É com Filon ou Filão (25 a. C. e 50 d. C.) de origem judaica, que o judaísmo alcança seu ponto mais elevado na especulação filosófica. Os judeus de Alexandria faziam uma interpretação alegórica do Antigo Testamento. Eram influenciados pela filosofia grega, sobretudo por Platão e, em parte, pelos estoicos. As investigações de Filon centralizam-se, sobretudo, no exame da transcendência de Deus em relação ao mundo.
As ideias são intermediárias entre o homem e Deus, que é infinito, eterno e invisível, e essas ideias constituem o logos. À proporção que o homem penetra no mundo sensível, desce à matéria, aproxima-se do nada. Há, assim, uma hierarquia de seres: anjos, demônios, mensageiros, que são por sua vez, modelos e essências, que estão subordinados ao modelo perfeito, ao logos. Aproxima-se o homem de Deus à proporção que se afasta da matéria.
Essa a verdadeira missão do homem, que é uma ascendência pelo reino das ideias, que é o único caminho que permite chegar à contemplação extática de Deus. [MFS]
Constata-se a expansão da cultura greco-romana na Palestina pelos esforços helenizadores de Antíoco Epifanes estarem apoiados num partido de gente culta e também porque a confraria dos essênios, influenciada pelos pitagóricos, congregava no séc. I d. C. uns 4.000 membros. Mas foi principalmente entre a população judia, numerosa e bem estabelecida de Alexandria, que se deu uma fusão da teologia judaica com os temas filosóficos gregos.
O documento mais velho desta cultura judaico-alexandrina temo-lo nos Septuaginta. Os fragmentos de Aeistóbulo ( à volta de 170 a. C), conservados no Praep. ev. de Eusébio, explicam a sabedoria de Platão e de Pitágoras pelo seu conhecimento da revelação judaica e introduzem ideias gregas na teologia do Velho Testamento. O Livro da Sabedoria (último século a. C.) tem a sophia como um ente diferente de Deus e que se estende espiritualmente pelo mundo, tal como foi pensado depois o logos e que adotou uma matéria anterior ao mundo. As obras judaicas semelhantes e outras que Fílon cita de modo incerto, prepararam o seu sistema. Fílon, nascido entre 30-20 a. C. (já que em 41 d. C. era um velho), irmão do chefe da judiaria de Alexandria, a qual lhe entregou uma vez uma embaixada. Viveu em Alexandria. Suas obras têm sido editadas por Mangay, 1742; Richter, 1828 ss. Para o seu sistema, veja-se Heinze, Lehre von Logos, pp. 204-97; Soulier, La doctrine du logos chez Philon, 1876. A principal tarefa é determinar como são utilizadas obras gregas, especialmente estoicas. 1) O Antigo Testamento está literalmente inspirado tanto no texto original como na tradução grega, e deve ser entendido alegoricamente. Dele se serviram os filósofos gregos. 2) O que é, cuja essência perfeita não pode assinalar-se em suas propriedades, formou o mundo e atua mediante entidades intermediárias “forças” “ideias” (Platão), que se acham compreendidos no logos (que foi adquirido da stoa). Como Platão, aceita uma matéria independente de Deus. Wendland estudou, faz pouco, Fílon, fixando-se nas obras filosóficas anteriores utilizadas por ele, em Philos Schrift uber die Vorsehung, Neuendeckte Fragmente Philos, Die philosophiscen Quellen des Philo; von Arnim, Quellenstudien zu Philo, 1888; cf. Freudenthal, Die Erkenntnislehre Philos, 1891. [Dilthey]