verbo

(gr. sema; lat. Verbum; in. Verb; fr. Verbe; al. Zeitwort; it. Verbo).

Como parte do discurso, o verbo foi definido por Aristóteles como “o nome em cujo significado há uma determinação temporal, cujas partes nada significam separadamente e que é o signo das coisas que se dizem de outra coisa” (De int, 3, 16 b 6). Essa definição foi conservada pela lógica medieval (v. Pedro Hispano, Summ. log., 1.05). Na linguística moderna, a distinção entre nome e verbo tornou-se muito menos importante, visto que, embora comum a muitas línguas, não existe em outras (Bloomfield, Language, 1933, p. 20). (Abbagnano)


É preciso examinar o difícil termo grego logos, e conjecturas sobre um possível desvio na justa interpretação do Evangelho de João, ao se fazer a tradução latina de Logos como Verbum, que veio em seguida a ser traduzido nas línguas ocidentais por Palavra. Em nosso entendimento literal atual, supomos uma referência ao falar de Deus, até mesmo um comando verbal, como o Fiat Lux, o que dificulta ainda mais a compreensão de No princípio era o Verbo.


… O Verbo designa a autogeração da Vida na medida em que ela se cumpre em forma de autorrevelação, na medida em que essa autorrevelação se cumpre em forma de Ipseidade essencial e, assim, do Primeiro Vivente. Porque não há Vida que não se cumpra deste modo na Ipseidade essencial do Primeiro Vivente, este é tão antigo quanto ela. “No princípio era o Verbo.” Porque a Verdade da Vida (esta verdade que é a Vida) é radicalmente estranha ao mundo, então o que ela engendra no estreitamento inicial de sua Ipseidade essencial – o Primeiro Vivente – não se vai para fora dela, mas permanece nela, neste estreitamento da vida. “E o Verbo estava com Deus.” Porque este estreitamento da Vida em que o Verbo permanece é a própria vida em sua autorrevelação, então este Verbo não é diferente, com efeito, da essência desta vida. “E o Verbo era Deus.” O segundo versículo já é o resumo das implicações essenciais que acabamos de lembrar com João e que constituem o cerne do cristianismo, o que nós denominamos tautologias essenciais da Vida. “Ele estava no princípio junto de Deus.” O que significa este “junto de” está já arrancado à longa sequência de contrassensos a que o vai fazer sofrer o pensamento ocidental até o bei sich hegeliano. E isso no texto demasiado denso do versículo 4 em que é afirmada a interioridade fenomenológica recíproca do Pai e do Filho – se é verdade que a vida só se lança em si na Ipseidade do Primeiro Vivente de modo que a primeira porta em si a segunda, e a segunda, a primeira: “Nele era a Vida.” (Michel Henry, MHSV; veja Verbo de Vida)


René Guénon: VERBO E SÍMBOLO
Si el Verbo es Pensamiento en lo interior y Palabra en lo exterior, y si el mundo es el efecto de la Palabra divina proferida en el origen de los tiempos, la naturaleza entera puede tomarse como un símbolo de la realidad sobrenatural. Todo lo que es, cualquiera sea su modo de ser, al tener su principio en el Intelecto divino, traduce o representa ese principio a su manera y según su orden de existencia; y así, de un orden en otro, todas las cosas se encadenan y corresponden para concurrir a la armonía universal y total, que es como un reflejo de la Unidad divina misma. Esta correspondencia es el verdadero fundamento del simbolismo, y por eso las leyes de un dominio inferior pueden siempre tomarse para simbolizar la realidad de orden superior, donde tienen su razón profunda, que es a la vez su principio y su fin.

René Alleau: ASPECTS DE L’ALCHIMIE TRADITIONNELLE

O Prólogo do Evangelho de João testemunha da continuidade do ensinamento dos mistérios pela diferença estabelecida entre as três «Palavras», a saber entre as três hipóstases do Logos. A primeira Palavra equivale à «palavra interior ao Princípio» ou ao inconcebível pois ela enuncia, simultaneamente, a temporalidade, «No princípio» e a eternidade do Verbo, «era a Palavra». A segunda Palavra se refere à «Palavra concebível»: «e a Palavra estava com Deus». A terceira Palavra é a «Palavra concebida»: «e a Palavra era Deus». Esta tripla diferença é igualmente indicada nos «Provérbios»:

É pela Sabedoria que o Eterno fundou a Terra.
É pela Inteligência que afirmou os céus.
É por sua Ciência que os abismos se abriram.
E que as nuvens distilaram o orvalho.

No simbolismo cristão, a «Sabedoria» pertence ao «Pai», a «Inteligência» ao «Filho» e a «Ciência» é o dom do «Espírito Santo».

O esoterismo extremo-oriental observa distinções análogas entre o «Tao» inconcebível, o «Tao» manifestado ou o «Ming» que não é somente o «Nome» mas também a «Luz verbal» e a manifestação formal regida pelo «Khi» que se poderia traduzir, aproximadamente, pelo termo de «energia formadora».

Mais especialmente, o domínio próprio às «ciências tradicionais», no Oriente como no Ocidente, se refere constantemente à terceira hipóstase do Logos cuja dupla natureza é indicada pelo simbolismo das duas «Serpentes» e dos poderes da «chaves», do «solve et coagula», do manejo do «khi do yin» e do «khi do yang».

O termo «Logos», o verbo, a palavra, repousa provavelmente na raiz indo-europeia «Leuk», brilhar, ser luminoso, do qual derivam o nome de «Deus», o latin «dies», o dia, o sânscrito «divyah», celeste, o grego «dios», divino. A raiz «Leuk» se encontra em «lux», «luz», «luci», velho eslavo, luz, «loche», irlandês, clarão, «lug», gálico, brilhante. O «Logos» parece portanto a luz e o fogo, por excelência, o princípio da manifestação, em sua tri-unidade, «lógica» e «cosmológica». Assim o conhecimento verdadeiro, a ciência verdadeira, são e não podem ser senão iluminativas, o que testemunha a tradição.


Não é sem razão que se podem lembrar, a propósito do simbolismo, as primeiras palavras do Evangelho de São João: “No princípio era o Verbo.” O Verbo, o Logos, é, ao mesmo tempo, Pensamento e Palavra: em si, Ele é o Intelecto divino, o “lugar dos possíveis”. Em relação a nós, Ele se manifesta e se exprime pela Criação, na qual se realizam, na existência atual, alguns desses possíveis que, enquanto essências, estão contidas Nele desde toda eternidade. (Guénon)