Unamuno (Miguel de), escritor e filósofo espanhol (Bilbao 1864 — Salamanca 1936). Professor de grego na universidade de Salamanca, foi o modelo do humanismo revolucionário anti-franquista e o é, ainda, dos intelectuais espanhóis de hoje. Poeta (em Poesias, 1907) e romancista, que pinta sua província natal em Paz na guerra (Paz en la guerra), em 1897, Una-muno revela-se também como pensador em O sentimento trágico da vida (Del sentimiento trágico da la vida), 1915; A agonia do cristianismo (La agonia dei cristianismo), em 1924. Pensador cristão, Unamuno situa-se, no panteão internacional dos filósofos, ao lado de Gabriel Mareei, na França, e de Martin Buber, na Alemanha. [Larousse]
Unamuno, Miguel de (1864-1936) Juntamente com Ortega y Gasset, Unamuno é um dos maiores filósofos e homens de letras da Espanha neste século, responsável pelo desenvolvimento do pensamento espanhol contemporâneo e pela introdução dos grandes temas da filosofia de sua época na cena espanhola. Nascido em Bilbao, estudou na Universidade de Madri e foi depois professor de grego e de filologia na Universidade de Salamanca (1891-1934), da qual foi também reitor. O pensamento de Unamuno é profundamente humanista e existencial, valorizando de modo central a experiência humana, contra o tratamento idealista do homem em abstrato. Combate neste sentido o cientificismo e o racionalismo. Destacou-se como poeta, romancista e crítico literário, sendo suas principais obras: Paz en la guerra (1897), Poesías (1907), Contra esto y aquello (1912), sua obra mais conhecida, Del sentimiento trágico de la vida (1913), Niebla (1914), La agonia del cristianismo (1931). [Japiassu]
Unamuno, Miguel (1864-1936)
Natural de Bilbao, concluiu o bacharelato nesta cidade, estudando filosofia e letras na Universidade de Madri. Sua primeira orientação filosófica foi dominada pelo positivismo. Em 1894, três anos depois de ganhar sua cátedra de grego clássico na Universidade de Salamanca, ingressou no partido socialista e começou a escrever no jornal “A luta de classes”, de Bilbao. Em 1897, experimentou uma crise religiosa que o fez voltar a repensar os problemas religiosos da infância e seus próprios problemas como indivíduo, inaugurando assim o que podemos chamar seu existencialismo. Nesta época, descobriu a obra e a personalidade de Kierkegaard, com quem tem numerosas afinidades.
De sua cátedra em Salamanca, desdobrou uma atividade extraordinária, dando aulas, escrevendo na imprensa diária e cultivando quase todos os gêneros literários: ensaio, teatro, contos, poesia, crônicas de estudo, crítica etc. Seus livros de maior significação filosófica, como Do sentimento trágico da vida, revelam uma grande influência da teologia protestante e uma primordial preocupação com os problemas do indivíduo enquanto ser limitado. “A limitação provoca a frustração do eu em sua ânsia de ser tudo sem deixar de ser ele mesmo. Essa problemática, somada aos conflitos fé–razão, lógica-biótica, tempo–eternidade, configura o horizonte existencialista em que se movem as reflexões unamunianas” (M. A. Quintanilla, Diccionario de filosofia contemporánea).
A tese fundamental de Unamuno é a mesma que a do pragmatismo e de toda filosofia da ação: a subordinação do conhecimento, do pensamento, da razão à vida e à ação. “A vida — diz em Vida de Dom Quixote e Sancho — , é o critério da verdade e não a concórdia lógica, que é somente da razão. Se minha fé me leva a aumentar ou criar vida, para que quereis mais provas de minha fé?” (c. 31). Além disso, em sua doutrina há um elemento irracional: a afirmação do caráter obscuro, arbitrário, inconsciente e irracional de toda doutrina ou crença. Esse fundo irracional em que se apoia a filosofia unamuniana tem como base o inconsciente: é uma exaltação da fé pela fé, do crer pelo crer, da vida pela vida, que não precisa de nenhum critério racional e objetivo, pois a fé e o crer não são mais que a própria vida.
Mas a vida para ele não é algo abstrato: é minha própria vida, meu próprio eu, que sou um homem de carne e osso. Concebe o homem como um ser de carne e osso, como uma realidade verdadeiramente existente, como um “princípio de unidade e um princípio de continuidade”. Um indivíduo real e atual com “fome de sobrevivência e afã de imortalidade”. A crença na imortalidade, em minha imortalidade, não consiste em uma pálida e desbotada sobrevivência das almas. Unamuno espera e proclama “a imortalidade de corpo e alma”, e precisamente do próprio corpo, o qual se conhece e sofre na vida cotidiana. Essa esperança na ressurreição dos corpos, de base fundamentalmente cristã, é rastreada por ele nos numerosos exemplos da sede de imortalidade, desde os mitos e as teorias do eterno retorno até o afa de glória. E até na voz constante de uma dúvida que se insinua no coração do homem quando este afasta como molesta a ideia de uma sobrevivência.
— Como para Unamumo o homem é tudo em sua raiz, o tema de Deus só tem sentido quando aparece no horizonte existencial da ânsia humana de imortalidade. E como o homem aspira a ser mais homem, e o que o homem deseja ser não é outra coisa que Deus, assim Deus transforma-se no ideal do homem e da humanidade. O homem cria Deus. Deus em mim, para mim e a partir de mim, como iluminação de minha ânsia de imortalidade. Deus é pessoal enquanto o homem tem experiência pessoal dele, sente-o atuar e viver em si mesmo. O Deus–razão é um Deus arbitrário. Só tem sentido o Deus–amor, que responde ao que o homem precisa: um Deus vontade, amor, ideal, sofrimento, fim inefável e inacessível.
A fé e somente a fé consegue o encontro com esse Deus–amor. E uma fé porque cria o querer — daí sua definição da fé como “criar o que não vemos” — , um crer de caráter imanentista, num esforço agônico de superação, que nunca se alcança totalmente. No entanto, as verdades de fé, em sentido dogmático, são dogmas mortos (Diccionario de filósofos).
Que dizer desse pensamento e filosofia unamunianos? Devemos exaltá-lo como um grande místico ou cristão? Deve-se rebaixá-lo à condição de “herege e pai de hereges”, como alguém disse dele? “A esperança unamuniana — conclui Ch. Moeller — participa da esperança bíblica por seu projeto: eternidade, caridade, ressurreição, peregrinação pela infinitude de Deus; mas se opõe a ela por seu fundamento, pois repudia radicalmente toda luz. Como uma ponte sobre dois pilares, a esperança cristã apoia-se na chamada feita por Deus e em sua promessa de salvar-nos. A esperança unamuniana, ao contrário, é como uma ponte estendida sobre o vazio; seu vertiginoso arco repousa sobre um só pilar; nossa abismal recusa a morrer”. Eis, sem dúvida, a razão porque o autor do sentimento trágico não cite jamais este texto da Bíblia: “Deus é luz…”.
“Unamuno pregou a esperança durante toda a sua vida ‘apostólica’; a cruz que sempre levava sobre o peito, procedente de sua mãe e a que fez acrescentar à célebre estátua de Victorio Macho, testemunham sua adesão definitiva à cruz, única salvação” (Ch. Moeller, Literatura del siglo XX y cristianismo, IV, 161-163).
BIBLIOGRAFIA: Obras completas. Ed. de M. García-Blanco, 1950-1958, 16 vols.; Julián Marías, Miguel de Unamuno 1948; Id.; La filosofía española actual: Unamuno, Ortega, Mor ente, Zubiri, 1948; Hernán Benitez, El drama religioso de Unamuno, 1949; Ch. Moeller, Literatura dei Siglo XX y cristianismo, TV. [Santidrián]