próödos: avanço, processão
1. Nos seus termos mais gerais a «processão» é a tentativa do platonismo tardio para resolver as dificuldades parmenidianas da unidade e da pluralidade. Se o Uno (hen) é, e é transcendente (ver hyperousia), donde a subsequente pluralidade do kosmos? Plotino, qus enfrenta o problema a vários níveis (v. g. a unidade e a pluralidade da alma nas Eneadas IV, 3, 2-6; ver psyche), reporta-se frequentemente a explicações metafóricas e particularmente à figura do sol e aos seus raios (ver eklampsis). Mas a base metafísica da solução para o problema «Se um, porquê muitos?» assenta na natureza do Uno e, particularmente, na sua perfeição (telos; Eneadas V, 4) e na identificação da causa eficiente e final (ver Timeu 29e e confrontar Eneadas IV, 8, 6; V, 4, 1; daí o posterior bonum est diffusivum sui).
2. Isto proporciona os elementos para a derivação mais sistemática que Proclo faz das hypostases. Começa (Elem. theol., prop. 21) por citar um paralelismo matemático das séries geradas a partir da monas. Para Proclo esta é uma figura melhor do que a eklampsis visto que permite o transito em ambas as direções nas séries, possibilitando assim o importante correlato ético da processão, «retorno» (epistrophe).
3. Segue-se (props. 25-30) uma descrição do próprio proodos. Todos os seres completos ou perfeitos (teleion) geram (props. 25, 27; confrontar Eneadas V, 1, 6), mas a causa permanece não-diminuída e imóvel (menon; prop. 26), como já tinha sido de fato compreendido por Platão (Timeu 42e). Este princípio, destinado a salvaguardar a integridade e a transcendência da arche, é um lugar-comum em Plotino (ver Eneadas V, 1, 6; V, 2, 1) e salienta-se particularmente com a introdução de um Deus-Criador nos sistemas (ver Agostinho, Conf. I, 3). O efeito é semelhante (homoios) à causa (prop. 29) e assim o efeito tanto está presente na causa como procede dela (prop. 30; ver Eneadas V, 5, 9). Assim, há uma tríade de três «momentos»: cada efeito (aitiaton) permanece (menon) na sua causa, procede (proodos) dela, e regressa a ela (epistrophe; prop. 35) qua bem (ver Proclo, Theol. Plat. II, 95).
4. As aplicações destes princípios são imensas. O princípio da semelhança, aqui expresso na sua processão de saída, será aplicado na epistrophe oposta (prop. 32) e fornecerá assim um meio tanto para a ascensão moral da alma até à sua fonte (para uma visão ética da sua «queda», ver kathodos), como para as bases epistemológicas da abordagem cognitiva de Deus (ver Eneadas I, 8, 1 e agnostos; para o princípio da semelhança no contexto mais vasto da cognição ver homoios, aisthesis). Dá, além disso, uma visão de todo o kosmos, tanto nos seus aspectos sensíveis como nos inteligíveis, como um magnífico organismo (holon) com as suas partes ligadas numa relação de compatibilidade (sympatheia) e descendendo, numa cadeia ininterrupta de seres análogos, de uma arche comum.
Para a posição do proodos num contexto ontológico mais geral, ver trias. (FEPeters)
PROODOS = PROCESSÃO, MARCHA DO NÃO-CRIADO ÀS ENERGIAS PARTICIPÁVEIS
Versão francesa
Caminho do não-criado (ageneton), da essência inacessível até as energias participáveis.
Nos seus termos mais gerais a “progressão” é a tentativa do platonismo tardio para resolver as dificuldades parmenidianas da unidade e da pluralidade. Se o Uno (hen) é transcendente (hyperousia), donde a subsequente pluralidade do cosmos.
Segundo Christophe Andruzac, a Sabedoria hindu distingue no seio do divino um polo determinativo de um polo receptivo. É certamente no polo receptivo que reside o Si: rejuntar-se a seu Si significa rejuntar-se ao polo de acolhida, o polo receptivo — é o Verbo Divino. Este par Brahma–Shakti Receptividade-Determinidade não deixa de lembrar de certa maneira a divisão potência–ato; dela constituirá de alguma forma o analogado supremo. O par Prakriti–Purusha será então como (sublinhamos com itálico) a primeira e a mais universal processão divina ad extra, processão que não se termina nem ao mesmo grau principial do divino (se trataria de uma processão ad intra) nem em um ser qualquer do mundo manifestado, mas no princípio mesmo de toda Manifestação.
Ananda Coomaraswamy: PROCESSÃO
Filosofia
Plotino: ENÉADA IV 8 (6) 6 — PROCESSÃO
LÉXICOS: TRADIÇÃO FILOSÓFICA GREGA
próödos: avanço, processão
1. Nos seus termos mais gerais a «processão» é a tentativa do platonismo tardio para resolver as dificuldades parmenidianas da unidade e da pluralidade. Se o Uno (hen) é, e é transcendente (ver hyperousia), donde a subsequente pluralidade do kosmos? Plotino, qus enfrenta o problema a vários níveis (v. g. a unidade e a pluralidade da alma nas Eneadas IV, 3, 2-6; ver psyche), reporta-se frequentemente a explicações metafóricas e particularmente à figura do sol e aos seus raios (ver eklampsis). Mas a base metafísica da solução para o problema «Se um, porquê muitos?» assenta na natureza do Uno e, particularmente, na sua perfeição (telos; Eneadas V, 4) e na identificação da causa eficiente e final (ver Timeu 29e e confrontar Eneadas IV, 8, 6; V, 4, 1; daí o posterior bonum est diffusivum sui).
2. Isto proporciona os elementos para a derivação mais sistemática que Proclo faz das hypostases. Começa (Elem. theol., prop. 21) por citar um paralelismo matemático das séries geradas a partir da monas. Para Proclo esta é uma figura melhor do que a eklampsis visto que permite o transito em ambas as direções nas séries, possibilitando assim o importante correlato ético da processão, «retorno» (epistrophe).
3. Segue-se (props. 25-30) uma descrição do próprio proodos. Todos os seres completos ou perfeitos (teleion) geram (props. 25, 27; confrontar Eneadas V, 1, 6), mas a causa permanece não-diminuída e imóvel (menon; prop. 26), como já tinha sido de fato compreendido por Platão (Timeu 42e). Este princípio, destinado a salvaguardar a integridade e a transcendência da arche, é um lugar-comum em Plotino (ver Eneadas V, 1, 6; V, 2, 1) e salienta-se particularmente com a introdução de um Deus-Criador nos sistemas (ver Agostinho, Conf. I, 3). O efeito é semelhante (homoios) à causa (prop. 29) e assim o efeito tanto está presente na causa como procede dela (prop. 30; ver Eneadas V, 5, 9). Assim, há uma tríade de três «momentos»: cada efeito (aitiaton) permanece (menon) na sua causa, procede (proodos) dela, e regressa a ela (epistrophe; prop. 35) qua bem (ver Proclo, Theol. Plat. II, 95).
4. As aplicações destes princípios são imensas. O princípio da semelhança, aqui expresso na sua processão de saída, será aplicado na epistrophe oposta (prop. 32) e fornecerá assim um meio tanto para a ascensão moral da alma até à sua fonte (para uma visão ética da sua «queda», ver kathodos), como para as bases epistemológicas da abordagem cognitiva de Deus (ver Eneadas I, 8, 1 e agnostos; para o princípio da semelhança no contexto mais vasto da cognição ver homoios, aisthesis). Dá, além disso, uma visão de todo o kosmos, tanto nos seus aspectos sensíveis como nos inteligíveis, como um magnífico organismo (holon) com as suas partes ligadas numa relação de compatibilidade (sympatheia) e descendendo, numa cadeia ininterrupta de seres análogos, de uma arche comum.
Para a posição do proodos num contexto ontológico mais geral, ver trias. (FEPeters)