Doutrina ou atitude filosófica que declara o absoluto inacessível ao espírito humano. — Expressão geral de um espírito positivo em matéria de experiência, cético em matéria religiosa e metafísica (Kant, A. Comte). O agnóstico se opõe tanto aos “gnósticos” (que exaltam a crença irracional) quanto aos “dogmáticos” (que afirmam a verdade absoluta de suas demonstrações racionais). [Larousse]
(in. Agnosticism; fr. Agnosticisme; al. Agnosticismus-; it. Agnosticismó).
Esse termo foi criado pelo naturalista inglês Thomas Huxley em 1869 (Collected Essays, V, pp. 237 ss.) para indicar a atitude de quem se recusa a admitir soluções para os problemas que não podem ser tratados com os métodos da ciência positiva, sobretudo os problemas metafísicos e religiosos. O próprio Huxley declarou ter cunhado esse termo “como antítese do ‘gnóstico’ da história da Igreja, que pretendia saber muito sobre coisas que eu ignorava”. Esse termo foi retomado por Darwin, que se declarou agnóstico em uma carta de 1879. Desde então o termo foi usado para designar a atitude dos cientistas de orientação positivista em face do Absoluto, do Infinito, de Deus e dos respectivos problemas, atitude essa marcada pela recusa de professar publicamente qualquer opinião sobre tais problemas. Assim, foi chamada da agnóstica a posição de Spencer, que, na primeira parte dos Primeiros princípios (1862), pretendeu demonstrar a inacessibilidade da realidade última, isto é, da força misteriosa que se manifesta em todos os fenômenos naturais. O fisiólogo alemão Du-Bois Raymond, num texto de 1880, enunciava Os sete enigmas do mundo (origem da matéria e da vida; origem do movimento; surgimento da vida; organização finalista da natureza; surgimento da sensibilidade e da consciência; pensamento racional e origem da linguagem; liberdade do querer), em face dos quais ele achava que o homem estava destinado a pronunciar um ignorabimus, já que a ciência nunca poderá resolvê-los. No mesmo período, essa palavra foi estendida para designar também a doutrina de Kant, porquanto esta considere que o númeno, ou a coisa em si, está além dos limites do conhecimento humano (v. númeno). Mas essa extensão da palavra não pode ser considerada de todo legítima, dada a concepção kantiana de númeno como conceito–limite. É parte integrante da noção de agnosticismo a redução do objeto da religião a simples “mistério”, em cuja interpretação os símbolos usados são de todo inadequados. [Abbagnano]
(derivado de grego agnostos: desconhecido; usado pela primeira vez por Th. H. Huxley) significa, etimologicamente, doutrina da incognoscibilidade.
Segundo a acepção corrente, designa aquela direção filosófica que defende a incognoscibilidade do supra-sensível e, por conseguinte, a negação da metafísica como ciência, especialmente no que se refere à possibilidade do conhecimento de Deus. Não impugna a possibilidade nem também a cogitabilidade do ser para além da área da experiência possível, mas denega à razão humana a capacidade de conhecer com certeza a existência e, com dobrada razão, a essência do ente metempírico (“transcendente”). Portanto, o conhecimento fica circunscrito ao intra-mundano, ao compreensível mediante conceitos próprios e unívocos; pelo contrário, o transcendente ( Transcendência) — dada a ignorância da possibilidade do conhecimento analógico — permanece na melhor das hipóteses, à mercê de um pressentimento, sentimento ou “fé” irracionais. O agnosticismo é essencial a todo positivismo; encontra-se outrossim no criticismo de Kant, na filosofia da religião do modernismo, decididamente influída por ele, na filosofia religiosa do moderno protestantismo e também na teologia dialética. Pelo contrário, o idealismo, levado às últimas consequências, ao reduzir toda realidade à consciência, desconhece, em princípio, o incognoscível, embora, naturalmente, só evite o agnosticismo, negando em absoluto a existência do transcendente. — De Vries. [Brugger]
Do grego agnostos, o que não se pode conhecer. Termo de formação recente (Huxley, 1869).
a) Emprega-se para designar toda doutrina que afirma a impossibilidade peremptória de conhecer a realidade ou certas regiões da realidade, cuja existência, porém, é admitida como certa ou como possível.
b) Também designa a atitude filosófica, que renuncia, em princípio, as especulações metafísicas, por julgá-las fúteis.
A primeira definição abrange doutrinas filosóficas de cunhagem bastante diversa. É costume aplicar esse nome, especialmente, aos positivistas, Comte, e Spencer, como, com alguma reserva, também ao criticismo de Kant, e a todos os que, atribuindo ao conhecimento um valor relativo, estão forçados, daí, a tirar consequências agnosticistas.
c) Na atualidade, o agnosticismo se reveste de um aspecto parcial, principalmente em relação com o problema do irracional (Vide: irracional). «Parcial», enquanto ele atribui à razão um campo limitado e congênere.
d) Em Bergson, encontramos um agnosticismo moderado: «Há, na matéria, algo mais, não, porém, algo diferente do que é atualmente dado (à consciência). Sem dúvida, a percepção não alcança totalmente a matéria, posto que consiste, em tanto que consciente, na separação ou no discernimento do que, nesta matéria, interessa às nossas necessidades. Porém, entre essa percepção da matéria e a própria matéria, não há mais que uma diferença de grau e não de natureza, estando a percepção pura para com a matéria na relação de parte para o todo.
e) Emil Lask, pelo contrário, acentua a heterogeneidade entre a realidade e a razão. Segundo ele, a lógica é aplicável a toda realidade, mas sem compreendê-la propriamente.
Alcançar algo, por meio de uma forma categórica, não significa necessariamente compreender. Ser afetado por uma categoria não quer dizer ser racionalizado, tornado transparente. O conteúdo colocado em uma forma categórica permanece absolutamente indecomponível (unzerlegbar), irredutível à forma, neste sentido, irracional. Sem vacilação, portanto, deve-se proclamar o caráter ilimitado da verdade (die Schrankenlosigkeit der Wahrheit) quer dizer, a aptidão da forma lógica para envolver todo conteúdo sem qualquer exceção. (Contra Kant, segundo o qual o campo de aplicações das formas categóricas está limitado à esfera do que nos é dado pela intuição sensível). Ao que corresponde, por outro lado, à completa impotência da forma lógica para reduzir a si mesma o irracional, que nela está envolto.
f) Especial atenção dedicou Nikolai Hartmann a estes problemas, e chegou a distinguir quatro diferentes graus de irracionalidade, e, portanto, de agnoscibilidade do ser.
Como muitos admitem que, onde o pensamento discursivo falha, pelo menos a intuição podia ser aplicada com êxito, N. Hartmann afirma a existência de uma região de realidade, que é simplesmente inacessível também à intuição.
g) Na Teologia: agnosticismo designa toda doutrina que nega a possibilidade de obter conhecimento a respeito de Deus, quer da sua existência, quer da própria essência divina. São muitas as formas das teorias, no decurso da história, que contestaram a gnoseibilidade de Deus pela luz natural da razão humana, ou até por uma revelação. Uma versão recente de agnosticismo teológico é a de A. Ritschl, que se baseia, em parte, na teoria do conhecimento de Kant, e, também, na de Lotze, sustentando aue o homem conhece somente o fenômeno. Como Deus não é um phaenomenon, o homem, por conseguinte, não pode conhecê-lo. A Teologia, portanto, não trata de causa efficiens, mas da «causa finalis», quer dizer, ela considera a Deus não como um ser, mas como um «ideal atraente», o que impressionando o homem subjetivamente, por seu valor, leva-o a adorá-lo. [MFSDIC]