Começada pelos nominalistas, a crítica da causalidade prosseguiu no cartesianismo para terminar, com o empirismo inglês do século XVIII, em uma negação radical. Daí por diante na filosofia moderna tornar-se-á corrente não considerar a causalidade senão como uma categoria ilusória ou subjetiva. Dentre as razões que conduziram a essa negação encontra-se, nos cartesianos, uma concepção demasiado absoluta da autonomia da substância ou da exclusividade da eficácia da ação divina; a causalidade segunda ou aquela que os seres criados podem exercer uns sobre os outros encontra-se, pois, mais ou menos comprometida. Mas a crítica mais radical resulta de uma interpretação fenomenista da experiência, como a que se pode encontrar em Hume, na qual, reduz-se a causalidade a uma pura relação de sucessão. Lanço uma bola que vem bater em outra e a põe em movimento, digo então que o movimento da primeira bola causou o da segunda. Na realidade, não observei senão a sucessão dos dois movimentos. É verdade que em circunstâncias análogas pude constatar que os mesmos fatos se reproduziram; e é por isso que terminei por considerar a relação entre os dois movimentos como uma relação de dependência e que finalmente erigi esta dependência em princípio absoluto, “tudo o que é movido é movido por um outro”. Mas fazendo isso ultrapassei o que me era dado. Kant pretendeu salvaguardar o caráter geral e necessário da relação causal, mas, como não fez dela senão uma categoria a priori da experiência, foi conduzido a recusar-lhe toda aplicação transcendente. Na realidade, como seus predecessores, é vítima de uma concepção fenomenista do conhecimento sensível, isto é, nega em princípio à inteligência o poder de apreender o inteligível no sensível.
Contra estas concepções críticas que apenas evocamos é preciso manter a realidade da causalidade tanto no plano da experiência, no sentido estrito, como no da afirmação dos princípios metafísicos primeiros. [Gardeil]