puro

a) Diz-se do que não tem mácula, nem mistura, nem corpo estranho, do que é homogêneo. Kant usa puro (rein) no sentido do que não depende da experiência. Em sentido moral opõe-se a impuro. Purificar, pois, é tornar puro. Surge na filosofia em termos como: purificação, ação e efeito de purificar, que pode ser tomado no sentido de catarse (vide), ou teologicamente no sentido de retirar todas as máculas que possam viciar, alterar, ou turvar a pureza de uma alma.

A expressão purificação das paixões corresponde à catarse, mas acrescentada da expulsão dos aspectos que perturbam as paixões para alcançar a sua pureza afetiva por sublimações. [MFSDIC]


(in. Pure; fr. Pur; al. Rein; it. Puro).

O que não está misturado com coisas de outra natureza, ou, com mais exatidão, o que é constituído de modo rigorosamente conforme à própria definição. Esta segunda definição explica o enorme uso que os filósofos fazem desse adjetivo, porquanto, depois de definirem um objeto, muitas vezes se acham na obrigação de distinguir as condições em que o objeto se apresenta rigorosamente em conformidade com sua definição, das condições em que dela se afasta em alguma medida: nas primeiras condições, o objeto é chamado de puro Anaxágoras dizia que o intelecto é puro porque só ele, “entre todos os entes, é simples e sem mistura” (Aristóteles, Da Alma, 405 a 16). Platão falava em prazer “puro”, sem mistura de dor Crátilo, 51 a, 52 c). Descartes falava da matemática “pura” (Méd., VI); Leibniz, da “pura” razão (Op., ed. Erdmann, pp. 229-230, etc), assim como Wolff (Psychol. empírica, 495). O primeiro motor de Aristóteles foi chamado de “Ato puro” por ser atividade perfeita, desprovida de potência, mas essa expressão não é aristotélica (cir. Metafísica, XII, 6, 1071 b 22; 8, 1074 a 36).

2. Kant chamou de puro, ou “absolutamente puro”, o conhecimento “no qual, em geral, não se misture nenhuma experiência ou sensação, sendo por isso possível completamente a priori” (Crítica da Razão Pura, Intr., § VII). Neste sentido, razão pura “é a que contém os princípios para conhecer algo absolutamente a priori”. Ciência da razão pura é uma crítica, e não uma doutrina, porquanto não pode proporcionar um sistema acabado da razão pura, mas pode apenas ter função negativa, “servindo para purificar, e não para ampliar, a nossa razão, libertando-a dos erros” (Ibid.). Neste sentido, o oposto de puro é empírico. Esse adjetivo foi usado no mesmo sentido por Fichte, que disse ser puro o Eu absoluto (ou a sua atividade), por ser diferente do eu empiricamente condicionado e porque sua atividade prescinde completamente da experiência (Wissenschaftslehre, 1794, III, § 5, II). Este uso foi constante no idealismo de inspiração romântica. Gentile chamou o pensamento pensante de ato puro por ser independente de condições ou de conteúdo empírico (Teoria generale dello spirito come atto puro, 1920).

3. Na linguagem comum, chama-se puro uma ciência ou uma disciplina tratada teoricamente, sem consideração de suas possíveis aplicações; neste caso, puro é o contrário de aplicado. Hamilton já anotava a impropriedade desse uso (Lectures on Logic, I, 1866, p. 62). [Abbagnano]