skeptikos

skeptikós (ho) / skeptikos = cético. Latim: scepticus.

Adjetivo: cético, que duvida; substantivo: o cético, membro de uma escola filosófica criada por Pírron de Elida (365-275 a.O), que baseava seu sistema na dúvida.

O ceticismo, sistema dos céticos, é uma palavra que data do século XVIII. Mas o próprio sistema e a escola que o adotou foram constituídos no século IV a.C; seus adeptos diziam-se skeptikoí, partidários da dúvida, mais exatamente da dúvida absoluta e universal, em oposição aos dogmáticos, que professam a certeza da verdade. Essa designação vem do verbo sképtomai, no sentido lato: considerar, inspecionar, refletir; esse verbo deriva de skopô, com o mesmo sentido. Entre os substantivos compostos: epískopos, inspetor e, depois, bispo.

Diógenes Laércio escreve (IX, 74): “Os filósofos céticos tinham o costume de destruir as doutrinas das outras escolas, mas não estabeleciam nenhuma.” Assim, empregavam os recursos da razão para negar o poder da razão. Pírron parece não ter escrito nada, mas simplesmente transmitido suas teorias aos discípulos; destes, os mais célebres foram Tímon (Sobre as imagens, Sobre as sensações) e Enesidemo (Sobre Pírron, Contra a sabedoria). Dessas obras, restam apenas fragmentos. Por outro lado, ainda temos a obra de um dos últimos adeptos, Sexto Empírico, que expõe sistematicamente, no século III de nossa era, a doutrina da seita em duas grandes obras: Contra os matemáticos, ou seja, aqueles que ensinam (v. máthema / mathema), em onze livros; e Hipotiposes pirronianas: a hypotyposis era uma imagem, um esboço, uma descrição. E uma exposição hábil do ensinamento de Pírron e de seus discípulos, bem como uma contribuição importante para o conhecimento de todas as doutrinas que ele chama de dogmáticas e tenta demolir. [Gobry]


Ceticismo” é um desses termos filosóficos que se incorporaram à linguagem comum e que, portanto, todos julgamos saber o que significa. Ao examinarmos a tradição cética vemos, no entanto, que não há um ceticismo, mas várias concepções diferentes de ceticismo, e mesmo o que podemos considerar a “tradição cética” não se constituiu linearmente a partir de um momento inaugural ou da figura de um grande mestre, mas se trata muito mais de uma tradição reconstruída.

Um bom ponto de partida para tentar uma caracterização dessa distinção acerca dos vários sentidos de “ceticismo” é o texto do próprio Sexto Empírico, nossa principal fonte de conhecimento do ceticismo antigo. Em suas Hipotiposes pirrônicas (doravante H.P.), logo no capítulo de abertura (I, 1), é dito que: “O resultado natural de qualquer investigação é que aquele que investiga ou bem encontra o objeto de sua busca, ou bem nega que seja encontrável e confessa ser ele inapreensível, ou, ainda, persiste na sua busca. O mesmo ocorre com os objetos investigados pela filosofia, e é provavelmente por isso que alguns afirmaram ter descoberto a verdade; outros, que a verdade não pode ser apreendida, enquanto outros continuam buscando. Aqueles que afirmam ter descoberto a verdade são os ‘dogmáticos’, assim são chamados especialmente Aristóteles, p. ex., Epicuro, os estoicos e alguns outros. Clitômaco, Carnéades e outros acadêmicos consideram a verdade inapreensível, e os céticos continuam buscando. Portanto, parece razoável manter que há três tipos de filosofia: a dogmática, a acadêmica e a cética.”

Desta forma, segundo a interpretação de Sexto, há uma diferença fundamental entre a Academia de Clitômaco e Carnéades e o ceticismo. O ponto fundamental de divergência parece ser que, enquanto os acadêmicos afirmam ser impossível encontrar a verdade, os céticos, por assim dizer “autênticos”, seguem buscando. Aliás, o termo skepsis significa literalmente investigação, indagação. Ou seja, a afirmação de que a verdade seria inapreensível já não caracterizaria mais uma posição cética, mas sim uma forma de dogmatismo negativo. A posição cética, ao contrário, caracterizar-se-ia pela suspensão de juízo (époche) quanto à possibilidade ou não de algo ser verdadeiro ou falso. É nisso que consiste o ceticismo efético, ou suspensivo, que Sexto (H.P. I, 7) considera o único a merecer o nome de “ceticismo”, e que seria proveniente da filosofia de Pirro de Élis. Daí a reivindicação da equivalência entre ceticismo e pirronismo. Sexto relata que os céticos denominavam-se pirrônicos porque Pirro “parece ter se dedicado ao ceticismo de forma mais completa e explícita que seus predecessores” (H.P., I, 7).

Examinando-se a formação do ceticismo antigo é possível distinguir:

1) O protoceticismo: uma fase inicial em que podemos identificar temas e tendências céticas já na filosofia dos pré-socráticos (séc. VI a.C.). É a esses filósofos que Aristóteles se refere no livro Γ da Metafísica.

2) O ceticismo inaugurado por Pirro de Élis (360-270 a.C.), cujo pensamento conhecemos por meio de fragmentos de seu discípulo Tímon de Flios (325-235 a.C.).

3) O ceticismo acadêmico, correspondendo à fase cética da Academia de Platão iniciada por Arcesilau (por vezes conhecida como Média Academia) a partir de 270 a.C., vigorando até Carnéades (219-129 a.C.) e Clitômaco (175-110 a.C.), a assim chamada Nova Academia. (A distinção entre Média e Nova Academia, encontrada na Antiguidade, não é mais comumente aceita pelos modernos historiadores.) Com Fílon de Larissa (c. 110 a.C.) a Academia abandona progressivamente o ceticismo (4a Academia). Conhecemos essa doutrina sobretudo a partir do diálogo Acadêmica (priora et posteriora) de Cícero (c. 55 a.C.).

4) O pirronismo ou ceticismo pirrônico: Enesidemo de Cnossos (séc. I a.C.), possivelmente um discípulo da Academia no período de Fílon, procura reviver o ceticismo buscando inspiração em Pirro e dando origem ao que ficou conhecido como ceticismo pirrônico, cujo pensamento nos foi transmitido basicamente pela obra de Sexto Empírico (séc. II d.C.), consistindo de Hipotiposes pirrônicas e Contra os matemáticos. [Danilo Marcondes]