télos: completude, fim, finalidade
1. Embora tivesse antecedentes óbvios na noção heraclítica do fogo celestial que tudo governa (frg. 64) e no uso que Anaxágoras faz do espírito (noûs 3), não aparece no pensamento especulativo grego até Diógenes de Apolônia um sentido claramente definido do objectivo nas operações do kosmos. Neste ponto de vista a arche de todas as coisas é o aer (frg. 4), que é alma (quando aquecido) e inteligência (noûs; frg. 5; cf. noûs 4), e que é divina e governa todas as coisas pelo melhor (frg. 3), este último atributo aparentemente sugerido pelas renovações periódicas na natureza.
2. Sócrates estava extremamente interessado no motivo teleológico; examinara a teoria do noûs de Anaxágoras deste ponto de vista (Fédon 97d) mas achara-a desanimadora: era a mesma velha explicação mecanicista das coisas (ibid. 99a), aquilo que Platão chamaria uma confusão da synaitia com a aitia, e Aristóteles (Metafísica 985a) coincide com esta avaliação da teleologia de Anaxágoras. Mas há bases para pensar que Sócrates encontrou mais alguma satisfação em Diógenes (ver Xenofonte, Mem. I, 4, 5-8). A própria abordagem de Platão é a mesma particularmente no seu interesse pelo mundo visível nos diálogos tardios. No Timeu (47e) há um contraste geral entre as obras produzidas pelo noûs e as que surgiram por necessidade (ananke), e nas Leis (888e) verificamos que estas são identificadas com as obras cegas da natureza (physis) e que aquelas são por desígnio (techne). A psyche inicia o movimento, mas é a sua ligação com o noûs que garante o resultado com finalidade deste movimento (Leis 897b).
3. Há uma mudança radical em Aristóteles: para Platão o noûs era o fator dominante no esquema teleológico; para Aristóteles o noûs opera apenas na esfera humana da techne, desígnio com finalidade, e, na verdade, tudo o que o artesão faz é tentar imitar a physis, que tem a sua própria finalidade (telos) ao mesmo tempo que é uma fonte de movimento (Physica II, 198a, 199b); é, em suma, a «causa final» descrita ibid. II, 194b. A doutrina da teleologia é básica em Aristóteles: aparece nas suas primeiras obras (ver Protréptico, frg. 11) e completa-se na Metafísica. Explica-se em vários lugares que o telos é o Bem (Physica II, 195a; Metafísica 1013b), e na Metafísica 1072b o Bem supremo, e daí a causa final de todo o kosmos ser o Primeiro Motor, o noesis noeseos de 1074b (ver kinoun, noûs).
4. Teofrasto, o discípulo de Aristóteles, teve, ao que parece, algumas dificuldades com a teleologia (Teofrasto, Metafísica IV, 14-15, 27), mas ela nunca perdeu o seu lugar na filosofia, particularmente com o sempre crescente teísmo das Escolas posteriores; neste contexto tornava-se a providência divina (pronoia).
Para o papel de telos na análise aristotélica da mudança, ver ergon, energeia, entelecheia; nas teorias da emanação neoplatônicas, proodos. [FEPeters]