temperamento

(gr. krasis; lat. temperamentum; in. Temper; fr. Tempérament; al. Tempérament; it. Temperamento).

Disposição do homem a agir de um modo ou de outro segundo a mescla de humores que compõem seu corpo. A teoria do temperamento foi criada pelo pai da medicina, Hipócrates (séc. V a.C), e propagou-se como teoria médica. Hipócrates admitia quatro humores fundamentais: sangue, fleuma (linfa, soro, muco nasal e intestinal, saliva), bile amarela e atrabile ou bile negra (considerada como secreção do pâncreas), correspondentes aos quatro elementos do macrocosmo. Conforme o humor predominante, temos os quatro temperamento fundamentais: sanguíneo, fleumático, bilioso e melancólico ou atrabiliário. (De nat. hom., 4). Encontram-se alusões a essa teoria ou a teorias semelhantes em Platão (O Banq., 188a; Tim., 86B), em Aristóteles (Problem., 30, 1), em Sê-neca (De ira, II, 18 ss.), em Lucrécio (De rer. nat., III, 288 ss.), em Plutarco (Quaest. nat., 26) e em outros, sem ligação com os pressupostos filosóficos de que esses autores partem, como demonstra a sua unânime aceitação. Na Idade Média a teoria dos temperamento também foi propagada por meio da medicina, especialmente árabe (Avicena e Averróis), chegando aos médicos e magos do Renascimento. Paracelso substituiu os humores hipocráticos por seus três elementos (enxofre, sal e mercúrio), na classificação dos temperamentos. Contudo, a noção de temperamento não sofreu modificação até Kant, que, para resumi-la, distinguiu o aspecto fisiológico e o aspecto psicológico do temperamento “Fisiologicamente falando, o temperamento é formado pela constituição física (estrutura forte ou fraca) e pela compleição (fluido posto regularmente em movimento pela força vital, no que se inclui o calor ou o frio produzido na elaboração desses humores). Psicologicamente falando, como temperamento da alma (do poder afetivo e apetitivo), essa expressão, derivada da propriedade do sangue, refere-se à analogia entre os sentimentos e os desejos com as causas físicas e motoras (das quais a principal é o sangue)” (Antr, II, 2). Depois, Kant retomaria a antiga classificação hipocrática dos temperamento, que muitas vezes também teve aceitação na psicologia moderna (p. ex., V. Wundt, Physiologische Psychologie, II4, pp. 519 ss.). Mas na psicologia, essa palavra deixou de ser usada desde o fim do século XTX, sendo substituída por caráter.; que numa das suas acepções significa a estrutura orgânica originária que condiciona as disposições naturais do indivíduo. O uso da palavra caráter marca também a passagem dessa noção do domínio da medicina para o da psicologia e da filosofia. [Abbagnano]


A disposição natural de um indivíduo. — O temperamento, que se relaciona com nossas disposições orgânicas (equipamento endócrino), diferencia-se do caráter, que resulta frequentemente de uma decisão ou de uma formação psicológica (por ex., Santo Inácio era “colérico” por temperamento, mas superava sua violência e foi santo pelo caráter). Assim, o temperamento é hereditário e caracteriza um indivíduo do ponto de vista “constitucional” ou orgânico, enquanto que o caráter é individual e caracteriza o indivíduo do ponto de vista psicológico. Galiano (médico grego, c. de 130 — c. de 200) distingue quatro tipos fundamentais de temperamentos: 1.° o sanguíneo (predominância do sangue); 2.° o fleumático (predominância da linfa); 3.° o melancólico (predominância da atrabílis); 4.° o bilioso (predominância da bile). Ainda que se dê cada vez maior importância às glândulas endócrinas, percebeu-se (Jean Delay, em Os desregramentos do humor) que o temperamento dependia de um regulador central, o “thalamus” (parte do encéfalo situada na base do cérebro). A psicologia interessa-se mais pelo caráter do que pelo temperamento. [Larousse]


Denominamos temperamento a capacidade de resposta, capacidade individual e característica, que possui a disposição para as reações sentimentais e apetitivas de ordem sensitiva. É notório que estas apresentam muitas diferenças individuais; desencadeiam-se com facilidade ou dificuldade, são enérgicas ou débeis, crescem e decrescem com rapidez ou lentidão, são facilmente mudáveis ou persistentes. Assim, desde a Antiguidade distinguem se os quatro conhecidos temperamentos: sanguíneo, colérico, melancólico e fleugmático. Após as classificações e denominações bastante artificiosas da época romântica, os psicólogos modernos elaboraram, de maneira objetiva, quadros minuciosos de temperamentos (Elsenhans e, sobretudo, Heymans e Wiersma). Todavia, a custo se pode obter uma classificação de temperamentos tal que a maioria dos homens possa ser enquadrada, de maneira inequívoca e exclusiva, num ou noutro círculo temperamental determinado, sem mescla alguma de outros temperamentos. Aliás, o vocábulo “temperamento” designa também muitas vezes o complexo das qualidades psíquicas estáveis (Kretschmer).

Como toda a vida sentimental e apetitiva, também o temperamento é da máxima transcendência no conjunto da vida psíquica. Contudo, mais importante do que saber qual seja o temperamento de alguém, é saber o que esse alguém faz com ele. Sem dúvida, o temperamento não se encontra sob o império direto da vontade. Mas esta pode — dentro de certos limites — regular de tal modo as repercussões do temperamento, que este se enquadre, mais ou menos, no sentido global da vida psíquica. A influência indireta sobre as repercussões temperamentais em ordem a obter este fim é tarefa de autodisciplina ao longo da vida e só aproximadamente se alcança. — Willwoll. [Brugger]


De temperar, de modificar alguma coisa por meio de sua mistura com outro. Daí o ato de moderar, de atenuar.

Na psicologia é a natureza afetiva geral de um indivíduo, a qual é determinada pela herança e pelo desenvolvimento histórico de sua vida. Diz-se da soma dos efeitos produzidos sobre a própria vida psíquica pelo metabolismo ou mudanças químicas, pelas quais passa o organismo que modificam o caráter, segundo graus de intensidade e de direção em todas as reações do indivíduo e estímulos e situações específicas. Segundo Hipócrates e Galeno era o produto do predomínio de um dos humores no corpo e dividiam os temperamentos em quatro: sanguíneo (predomínio do sangue); bilioso ou colérico (a bílis); linfático (a linfa) e melancólico ou nervoso. O temperamento é atribuído à influência das glândulas endócrinas. [MFSDIC]