(in. Introspection; fr. Introspection; al. Introspektion; it. Introspezioné).
Auto-observação interior, observação que o eu faz dos próprios estados internos. Esse termo foi introduzido pela psicologia do séc. XIX para designar o método psicológico fundamental, considerado insubstituível até o advento do behaviorismo . Contra a introspecção Comte opôs uma objeção de princípio: “O indivíduo pensante não pode dividir-se em dois, um que raciocina e outro que o vê raciocinar. Nesse caso, sendo idênticos o órgão observado e o órgão observador, como poderá ocorrer a observação?” (Cours de phil. positive, 1830, I, seç. 1, $ 8). Comte concluíra, por isso, pela impossibilidade da psicologia e a suprimira da sua enciclopédia das ciências. Em 1868, Peirce respondia negativamente à pergunta “possuímos uma faculdade de introspecção?” e concluía que “a única maneira de investigar uma questão psicológica é a inferência a partir de fatos externos” (Coll. Pap., 5.244-249; 7.418 ss.). Essa conclusão de Peirce é o primeiro indicador do encaminhamento da indagação psicológica para o behaviorismo . [Abbagnano]
Um método psicológico subjetivo, baseado na observação da consciência por ela própria. — Nós nos analisamos para nos conhecermos e não para nos julgarmos: nesse sentido, a introspecção difere do exame de consciência. Em psicologia, a introspecção é insubstituível; só ela permite a apreensão das realidades psíquicas como tais; serve de norma e guia para as análises objetivas do comportamento humano. Bergson considerou mesmo a introspecção como o próprio método da metafísica, capaz de abrir-nos os caminhos do “eu profundo”, da “duração” interna e da intuição do absoluto. A filosofia reflexiva (Lachelier, Lagneau) partia da introspecção (apreensão de um conteúdo mental: de uma emoção, de um sentimento) para destacar em seguida, pela reflexão, o significado universal dos conteúdos de consciência e situar os sentimentos particulares (de agir, perceber ou criar) uns em relação aos outros na economia geral da personalidade. A tendência anormal à introspecção pode levar a uma suspensão do contato com o mundo, frequente entre os psicastênicos: a substituição do mundo real e objetivo pelo mundo interior caracteriza a “esquizofrenia”. O método de introspecção opõe-se ao método behaviorista, que se contenta em analisar objetivamente o “comportamento”. (V. psicologia.) [Larousse]
O psicólogo objetivista, principal interlocutor do fenomenólogo, afirma que a psicologia deve renunciar a conceder privilégios ao eu no conhecimento de si mesmo. A introspecção como método geral da consciência, admitia primeiro o axioma: a vivência de consciência constitui por si mesma um saber da consciência. Estou assustado, sei portanto o que é o medo, pois eu sou medo. Esse axioma supunha, por sua vez, uma transparência total do acontecimento de consciência para o olhar da consciência e que todos os fatos da consciência fossem fatos conscientes. Em outros termos, a vivência se dá imediatamente com seu sentido quando a consciência se volta para ela. Em segundo lugar, a vivência era concebida por essa psicologia introspectiva como interioridade: é preciso distinguir de modo categórico o exterior e o interior, aquilo que depende das ciências da natureza ou objetivo e o subjetivo, a que acedemos somente pela introspecção. Na verdade, o emprego dessa dissociação revelou ser coisa delicada especialmente depois dos progressos da fisiologia porque se propunha o problema de saber onde passava a linha de demarcação: donde as hipóteses paralelista, epifenomenistas etc, até finalmente compreender-se — a fenomenologia tem papel importante nesse amadurecimento do problema — que uma fronteira pode separar apenas regiões de natureza semelhante: ora, o psíquico não existe da mesma maneira que o orgânico. ” Em terceiro lugar, a vivência de consciência tinha um caráter estritamente individual em dois sentidos, a saber: é a vivência de um indivíduo situado e datado, e é por sua vez uma vivência que não poderia ser reproduzida. É essa última característica que esses “psicólogos” invocavam de modo determinante para defender o método introspectivo: é preciso apreender a vivência imediatamente, sem o que a vivência sobre a qual se reflete a seguir é uma nova vivência e o liame de uma a outra não apresenta qualquer garantia de fidelidade. A heterogeneidade dos “estados de consciência” condena toda forma de apreensão que não seja a introspecção. A individualidade e até a unicidade da vivência apreendida pela introspeção coloca, evidentemente, o duplo problema de sua universalidade e de sua transmissibilidade: a filosofia tradicional e a psicologia introspectiva resolvem-no geralmente primeiro levantando a hipótese de uma “natureza humana”, de uma “condição humana” que autorizaria a universalização dos resultados particulares, e a seguir dando preferência a uma linguagem de expressão pela qual a interioridade seria o menos possível traída, ao invés de utilizar o instrumento de comunicação que é a linguagem quotidiana ou a linguagem científica. Disto resulta a predileção dessa psicologia pelas formas literárias. Pode-se reconhecer de passagem um dos problemas essenciais do bergsonismo, que finalmente jamais foi abordado frontalmente por Bergson, ainda que constituindo a chave de todos os outros. Finalmente, a heterogeneidade das vivências no fluxo de consciência traduzia uma contingência que impedia, em última instância, que o psicólogo elaborasse leis a propósito do psiquismo: a lei pressupõe o determinismo. [Lyotard]