(gr. echo; lat. Habere; in. To have; fr. Avoir; al. Haben; it. Avere).
Uma das dez categorias de Aristóteles, na qual ele mesmo distinguiu muitos significados, desde que pode referir-se a qualidade, quantidade, posse, disposição, uma parte do corpo, conteúdo de um recipiente, uma propriedade (“ter uma casa ou uma fazenda”). Aristóteles também observa que se diz “ter uma mulher”, mas que esse significado é impróprio porque significa apenas que se mora com ela (Cat., 15, 15 b 3 ss.). Essas distinções são repetidas na lógica medieval (cf., p. ex., Pedro Hispano, Summ. log., 3.37-38; Jungius, Logica hamburgensis, I, 14, 24). Num significado assim amplo esse termo indica uma relação qualquer. Hegel, porém, queria restringi-lo à relação entre a coisa e suas propriedades (Ene, § 125).
Marcel contrapôs o ter ao ser. O ter seria a categoria dominante na exterioridade das coisas, entre as quais o homem vive em sua função social ou vital, enquanto o ser seria a categoria própria da subjetividade, que é mistério (Être et avoir, 1935). No ter, no fazer e no ser, Sartre viu as três grandes categorias da existência humana. Mas o fazer se resolveria no ter, visto que qualquer forma de ação ou de produção, inclusive o conhecer, é uma forma de apropriação; por outro lado, o ter se reduz ao ser porque o desejo de ter no fundo é redutível ao desejo de “estar em relação com certo objeto em certa relação de ser” (L’être et le néant [1943], 1955, pp. 663 ss.).
Tanto na linguagem corrente quanto na lógica e na matemática, ter hoje indica apenas uma relação de qualquer gênero. [Abbagnano]