tendência

(in. Tendency; fr. Tendance; al. Trieb; it. Tendenzà).

Entende-se por tendência todo impulso habitual e constante para a ação. Nisso a tendência distingue-se do impulso, que é a ação súbita e temporária. Kant restringiu o significado desse termo a apetite habitual, de natureza sensível (Antr., § 73). Schiller admitiu três tendências fundamentais no homem; a primeira, de natureza sensível, instiga-o à mudança; a segunda, ou tendência à forma, instiga-o à imutabilidade; finalmente, a terceira, ou tendência ao jogo, instiga-o a combinar as duas primeiras (Briefe über die aesthetische Erziehung, 12, 13). A esta distinção Fichte contrapôs outra, entre a tendência ao conhecimento, que torna o homem um “ser representante”, a tendência prática, que visa à modificação e à formação das coisas, e a tendência estética, que visa a determinada representação só em vista dela mesma, e não da coisa ou do conhecimento da coisa (Werke, VIII, pp. 278-79). Mais recentemente, Jaspers distinguiu três ordens de tendência: 1) as sensíveis, com correlato somático (fome, sede, sexo, etc); 2) as vitais mas sem localização somática (tendência à auto-exaltação ou à submissão, à imigração, à sociabilidade, etc); 3) as espirituais, voltadas para a realização de valores (Allgemeine Psychopathologie, 1913). [Abbagnano]


A espontaneidade orientada para um fim. — Falamos de tendência quando não podemos explicar um comportamento por uma situação externa: quando um ser age por si só. A tendência é a expressão da vida num organismo (tendência a crescer, tendência dos heliotrópios de orientarem-se pelo sol, ou “tropismo”). Os psicólogos distinguem, no homem, as tendências motoras, que se ligam à ação, as tendências afetivas (simpatia, amor) e as tendências intelectuais (a atenção que nos “leva” para um objeto, a uma investigação). P. Janet expôs um quadro de tendências segundo seu grau de complexidade. [Larousse]


Em sentido muito lato, é todo apetite; assim falamos, mas com inexatidão, de tendências espirituais. Em sentido estrito, tendência é o apetite sensitivo dirigido a fins percebidos sensorialmente. Objetiva e teleologicamente ordenada de muitas maneiras à realização de fins que transcendem o domínio dos bens agradáveis individuais (p. ex., à conservação da espécie e à utilidade alheia em geral), a tendência, como “sentida conscientemente” de maneira sensitiva, tem em mira só o prazer individual ou se aparta do desprazer sentido num estado e atividade, contrapondo-se, por exemplo, ao amor altruísta criador.

Inserta no complexo da vida sensitiva entre o conhecimento, o sentimento e as excitações motrizes, a tendência, é a força dinâmica, importante e indispensável, que impele a operar biologicamente de acordo com o fim (ação tendencial). No conjunto do ser humano, uma vida tendencial sã e robusta, quando subordinada ao domínio indireto da vontade movida por fins claros, pode contribuir para a eficácia do querer (paixão); se se subtrai ou antecipa a este domínio, pode conduzir a funestos curtos-circuitos nas ações voluntárias ou nas ações puramente apetitivo-sensitivas. Quer dizer que, enquanto no animal, que encontra seu sentido total na esfera sensitiva, as reações tendenciais estão necessariamente dispostas em ordem dentro deste sentido, no homem, que forma uma totalidade mais elevada, a vida das tendências permanece um tanto afrouxada, capaz e necessitada de direção por parte da vontade espiritual. Pelo contrário, os homens dotados de tendências anormalmente débeis, não são psicologicamente nem eticamente homens de valor no sentido prenhe do termo, mas carecem, não raro, da energia vital impulsionadora, necessária ou útil para a execução dos desejos da vontade. Deficiências fisiológicas inatas ou defeitos psíquicos provenientes da educação podem levar a reações viciosas das energias tendenciais acompanhadas de finalidades errôneas (perversões das tendências).

A direção da força tendencial pela vontade espiritual é só indireta (direção da atenção, estabelecimento de associações e complexos favoráveis etc). Não deve conduzir ao “recalcamento” das energias tendenciais, porque tais tentativas vingam-se por meio de estagnações tendenciais e de sobrecompensações das energias tendenciais. Pelo contrário, equivale a crassa ignorância da humana realidade o ver nas tendências a única energia psíquica que fundamenta e molda a vida inteira da alma (como, p. ex., o fez a psicanálise freudiana com as tendências sexuais) ou o contrapor ao espírito dotada de vontade a vitalidade das tendências como absoluto valor supremo da alma (Klages). — Por conseguinte, a educação das tendências não pode razoavelmente aspirar a sufocá-las, nem a emancipá-las, mas unicamente a ordená-las por uma forma justa dentro do sentido global do ser humano. — Willwoll. [Brugger]


A psicologia de profundidade após os estudos de Ribot, Freud, Adler, Jung, Steckel, Reick e outros, revelou a constância de dois impulsos fundamentais do homem: a) impulso de morte, ou de destruição; b) impulso de vida ou de integração, tendendo para a afirmação, para a conservação do ser. Podemos compreender esses dois impulsos como manifestações de duas ordens energéticas, de duas ordens dinâmicas, que se observam em toda a natureza e que, no ser vivo, tomam aspectos qualitativos diversos dos que se observam nos fatos físicos.

Na filosofia emprega-se termos como tendência, inclinações, propensões, quase sempre como sinônimos. Para muitos a psicologia moderna não tem elementos capazes para formular as significações claras que distinguem os conteúdos desses termos, encontrando-se definições de inclinação como tendência, propensão; e tendência, como inclinação, propensão; e propensão como tendência, inclinação, isto é, definem uns pelos outros, podemos, no entanto, separar algumas significações para esses três termos.

A inclinação é uma tendência, mas consciente; dirige-se para um fim como toda tendência. Mas esta tem um sentido mais potencial, pois é um tender para, é uma possibilidade de realizar-se. Ela é uma consciência dessa tendência e há nela uma forma ativa, de vontade. A propensão é um pender, uma tendência favorável, uma disposição favorável para alguma coisa, da qual se pode ter consciência, mas falta-lhe o aspecto ativo, a vontade. Quando alguém tem tendência para algo, pode ter também para o seu contrário. A inclinação é a propensão levada a um fim, ativa. Assim: tendênciapropensão -inclinação. São esses os três graus de um tender para…

É comum a confusão entre inclinação e instinto, entretanto a distinção é simples: no instinto, há a sugestão imediata de atos ou de sentimentos determinados, mesmo sem consciência de um fim ao qual eles se ligam, se prendem, enquanto a inclinação coloca um fim, de forma mais ou menos consciente, determinado, mas sem a representação dos meios a empregar para atingi-lo. Nossas inclinações são constituídas de tendências primitivas, que são o fundo de nossa natureza, mas também modificadas pelos hábitos adquiridos, pela educação. Todas essas tendências vão acompanhadas de prazer quando favorecidas, e de desprazer e até de dor quando contrariadas. A inclinação é a propensão levada a um fim, portanto é ativa. Classificam-se: a) pessoais ou egoístas – cujo objeto é o bem de quem as experimenta; b) altruístas ou sociais, que tem por objetos outros indivíduos; c) superiores, ideais ou desinteressadas, que tem por objeto realidades superiores (também chamadas de impessoais).

Entre as pessoais temos: as de origem fisiológica: 1) a fome; 2) a sede, cuja satisfação ou não, oferece prazer ou desprazer; 3) a sexual. Estas inclinações, chamadas em geral apetites, sofrem influências psicológicas e atuam sobre o psiquismo. São elas mais ligadas profundamente ao somático, portanto se objetivam, como é característica do funcionamento da sensibilidade. Assim o amor, como apetite sexual, é objetivante. O objeto de sua satisfação é objetivado. No amor afeto já sublimado do sexual, o ser amado não é objeto mas, por ser pessoa, implica uma phronesis, que ultrapassa ao campo meramente do imanente, o campo da ciência e exige um estudo que penetra no terreno da metafísica.

As inclinações altruístas e sociais são, quanto ao objeto, inclinações familiares: o amor distinguido do puramente sexual, como o amor aos pais, aos filhos, etc., o qual segundo os objetivos que o qualificam toma o nome de amor filial, paternal, etc.; a amizade, que para Tomás de Aquino é um amor de benevolência mútua, fundada sobre uma certa comunicação, é um dos temas mais controversos da psicologia. Quem nunca teve um amigo, não acredita nele; quem já os teve, afirma a amizade. Sem reciprocidade não há amizade. Esta pode formar-se entre vários, mas a ideal é entre dois. A camaradagem é um início de amizades sólidas, mas apenas isso. Entre as inclinações sociais temos: o espírito de classe, de grupo, que une fortemente as pessoas e dá-lhes o sentido da solidariedade (solidus, sólido, um bloco só), o sentimento patriótico, o humanitarismo. [MFSDIC]