O sofista mais famoso e celebrado foi Protágoras, nascido em Abdera na década entre 491 e 481 a.C. e que morreu por volta de fins do século. Viajou por toda a Grécia e esteve em Atenas várias vezes, onde alcançou um grande sucesso. Também foi muito apreciado pelos políticos (Péricles confiou-lhe a tarefa de preparar a legislação para a nova colônia de Turi em 444 a,C). As Antilogias constituem a sua principal obra, da qual nos chegaram apenas testemunhos.
A proposta basilar do pensamento de Protágoras era o axioma “o homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são” (princípio do homo mensura). Por “medida”, Protágoras entendia a “norma de juízo”, enquanto por “todas as coisas” entendia todos os fatos e todas as experiências em geral. Tornando-se muito célebre, o axioma foi considerado — e efetivamente é — quase a magna carta do relativismo ocidental. Com efeito, com esse princípio, Protágoras pretendia negar a existência de um critério absoluto que discrimine ser e não–ser, verdadeiro e falso. O único critério é somente o homem, o homem individual: “Tal como cada coisa aparece para mim, tal ela é para mim; tal como aparece para ti, tal é para ti.” Este vento que está soprando, por exemplo, é frio ou quente? Segundo o critério de Protágoras, a resposta é a seguinte: “Para quem está com frio, é frio; para quem não está, não é.” Então, sendo assim, ninguém está no erro, mas todos estão com a verdade (a sua verdade).
O relativismo expresso no princípio do homem–medida iria encontrar um aprofundamento adequado na obra mencionada, As Antilogias, que demonstra que “em torno de cada coisa há dois raciocínios que se contrapõem”, isto é, que em torno de cada coisa é possível dizer e contradizer, ou seja, que é possível apresentar razões que se anulam reciprocamente. E esse, precisamente, iria ser o nó górdio do ensinamento de Protágoras: “Trata-se de ensinar a criticar e discutir, a organizar um torneio de razões contra razões” (L. Robin).
Registra-se também que Protágoras ensinava “a tornar mais forte o mais fraco argumento”. O que não quer dizer que Protágoras ensinasse a injustiça e a iniquidade contra a justiça e a retidão, mas, simplesmente, que ele ensinava os modos como, técnica e metodologicamente, era possível sustentar e levar à vitória o argumento que, em determinadas circunstâncias, podia ser o mais fraco na discussão (qualquer que fosse o conteúdo do objeto).
A “virtude” que Protágoras ensinava era exatamente essa “habilidade” de saber fazer prevalecer qualquer ponto de vista sobre a opinião oposta. E o sucesso dos seus ensinamentos deriva do fato de que, fortalecidos com essa habilidade, os jovens consideravam que poderiam fazer carreira nas assembleias públicas, nos tribunais, na vida pública em geral.
Para Protágoras, portanto, tudo é relativo: não existe um “verdadeiro” absoluto e também não existem valores morais absolutos (“bens”absolutos). Existe, entretanto, algo que é mais útil, mais conveniente e, portanto, mais oportuno. O sábio é aquele que conhece esse relativo mais útil, mais conveniente e mais oportuno, sabendo convencer também os outros a reconhecê-lo e pô-lo em prática.
Sendo assim, porém, o relativismo de Protágoras recebe uma forte limitação. Com efeito, pareceria assim que, enquanto é medida e mensurador em relação à verdade e à falsidade, o homem torna-se medido em relação à utilidade, ou seja, que, de alguma forma, a utilidade venha a se apresentar como objetiva. Em suma: pareceria que, para Protágoras, o bem e o mal seriam, respectivamente, o útil e o danoso; e o “melhor” e o “pior” seriam o “mais útil” e o “mais danoso”.
Protágoras não percebeu nenhum contraste entre o seu relativismo e o seu pragmatismo baseado na utilidade, pela razão de que, ao nível empírico, o útil aparece sempre e somente no contexto de correlações, a ponto de não parecer possível determiná-lo a não ser determinado, ao mesmo tempo, o sujeito ao qual o útil se refere, o objetivo para o qual é útil, as circunstancias nas quais é útil e assim por diante. Em resumo, segundo Protágoras, o útil se apresentava como um conceito relativo. Assim, ele não se sentia incomodado ao afirmar que sua sabedoria consistia em saber reconhecer aquilo que é nocivo e útil à convivência ético-política dos homens e em saber demonstrar isso também para os outros, convencendo-os nesse sentido. Entretanto, com base em tudo o que nos foi legado de sua teoria, está claro que Protágoras não soube dizer em que bases e com que fundamentos o sofista podé reconhecer tal “útil” sociopolítico. Para fazê-lo, ele precisaria ter escavado mais profundamente na essência do homem, para determinar sua natureza. Mas, historicamente, essa tarefa iria caber a Sócrates.
Por fim, sabemos que Protágoras disse: “No que se refere aos deuses, eu não tenho possibilidades de afirmar que existem ou que não existem.” Com base no seu método “antilógico”, ele teria que demonstrar tanto os argumentos em favor da existência dos deuses como os contrários. O que não significa que ele foi um ateu, como alguns concluíram ainda na Antiguidade, mas apenas que foi um agnóstico do ponto de vista racional (embora, do ponto de vista prático, parece que ele tinha posicionamento positivo em relação aos deuses). [Reale]