ressurreição

O desenvolvimento do germe espiritual pressupõe que o ser não saia de seu estado individual e do meio cósmico em que se encontra, do mesmo modo que apenas ao sair do corpo da baleia Jonas “ressuscita”. E se for lembrado o que escrevemos antes, pode-se compreender sem dificuldade que essa saída é a mesma que se faz da caverna iniciática, cuja concavidade é também representada pela semicircunferência de nun. O “novo nascimento” supõe necessariamente a morte do antigo estado, quer se trate de um indivíduo ou de um mundo. Morte e nascimento, ou ressurreição, são dois aspectos inseparáveis, pois nada mais são, em realidade, que as duas faces opostas da mesma mudança de estado. A letra nun, no alfabeto, segue imediatamente o mim, que tem a morte (el-mawt) entre as suas principais significações, e cuja forma representa o ser dobrado por completo sobre si mesmo, reduzido de certo modo a mera virtualidade, a que corresponde ritualmente a atitude de prosternação. (Guénon)


Convém assinalar que o simbolismo da baleia não tem apenas aspecto “benéfico”, mas também aspecto “maléfico”, o que, além das considerações de ordem geral sobre o duplo sentido dos símbolos, justifica-se ainda de modo muito particular por sua conexão com as formas da morte e da ressurreição sob as quais aparece toda mudança de estado, segundo seja considerada por um ou outro ângulo, isto é, ou em relação ao estado antecedente ou em relação ao estado consequente. A caverna é ao mesmo tempo um lugar de sepultura e de “renascimento”, e, na história de Jonas, a baleia desempenha precisamente esse duplo papel. Não poderíamos também dizer que o próprio Matsya-avatara apresenta-se de início sob aparência nefasta, como anunciador de um cataclismo, antes de se tornar o “salvador” desse mesmo cataclismo? Por outro lado, o aspecto “maléfico” da baleia aparenta-se de forma clara com o Leviatã hebraico; mas encontra-se representatado, na tradição árabe, pelas “filhas da baleia” (benat el-Hut) que, do ponto de vista astrológico, equivalem a Rahn e Ketu na tradição hindu, em especial no que diz respeito aos eclipses, e que, é dito, “beberão o mar” no último dia do ciclo, dia em que “os astros nascerão no Ocidente e terão seu ocaso no Oriente”. (Guénon)