próprio

(gr. idion; lat. proprium; in. Proper; fr. Propre; al. Eigen; it. Próprio).

1. Uma determinação que pertence a toda uma classe de objetos, pertencendo sempre e somente a essa classe, mesmo que não faça parte de sua definição. Este é o sentido fundamental do termo, da maneira como foi esclarecido por Aristóteles (Top., I, 5, 102 a 18) e passou a fazer parte da tradição lógica (cf. Arnauld, Log., I, 7; Jungius, Logica hamburgensis, I, I, 33). Neste sentido, o próprio, apesar de não fazer parte da essência substancial de uma coisa, está estritamente conexo a essa essência ou deriva dela de algum modo. O exemplo aduzido por Aristóteles é o do aprendizado da gramática: esta determinação é próprio do homem, no sentido de que quem é capaz de aprender gramática é homem, e é homem quem é capaz de aprender gramática: as duas determinações “homem” e “capaz de aprender gramática” são reciprocáveis. Neste sentido, o próprio é uma determinação privilegiada que está entre a essência e as determinações acidentais.

2. No entanto, mesmo Aristóteles chama de próprias também as determinações acidentais ao fazer a distinção entre próprio por si, “que é estabelecido com relação a todos os objetos e separa o objeto em questão de qualquer outro (como no caso de ser próprio do homem ser um animal mortal que pode receber o saber)” e o próprio em relação a outra coisa, “que distingue o objeto apenas de algum objeto dado e não de qualquer outro objeto” (Top., V, 1, 128 b 34). O “próprio por si” é o próprio no sentido estrito, ou seja, a determinação sempre que pertence a todo o objeto dado, e somente a ele, enquanto o próprio “em relação a outra coisa” foi distinguido por Porfírio (com base nas mesmas considerações de Aristóteles) em outras três determinações: 1) aquilo que pertence a uma única espécie, mas não a todos os indivíduos da espécie (neste sentido ser filósofo é próprio do homem); 2) aquilo que pertence a todos os indivíduos de uma espécie, mas não a uma única espécie (ser bípede é próprio do homem); 3) aquilo que pertence a todos os indivíduos de uma única espécie, mas nem sempre (neste sentido, encanecer é próprio do homem). Porfírio enumerava como quarto significado o mais restrito (Isag., 12, 12 ss.). Os quatro significados de Porfírio foram habitualmente reproduzidos pela lógica medieval (cf., p. ex., Pedro Hispano, Summ. log., 2, 13), mas a partir da Lógica de Arnauld (I, 7), mesmo mencionando-se as quatro distinções de Porfírio, preferiu-se limitar o conceito de próprio ao mais restrito. Na realidade, em seu significado lato, o conceito de próprio pode incluir qualquer determinação, atribuída a qualquer título a um objeto, perdendo, assim, característica ou utilidade específica. Seja como for, a noção está estritamente ligada à da lógica aristotélica e à sua estreita vinculação com a teoria da substância, sendo por isso abandonada pela lógica contemporânea. [Abbagnano]