indiscriminadamente os termos educação e formação. Para outros, a formação, considerada como plasmação omnímoda e completa do homem, é o todo que em si engloba, como partes orgânicas, o cultivo e a instrução (formação da inteligência) e a educação (formação da vontade e do caráter). Outros, finalmente, com O. Willmann, encaram a educação como um todo, cujas partes orgânicas são o cultivo, a disciplina e a formação. — autoridade. — Schröteler. [Brugger]


(do gr. pedes, jovem, e gogia, condução).

É etimologicamente a condução dos jovens. Entre os gregos, pedagogo era o escravo que conduzia os jovens. É a arte e a teoria do ensino em geral; hoje é a ciência da educação. É teórica, é prática e é normativa, pois além de estudar o nexo dos fatos pedagógicos, de procurar os métodos mais eficientes, estabelece consequentemente as normas que devem ser seguidas para a obtenção dos melhores resultados. [MFSDIC]