42. Mas, como já tivemos a oportunidade de escrever, a «subjetividade irredutível» é um minúsculo círculo, que tende a restringir-se ao centro, por rejeição de todas as características pessoais conscientizadas, isto é, «objetivadas». Num processo lento e difícil, atingir-se-ia o centro, que, por ser ponto, e porque um ponto não tem dimensões, significaria a morte por exaustão de tudo quanto de mim se tornou «objeto», condicionado por ela, que é forma prévia a toda a objetivação. Essa morte, que o é, por despersonificação, por isso mesmo é êxtase, rejeição do «mim mesmo», à beira de cada um dos três horizontes: primeiro, o do «objetivo-coisístico», depois, o do trans-objetivo simbólico e, por fim, o da Excessividade Caótica do Ser ou da Existência existencializante. Quem não renuncie a si mesmo, não morre; só acaba, e acaba, sem querer, por já não ter o que teve e sempre quis ter. Não há, todavia, mesmo entre os mais capazes de renúncia à personalidade que se constitui em ávido anseio de poder e de posse, renúncia a uma inflação desmedida, por glutona cupidez de se sobrenutrir de bens que só possuía por empréstimo ou delegação — mesmo entre os mais capazes de renúncia, ainda há os que se não resignam a totalmente se perderem no Outro. A esses, poderíamos dirigir estas palavras consoladoras: talvez se dê o caso de, para o seio do Real Absoluto ou como quer que a Deus se chame, ou como quer que Ele consinta chamar-se, levarmos a nossa subjetividade irredutível, diversamente, distintamente, individualmente envolta do que nunca passou o liminar da consciência, envolta do que nunca pôde ser «objeto». E que, para além da Lonjura e do Outrora, indimensionais dimensões do trans-objetivo, as sementes diversas, do que não podia vegetar no solo da desesperança e da infidelidade, venham a brotar diversamente. [EudoroMito:129]