O esforço para constituir uma comunidade espiritual com outras pessoas tem suas raízes psicológicas, por um lado, na plenitude ontológica da pessoa que, superando seus próprios limites, se dá a si mesma e, por outro lado, em sua pobreza que necessita de complementação. Sem dúvida alguma, na comunidade a pessoa, com o seu dar e receber, com seus direitos e deveres, comporta-se, do ponto de vista particular da complementação comunitária, como se fosse “membro” de um organismo, mantendo, não obstante, sua inalienável substantividade, sua dignidade e os direitos que lhe são inerentes. Compete à psicologia social a tarefa de inquirir as bases e forças formativas psíquicas da comunidade humana de vida (em sentido muito amplo, também da animal), o que há de psicológico em suas formas estruturais e em sua repercussão sobre a vida psíquica individual. O fato evidente, sublinhado já na Antiguidade, de que o homem é um ser social, põe, em primeiro lugar, os problemas da compreensão da “alma alheia” ou do “eu alheio”, dos meios de compreensão inter-anímicos e do impulso para o contato social. — A compreensão da vida psíquica alheia, em sua existência e peculiaridade, reduzem-na uns predominantemente a disposições instintivas; outros a uma “simpatia” (ou “intropatia”), a uma penetração da própria vida consciente noutros homens para se identificar com eles; outros, enfim (Scheler), a uma espécie de intuição imediata do psíquico alheio fundada numa originária unidade de ser. Contudo, essa compreensão não pode ser aclarada exaustivamente, por nenhuma explicação unilateral, mas requer a síntese de várias formas explicativas. O meio para a comunicação de alma com alma é a linguagem, mas tomada em sentido muito amplo. Assim compreendida, abarca não só as funções primitivas (comuns ao homem-e ao animal) de “manifestação” das vivências próprias inerentes à natureza e de “provocação” de vivências por meio de formas manifestativas do viver alheio [linguagem pré-lógica), mas também a função intelectual exclusiva do homem (construída sobre aquelas e tomando-as parcialmente a seu serviço) de “representação de objetos”, mediante um sistema de sinais e de símbolos estabelecidos arbitrariamente (psicologia da linguagem de K. Buhler).
A inclinação social humana inclui, outrossim, como a linguagem humana, o instintivo e o espiritual. A riqueza dos instintos sociais encerra, entre outras coisas, o impulso para estar junto com os congêneres para “compreender-se” instintivamente (função pré-lógica de comunicação e de provocação das “linguagens” pré-lógicas), para a conduta negativo–social no ataque e na fuga, para a união de reações positivas e negativas no contato sexual, e, por fim, para o jogo em comum. A conduta social espiritual, como tal, põe o ser espiritual-pessoal do homem em relação com o ser pessoal alheio como portador de valores. Manifesta principalmente dois aspectos que se completam e em certo sentido se exigem: o respeito, que mantém distância ante o valor pessoal alheio, estima-o e não o ofende, e o amor que, pela imitação, pela doação criadora e pelo impulso a “tornar-se nós”, aspira a esse valor alheio. Os vários graus e espécies de “disposição social” psíquica, as diferenças típicas de orientação para o objeto, a maior ou menor totalidade e força atrativa da conduta social (afinidade social, Hellpach) dependem das situações individuais mutáveis e das particularidades típicas da vida psíquica.
Entre as formas estruturais dos “produtos de comunidade psíquica” podemos distinguir, com Hellpach, as estruturas de geração, de regulamento e de aglomeração, isto é, o organismo social (como a família), a organização e o mero agregado. Consoante predominem entre os fatores psíquicos aglutinantes dirigidos à constituição de formações sociais, os modos de proceder puramente instintivos ou os espirituais podemos distinguir a massa e a comunidade autêntica. As formas primitivas de comunidade humana são a amizade e o matrimônio, das quais nasce a família e, partindo desta, se originam as comunidades mais amplas: a parentela, a classe profissional a tribo e o povo.
A base ontológica da tendência psíquica para a comunidade não é nenhuma misteriosa “alma supra-individual” ou um ser–uno originário de uma corrente consciencial única que flui através de todos os indivíduos, mas é, por um lado, o entrosamento do psíquico com as conexões vitais biológicas e, por outro lado, a riqueza do espírito pessoal que impele à auto-combinação, tendência esta com a qual corre paralela uma correlativa necessidade de complementação por parte da alma alheia. — Willwoll. [Brugger]