Troeltsch, Ernst (1865-1922) Filósofo alemão (nascido em Haunstetten) neokantista da escola de Baden. Preocupou-se principalmente com o problema da evolução do espírito religioso. Obras principais: O caráter absoluto do cristianismo e a história da religião (1901), O historicismo e sua superação, póstuma (1924). Ver neokantismo. [Japiassu]
Essencialmente, a questão fundamental de Troeltsch (1865-1923) é a que brota, por um lado, da consciência histórica que nos mostra o condicionamento de toda forma de religião e, por outro lado, da pretensão da religião de possuir validade absoluta.
Troeltsch rejeita tanto a solução positivista, que fazia da religião o estágio primitivo da humanidade, como a solução romántico-idealista, que via nas diversas religiões a realização de uma essência universal. Para Troeltsch, as religiões são fatos históricos individuais, inclusive o cristianismo. Mas, como ele observa em O caráter absoluto do cristianismo e a história da religião (1902), a condi-cionabilidade de um fenômeno histórico não o priva de validade.
A religião é historicamente condicionada (e, com base em Marx, pode ocorrer sobre ela também um condicionamento econômico). Entretanto, na opinião de Troeltsch, em fenômenos como o surgimento do cristianismo e da Reforma, ela mostra uma causalidade autônoma, no sentido de que certos acontecimentos religiosos são produtos de fatos igualmente religiosos. Essa independência da religião em relação à causalidade natural é interpretada por Troeltsch como a presença de Deus no finito. E, segundo ele, o cristianismo é superior às outras religiões precisamente pelo seu reconhecimento explícito da ação de Deus na história. E, assim, a história “distribui o conteúdo da vida espiritual no trabalho de bilhões de homens” e “o seu mistério conhece-o somente Deus”.
É óbvio que tal posição devia levar Troeltsch a se posicionar também contra o relativismo dos outros historicistas. Segundo ele, com efeito, “relatividade de valores não quer dizer relativismo, anarquia, acaso ou arbítrio”. Em O historicismo e seus problemas, de 1922, podemos ler: “A relatividade dos valores só tem sentido se nesse relativo existe algo do absoluto que vive e cria, caso contrário ela seria somente relatividade, mas não relatividade dos valores”. O absoluto, prossegue Troeltsch, “é vontade de criação e de formas, que, nos espíritos finitos, torna-se autoformação, que brota do fundamento e do impulso divino”. [Reale]