técnicas de longevidade

A terminologia chinesa distingue habitualmente o taoismo filosófico (Tao-Kia, literalmente “escola taoista”) do taoismo religioso ou “religião taoista” (Tao Kiao, lit. “seita taoista”). Certos autores julgam essa distinção legítima e necessária; para eles, o taoismo de Lao-tsé e de Chuang-tsé é uma “filosofia pura”, que contrasta radicalmente com a busca da imortalidade física, objetivo central da “religião taoista”. Outro grupo de pesquisadores defende a unidade fundamental de todas as formas históricas do taoismo. Na verdade, os “metafísicos” e os “místicos”, bem como os iniciados que buscavam a imortalidade física, compartilhavam a mesma concepção paradoxal do Tao e perseguiam o mesmo objetivo: reunir em sua pessoa as duas epifanias da realidade última (yang e yin, matéria e espírito, vida e morte). Contudo, a distinção entre o “taoismo filosófico” e a “religião taoista” é útil e pode ser mantida.

O objetivo último dos iniciados era alcançar a imortalidade física. O ideograma para o “Imortal” (hsien), que representa um homem e uma montanha, sugere um eremita; no entanto, as formas de maior antiguidade representavam um homem dançando que sacode as mangas de sua roupa como um pássaro. O iniciado em via de obter a imortalidade era recoberto com penas de pássaro e brotavam-lhe asas das espáduas. “Subir ao céu em pleno dia” era a fórmula consagrada à apoteose final do Mestre. Uma segunda categoria era composta dos iniciados que viviam durante séculos numa espécie de paraíso terrestre: as Ilhas maravilhosas ou a Montanha santa K’uen-luen. Voltavam de quando em quando ao mundo para transmitir as fórmulas de imortalidade física a certos neófitos dignos de recebê-la. Finalmente, a terceira categoria englobava aqueles que só depois da morte atingiam os paraísos terrestres. Essa morte era, no entanto, aparente: deixavam no ataúde um bastão, uma espada ou sandálias, aos quais haviam dado a aparência dos seus corpos. A isso se chamava a “libertação do cadáver”. Os Imortais eram às vezes representados com um crânio desproporcionalmente desenvolvido, sinal de que haviam armazenado no cérebro uma grande quantidade de energia yang.

Acham-se à disposição do iniciado várias técnicas de longevidade. O seu princípio fundamental consiste em “alimentar a força vital” (yang-hsing). Já que existe perfeita correspondência entre o macrocosmo e o corpo humano, as forças vitais penetram e saem pelos nove orifícios do corpo; é importante, pois, vigiá-las atentamente. Os taoistas distinguem no corpo três seções, denominadas Campos de Cinábrio: o “camposuperior está localizado no cérebro, o segundo perto do coração e o terceiro, abaixo do umbigo. As práticas dietéticas têm um objetivo preciso: nutrir os órgãos com alimentos e ervas medicinais que contêm as “energias” que lhes são específicas. Cumpre lembrar que as regiões internas do corpo são habitadas não só por deuses e espíritos protetores, mas também por seres maléficos: os Três Vermes, que residem nos três Campos de Cinábrio, devoram a vitalidade do iniciado. Para livrar-se deles, o iniciado deve renunciar aos alimentos comuns (cereais, carne, vinho etc.) e nutrir-se de plantas medicinais e substâncias minerais capazes de matar os três demônios.

Livrando-se dos três demônios interiores, o iniciado começa a alimentar-se de orvalho ou “alentos” cósmicos; inala não apenas o ar atmosférico, mas também as emanações solar, lunar e estelar. Conforme certas receitas, atestadas no século III A.D., deve-se absorver a emanação do sol ao meio-dia (quando o yang se encontra no apogeu) e a da lua (que contém o yin) à meia-noite. Mas é preciso sobretudo reter o alento; mediante uma visão interior e concentrando o próprio pensamento, consegue-se visualizar o alento e conduzi-lo através dos três Campos de Cinábrio. Se retivermos o alento durante o tempo necessário a mil respirações, obteremos a imortalidade.

Um processo especial denomina-se “respiração embrionária” (t’ai-si); trata-se de um “alento” interior, em circuito fechado, parecido com o do feto no ventre materno. “Voltando à base, retornando à origem, expulsa-se a velhice e regressa-se ao estado de feto.” A “respiração embrionária” não é, como o pranayama ióguico (cf. § 143), um exercício preliminar à meditação. Entretanto, essa prática torna possível certa experiência extática. Segundo o T’ai-p’ing ching (século III A.D.), por meio de uma visão interior, pode-se chegar a discernir os deuses residentes nos cinco órgãos. São, aliás, os mesmos deuses que habitam o macrocosmo. Pela meditação, o iniciado pode entrar em comunicação com eles e fazê-los visitar e fortalecer o seu corpo.

Outro método para se conseguir a longevidade compreende uma técnica sexual que é, ao mesmo tempo, um ritual e um meio de meditação. As práticas denominadas do “quarto de dormir” (fang shung) são extremamente antigas; tinham por objetivo aumentar a vitalidade e assegurar a longevidade e a procriação de filhos do sexo masculino. Mas a técnica taoista, a “via do Yin” do Imortal Yang-tcheng (século I A.D.), consiste em “fazer o esperma voltar, para que o cérebro se recomponha”. Trata-se, na verdade, do mesmo ideal de ataraxia especificamente taoista: evitar a dispersão da energia vital. O iniciado deve efetuar o ato sexual sem emissão de sêmen. A retenção permite que o esperma misturado ao “alento” circule no interior do corpo; mais exatamente, possibilita a sua ascensão desde o Campo inferior de Cinábrio até o Campo situado na cabeça, para revitalizar o cérebro. Normalmente, os dois parceiros tiram proveito desse rito. Um texto do século V A.D. esclarece que, pela “meditação perfeita… os homens e as mulheres poderão praticar o método da Vida Eterna”. Através da meditação, os dois parceiros devem “perder a consciência dos seus corpos e a consciência do mundo exterior”; em seguida, depois de ter pronunciado algumas orações, o homem deve concentrar-se nos rins e a mulher no coração. “É o método para não morrer.”

O Imortal Jong Tch’eng Kong conhecia perfeitamente o método de “consertar e conduzir”. “Hauria a essência na Fêmea misteriosa; o seu princípio era que os Espíritos vitais que residem no Vale não morrem, pois através deles se conserva a vida e se nutre o alento. Os seus cabelos, que eram brancos, voltaram a ficar pretos; os seus dentes, já caídos, tornaram a crescer. As suas práticas eram idênticas às de Lao-tsé. Diz-se também que ele foi o mestre Lao-tsé.” Certos iniciados aplicam um método a que se deu o nome de “vampirismo” (Kaltenmark) e que foi condenado como não-ortodoxo. A prática consistia em absorver a energia vital das mulheres com quem se tinham relações sexuais: “Essa energia, proveniente das próprias fontes da vida, proporcionava uma longevidade considerável”.

Um dos principais objetivos da técnica sexual taoista é misturar o sêmen com o alento no Campo de Cinábrio inferior e ali formar, abaixo do umbigo, o “embrião misterioso” do novo corpo imortal. Alimentado exclusivamente do “alento”, esse embrião desenvolve-se num “corpo puro” que, por ocasião da morte aparente do iniciado, se destaca do cadáver e reúne-se aos outros Imortais. A fim de “recompor o cérebro”, deve o iniciado absorver grande quantidade de Yin; é por essa razão que ele mudava diversas vezes de parceiro. Essa prática deu lugar, mais tarde, à “união dos alentos” coletiva, cerimônia muitas vezes criticada, sobretudo pelos budistas. Tal “orgia”, porém, era rigorosamente ritual; tem origem, de fato, nas cerimônias agrárias da proto-história (cf. § 130).

Pode-se descobrir nas práticas sexuais taoistas certa influência indiana, particularmente a do tantrismo da “mão esquerda”, que havia elaborado um método ióguico para conseguir, ao mesmo tempo, suspender a respiração e conter a emissão seminal. Tal como ocorria no tantrismo, a terminologia sexual taoista refere-se igualmente a operações mentais e a experiências místicas. (HCIR)