ζῆν: viver
Viver (bioun) e viver (zen) se diferenciam. Pois viver (bioun) se diz somente dos homens; viver (zen) dos homens e dos animais que carecem de logos e às vezes também das plantas. Pois se diz que a vida (zoe) é uso da alma […]
A vida (bios) se distingue da vida (Zoe). A vida (bios) se refere aos animais que possuem logos, isto é, somente aos homens. A vida (zoe) aos homens e aos animais que carecem de logos. Daí que Aristóteles definiu a vida (bios) deste modo: “a vida (bios) é a vida (zoe) com logos”. Por isso, designar a vida (bios) aos animais é falar sem sentido. [Ammonius, De adfinium vocabulorum differentia]
Para a tematização da vida [Os viventes não vêm à existência de nenhum outro modo a não ser a partir daqueles que estão mortos.] — não apenas da humana mas de toda a sua forma de manifestação enquanto tal, de tudo quanto se gera [Fédon, 70e1] —, é necessária a consideração do seu limite extremo, a morte ou qualquer outra forma de perecimento e destruição [Assim também da mesma forma é necessário perceber o mesmo para todos os entes para os quais há uma forma de sentido contrária (Féd., 71a9 e 71e5).]. O viver é o contrário do morrer como o acordar é o contrário do adormecer. Este pensamento de fundo procura apontar para o modo como, em geral, há uma articulação [Féd., 71c9] e uma tensão entre os limites que estão em causa [Féd., 71b1]. O viver (τὸ ζῆν [to zen]) pode ser expressão de uma forma de excelência (ἀρετή [arete]) na medida em que é pensado como a força que permite a qualquer ente vivo não perecer ou destruir-se e continuar em vida. Permite-lhe sobre-viver. O sentido da τάξις [taxis] é experimentado na manifestação da vida como a ordenação organizativa que constitui a aptidão e a disposição intrínsecas que fornecem a todo o ente vivo em geral a possibilidade de se agarrar à vida e de não perecer, permitindo-lhe viver o máximo de tempo possível [Gór., 512d8]. Em causa não está a qualificação da vida, se ela se processa em boas [Não podemos dizer que um animal que mata para sobreviver age mal, nem que todo o esforço gigantesco que leva a cabo para assegurar a subsistência das crias é excelente.] ou em más condições, mas tão-só a pura possibilidade de roubar sempre e continuamente um instante à morte, ao que impede, portanto, a continuação e a manutenção da vida. Viver doente do corpo ou da alma pode ser um mal. Mas a análise da excelência (ἀρετή) da vida neste nível de consideração pergunta só pela possibilidade de levar a morte de vencida, quaisquer que sejam as condições para essa persistência [O barqueiro que no Górgias procura a todo o custo salvar as vidas não leva em consideração se para algumas não seria melhor morrer. Cf. Gór., 510c-512b2.] e insistência. [CaeiroArete:30-31]